Kristin Ross inicia seu livro “Luxo Comunal: o imaginário político da Comuna de Paris” destacando o caráter fortemente internacionalista do mais importante evento da história do proletariado até a Revolução Russa. Segundo ela:
Sob a Comuna, Paris não queria ser a capital da França, mas uma coletividade autônoma dentro de uma federação universal de povos. Não queria ser um estado, mas um dos elementos, uma das entidades, de uma federação de municípios que deveria se desenvolver à escala internacional.
É por isso que no dia seguinte a sua proclamação, todos os estrangeiros se tornaram cidadãos da Comuna. Um de seus principais líderes foi Elisée Reclus. Segundo ele:
Não basta emancipar cada nação em particular da tutela dos reis, é preciso também libertar-se da supremacia das outras nações, é necessário abolir os limites, as fronteiras que transformam em inimigos homens semelhantes (...). Nosso grito de guerra não é mais: Viva a República! (...) Nosso grito é: Viva a República Universal!
República Universal. Era assim que as dezenas de comitês, clubes e associações populares responsáveis pelo levante plebeu que tomou Paris concebiam o poder que estavam instaurando.
Com isso, os “comunardos” marcavam sua ruptura com a Revolução Francesa de 1789, cujo legado foi distorcido de forma oportunista pela burguesia para assumir um caráter predominantemente nacional e patriótico.
E coerente com essa vocação internacionalista e operária, afirma Kristin, a Comuna também combatia a dominação colonial. A ponto de um orador despertar ampla aprovação em uma plenária, ao afirmar: “A África jamais florescerá se não quando governar a si mesma”.
A Comuna começou em Paris, mas queria emancipar o mundo.
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