Em seu livro “A Fábrica Digital”, Moritz Altenried relata que, ao construir seu mercado online, a Amazon tentou desenvolver um software capaz de reconhecer automaticamente todos os produtos duplicados e inadequados em seu site. Mas a inteligência artificial não conseguiu dar conta da tarefa. Para sanar o problema, a empresa desenvolveu a plataforma “Mechanical Turk”, terceirizando o trabalho para uma multidão de internautas.
Outras empresas começaram a copiar a solução e hoje são milhares de plataformas nas quais trabalham milhões de pessoas encarregadas de tarefas repetitivas, mentalmente desgastantes e psicologicamente abusivas, em troca de alguns centavos por hora.
Estima-se que são 20 milhões fazendo etiquetagem de dados para empresas como Google, Amazon e Tesla. Ou removendo imagens de violência e pornografia infantil em plataformas como o Facebook.
Essas pessoas são pagas por tarefa e acredita-se que o salário médio seja inferior a 2 dólares por hora. Estão, principalmente, na Índia, Uganda, Palestina, Venezuela, nos campos de refugiados de Dadaab, no Quênia, e de Shatila, no Líbano.
Muitas vezes, são pagos com “pontos” ou cartões, que só podem ser usados em sites ou lugares específicos, ferindo a legislação trabalhista de muitos países. É o equivalente digital do sistema de “barracões” das fazendas de trabalho escravizado do mundo presencial.
“Mechanical Turk” era um boneco com roupas árabes que ficou muito famoso no século 18 jogando xadrez com seres humanos. Na verdade, era um dispositivo que escondia uma pessoa, que movia as peças em uma posição muito desconfortável.
Até quando escolhe o nome de um de seus dispositivos de superexploração de trabalho humano, a Amazon capricha no cinismo.
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