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16 de novembro de 2020

China: fale sobre socialismo, enquanto implanta o capitalismo

Dizimar o movimento que ocupava a Praça da Paz Celestial não foi um arroubo de ferocidade do governo chinês. Aquilo que os manifestantes contestavam era estratégico para os burocratas no comando. É o que explica Au Loong Yu, autor do livro “China: Um capitalismo burocrático”, que estamos comentando.

Esmagada a resistência em 1989, diz ele, iniciou-se uma década marcada por um processo radical de reestruturação produtiva. Em 2001, 86% das empresas estatais haviam sido reestruturadas e 70% delas foram parcial ou totalmente privatizadas. Com isso, dezenas de milhões de trabalhadores das empresas estatais ou "coletivas" foram demitidos. Acabaram sendo redirecionados ao setor privado, com salários menores e menos direitos.

O PC sempre se recusou a admitir que estava privatizando. Uma anedota popular descrevia assim a política do partido: "O capitalismo pode ser implantado desde que você não fale sobre isso. Mas você pode falar à vontade sobre o socialismo, desde que nunca venha a implementá-lo."

Muitos ex-diretores de empresas estatais se tornaram proprietários ou gerentes das empresas privatizadas. Líderes do partido se transformaram em investidores em 95% das empresas municipais, nas grandes cidades, e em 97% daquelas localizadas em pequenas comunidades rurais.

Por outro lado, uma nova classe trabalhadora, composta por 250 milhões de migrantes rurais, se formou. A princípio, era um grande exército de trabalhadores sem conhecimento de seus direitos. Mas as contradições não tardaram a se tornar agudas. As greves cresceram em número e radicalidade.

Mas, por enquanto, a grande maioria dos conflitos tem se limitado aos locais de trabalho, sem questionamentos aos centros políticos do país, fortemente controlados pelo partido.

Continua...

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