Ele era um grande bebedor e admirador das coisas boas da vida, como salada de lagosta, Château Margaux, cerveja Pilsener e muito sexo. Mas, por quarenta anos, também financiou Karl Marx, cuidou de sua família, aguentou seus ataques de fúria e integrou a dupla ideológica mais celebrada da história, sendo coautor do Manifesto Comunista e cofundador do que viria a ser conhecido como marxismo.
Ao longo do século 20, da China de Mao Tse-tung à Alemanha Oriental, da luta anticolonial na África à União Soviética, várias manifestações dessa filosofia convincente lançariam sua sombra sobre um terço da raça humana. E Friedrich Engels, magnata da indústria de algodão da Inglaterra vitoriana, seria um de seus principais formuladores.
As palavras acima foram retiradas de “Comunista de Casaca”, livro de Tristram Hunt, lançado em 2009. O fato de o autor não ser marxista torna a obra mais leve em relação a um personagem que merece um olhar menos carrancudo. Trata-se da biografia de um burguês traidor de sua classe, circunstância mais que suficiente para fornecer farto material a um bom escritor como Hunt.
Afinal, pergunta o autor, como um capitalista mulherengo e bebedor de champanhe ajudou a fundar uma ideologia que era ao mesmo tempo contrária a sua origem de classe e que, ao longo das décadas, se transformaria em “uma fé maçante e puritana totalmente em desacordo com o caráter de seus fundadores”?
Nos duzentos anos de seu nascimento, é importante lembrar que se Engels era um “vira-casaca” em relação a sua origem social, vários de seus pretensos seguidores também traíram muito do que ele defendia e acreditava.
Leia também: Engels, o agente secreto de Marx em Manchester
Nenhum comentário:
Postar um comentário