Em seu livro “Melancolia de esquerda”, Enzo Traverso explica que essa melancolia não decorre de uma excessiva nostalgia do socialismo real ou de outras formas naufragadas de stalinismo. Ela implica memória e consciência do potencial do passado: uma fidelidade às promessas emancipatórias da revolução, não a suas consequências.
É uma identificação com o comunismo como foi sonhado e esperado, não como foi alcançado. Traverso lembra o escritor inglês Raymond Williams, para quem tragédia e revolução são mutuamente excludentes. Por sua visão determinista da história, o socialismo não admitia a tragédia.
A dialética marxista da derrota frequentemente assumiu a forma de uma teodiceia secular: pode-se extrair o bem do mal. A vitória final resultaria de uma série subsequente de derrotas.
Um dos teóricos destacados pelo autor foi Ernst Bloch. Ele concebeu o marxismo como uma "consciência antecipatória" que transformou o sonho de emancipação, presença constante nas sociedades humanas, em uma visão filosófica do futuro.
O autor lembra que Pascal imaginou a existência de Deus como uma aposta. Já o filósofo materialista Lucien Goldmann defendeu a esperança de um futuro comunista como uma aposta secular, nem mística nem religiosa, mas enraizada em uma ideia de comunidade.
Em seu livro “Deus Oculto”, Goldmann escreve:
A fé marxista é uma fé no futuro
histórico construída pelos homens, ou, mais exatamente, uma aposta no sucesso
das ações que devemos construir com nossa atividade. A transcendência que
constitui o objeto desta fé não é mais sobrenatural ou supra-histórica, mas
supra-individual. Nada mais, nada menos.
Sim. Mas nada mais, nada menos já é muito.
Aposta mantida, continuaremos na próxima pílula.
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