Doses maiores

2 de fevereiro de 2021

Uma etnografia dos delírios do fascismo nacional

Dissonância cognitiva. O conceito já existe há muitos anos na psicologia. Mas no debate político contemporâneo, ele diz respeito à impossibilidade de diálogo entre duas concepções de mundo porque seus referenciais de conhecimento são opostos e excludentes.

Por exemplo, quem acredita que a Terra é plana se recusa a ouvir os argumentos científicos e lógicos dos que negam essa afirmação. Quem crê que a sociedade e as instituições brasileiras vêm sendo vítimas de uma conspiração comunista desde o começo do século 20 considera aqueles que a negam como participantes do conluio e ponto final.

Muitos de nós já se viram na situação de tentar debater com esse tipo de postura apelando para dados estatísticos, fatos históricos, saberes científicos seculares. Inútil, na maioria das vezes.

Nos próximos dias, vamos tentar abordar esse fenômeno a partir do excelente livro “Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político”, de João Cezar de Castro Rocha. Recém-lançada, a obra seria, segundo seu autor, uma etnografia dessas concepções delirantes.

O autor justifica essa metodologia dizendo que seria inimaginável “um antropólogo que, ao escutar o relato de um mito de origem, interrompesse o narrador para asseverar: ‘Não, não é bem assim! O universo começou com o Big Bang…’”.

Trata-se de entender a lógica que produz, preside e justifica fenômenos como o bolsonarismo e sua mais importante doutrina, o “olavismo”, sistema de crenças criado por Olavo de Carvalho. É compreender para combater.

Na próxima pílula, vamos comentar a publicação “Orvil”, livro de cabeceira da família Bolsonaro, que conta a história do Brasil sob o ponto de vista dos torturadores. Haja estômago.

Leia também: Brasil paralelo, mundo paralelo, fascismo

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