“‘Menos Marx, mais Mises’: uma gênese da nova direita brasileira” é o título da tese de doutorado de Camila Rocha, defendida em 2018 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Lançado recentemente em formato de livro, o estudo tem como argumento central a ideia de que a:
...formação de uma nova direita no Brasil se originou a partir da organização na internet de grupos de discussão e militância durante o auge do lulismo, entre 2006 e 2010.
Um dos principais conceitos utilizado pela autora é o de contra-público, originalmente pensado para denominar grupos que partilham um status subordinado na estrutura social, criando e fazendo circular discursos de oposição à ordem dominante. Por exemplo, os coletivos que integram o movimento feminista.
Ocorre que também existem contra-públicos conservadores, como o dos fundamentalistas-cristãos nos Estados Unidos. Assim, os membros dos contra-públicos:
...a despeito de serem subalternos ou não, partilhariam identidades, interesses e discursos tão conflitivos com o horizonte cultural dominante que correriam o risco de enfrentarem reações hostis caso fossem expressos sem reservas em públicos dominantes, cujos discursos e modos de vida seriam tidos irrefletidamente como corretos, normais e universais.
O que o estudo de Camila constatou foi o surgimento e crescimento de contra-públicos não-subalternos graças, principalmente, à popularização da internete dos últimos anos. Ou seja, trata-se do aumento da influência de grupos de direita e extrema-direita potencializado pela ampliação do acesso às redes virtuais.
Mas, muito antes disso, nos anos 1940, um dos primeiros a defender o surgimento desse tipo de iniciativa foi o guru do neoliberalismo, o economista austríaco Friedrich Von Hayek.
Continua.
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