Em 2003, o jornalista estadunidense David J. Rothkopf criou o termo infodemia, em artigo sobre a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave. Dezessete anos depois, a Organização Mundial da Saúde adotou o conceito para a pandemia do Covid.
Segundo a organização, a infodemia caracteriza-se por um “excesso de informações, algumas precisas e outras não, que torna difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa”.
Desde então, Covid e infodemia passam por momentos de alívio e agravamento, mas não cedem. As cepas do coronavírus se multiplicam tanto quanto as falsidades em relação a elas.
É um pouco disso que trata o filme “Não olhe para cima”, de Adam Mckay. Obter informações apenas não basta. É preciso literalmente fazê-las valer. Ou seja, agregar-lhes valor necessário para que circulem.
Mas o modo como isso vem sendo feito nos últimos anos é pela quantidade de cliques obtidos nas redes virtuais. Quanto mais cliques, mais a informação circula e mais se torna passível de monetização.
A lógica não é muito diferente da velha mídia empresarial. Mas nesta, a informação ainda mantinha um valor de uso residual necessário para a manutenção dos monopólios do setor.
Com os novíssimos gigantes midiáticos surgidos no Vale do Silício e arredores, o valor de troca da informação passou a engolir seu valor de uso ainda mais rapidamente. Paradoxalmente, o filme de Mckay faz parte dessa onda ao atrair para a plataforma que o divulga a audiência necessária para manter essa roda girando. Em falso, mas girando.
Na próxima pílula, porque é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo.
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