Doses maiores

27 de junho de 2020

Modernos métodos gerenciais têm raízes nazistas

“Livres para obedecer” é o mais recente livro do historiador francês Johann Chapoutot. Ainda sem tradução para o português, a obra mostra como o moderno gerencialismo empresarial foi fortemente influenciado por alguns teóricos leais a Hitler.

Segundo Chapoutot, o nazismo parece ter sido o mais opressivo regime que já existiu. E realmente o foi para as centenas de milhares de pessoas que foram suas vítimas por razões "políticas" ou "raciais". Mas esse mesmo sistema de dominação encorajou e financiou a criação de um novo modo de organização administrativa não autoritária.

Nesse modelo, a autonomia do trabalhador era prioridade: ele devia ser livre para escolher os meios, ainda que jamais para definir os objetivos. Entre estes estava, claro, a eliminação eficiente e rápida dos que eram considerados inimigos do regime, como judeus, comunistas, homossexuais, etc.

Reinhard Höhn foi um jurista respeitado e general da SS. Mas seu passado nazista foi ignorado quando ele fundou a escola Bad Harzburg, em 1956, na Alemanha Ocidental. Nela, ele continuou a utilizar o mesmo modelo administrativo que criou para o 3º Reich. Só que, agora, voltado para as empresas privadas.

Mais de 700 mil gerentes foram treinados por Höhn e sua equipe entre a criação da escola e o ano de sua morte, em 2000. Seu método de gestão era hierárquico sem ser autoritário. Oferecia aos "colaboradores" a possibilidade de gozar de plena liberdade para ser bem sucedido. Mas somente para realizar o que foi decidido de cima para baixo.

É por isso que muita gente afirma que o nazismo perdeu a guerra apenas militarmente, não ideologicamente. Voltaremos a esse livro.

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