A história do socialismo é uma constelação de derrotas que ocorreram continuamente por quase dois séculos. Mas, em vez de destruir suas ideias e aspirações, essas derrotas traumáticas, trágicas e muitas vezes sangrentas, as consolidaram e legitimaram. Cair depois de lutar bravamente dá dignidade ao vencido e pode ser fonte de orgulho.
As palavras acima estão no livro “Melancolia de
esquerda” de Enzo Traverso. Seguem abaixo mais trechos interessantes.
Não podemos fugir de nossa derrota, nem descrevê-la ou analisá-la de fora. A
melancolia da esquerda é o que resta após o naufrágio; seu espírito paira sobre
os escritos de muitos de seus "sobreviventes", amontoados em botes
salva-vidas após a tempestade.
O autor transcreve uma passagem do sociólogo alemão Siegfried Kracauer, para
quem a “melancolia, como disposição íntima”, tem como importante consequência
fomentar “o distanciamento de si mesmo", que seria uma premissa da
compreensão crítica. Em vez de reforçar identificações patológicas com um
passado esgotado, essa visão melancólica nos ajuda a superar seus traumas,
conclui Traverso.
Ele também cita o historiador Reinhart Koselleck: “A história é feita pelos
vencedores, mas, no longo prazo, os benefícios do conhecimento vêm dos
vencidos.” Os vencedores inevitavelmente caem em uma visão apologética do
passado baseada em um esquema providencial, explica o autor.
Os vencidos, por outro lado, repensam o passado com um olhar agudo e crítico:
“A experiência de ser vencido contém um potencial epistemológico que transcende
sua causa.” Ainda segundo Koselleck, “a confirmação mais brilhante dessa tese é
Karl Marx, que escreveu sem parar sobre as revoluções do século 19, adotando o
ponto de vista das classes proletárias derrotadas”.
Continua...
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melancolia da esquerda: militância com luto
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