Estudos recentes mostram que povos inclinados a expandir a agricultura de forma sustentável, sem privatizar a terra ou entregar sua gestão a uma classe de capatazes, sempre encontraram maneiras de fazê-lo.
Posse comunal, redistribuição periódica de glebas e manejo cooperativo de pastagens não são particularmente excepcionais na história humana e foram praticados com frequência durante séculos.
No Neolítico, os povos da Grã-Bretanha, tendo adotado a economia agrícola, parecem ter abandonado o cultivo de cereais e retornado, por volta de 3.300 a.C., à coleta de avelãs como fonte básica de alimento vegetal. Por outro lado, mantinham seus porcos domésticos e rebanhos de gado.
Esse tipo de relação com a natureza existiu em toda a Europa, das Terras Altas da Escócia aos Balcãs, antes e em tempos recentes. E seria possível citar outros exemplos, como o sistema “mash'a” palestino ou o “subak” balinês.
Mesmo em partes do continente americano, a tendência geral por cerca de 500 anos antes da chegada dos europeus foi o abandono gradual do cultivo do milho e do feijão, em alguns casos, realizado há milhares de anos, e o retorno a um modo de vida forrageiro (coletor-caçador).
Todos esses povos parecem não ter sido forrageadores nem pastores, mas algo intermediário. E mostrariam que a adoção da agricultura não leva necessariamente à propriedade privada, desigualdade social e formação de hierarquias rígidas sustentadas por estados.
Pelo menos, é o que defendem David Graeber e David Wengrow no livro “O Amanhecer de Tudo”. Para eles, acreditar no contrário seria reduzir a história humana a um rígido determinismo eurocêntrico e anacrônico.
Nas próximas pílulas, a propriedade privada.
Leia também: Indígenas: extremamente politizados
Nenhum comentário:
Postar um comentário