Doses maiores

8 de maio de 2023

A suja história da eugenia: Darwin

Entre os selvagens, são rapidamente eliminados os indivíduos física ou mentalmente fracos. E os sobreviventes demonstram geralmente uma saúde vigorosa. Nós, os civilizados, pelo contrário, fazemos todo o possível por travar o processo de eliminação. Construímos hospícios para os atrasados mentais, os aleijados e os doentes, promulgamos leis de auxílio aos pobres e os nossos médicos empenham-se com toda a habilidade em salvar a vida de cada um até ao último momento. (...) Assim se propagam os membros fracos das sociedades civilizadas. Ninguém que tenha participado na criação de animais domésticos pode duvidar de que isto é forçosamente muito prejudicial à raça humana.

(...)

Se os vários obstáculos mencionados (...), e talvez outros ainda desconhecidos, não impedirem os imprevidentes, os depravados e os restantes membros inferiores da sociedade de aumentar a uma taxa mais rápida do que a dos homens de melhor categoria, a nação retrocederá, como sucedeu já tão frequentemente na história do mundo. Devemos lembrar-nos de que o progresso não é uma regra invariável.

Os trechos acima são do livro “A Origem do Homem e a Seleção Sexual”, de Charles Darwin. Mostram que até um gênio pode acabar por colaborar, mesmo que inconscientemente, para o surgimento de uma das teorias fundamentais para formação da ideologia nazifascista. Trata-se da eugenia, cujo objetivo principal era promover a “melhoria genética” da humanidade. Seu criador foi Frances Galton, primo de Darwin, que organizou e levou às últimas e piores consequências alguns equívocos espalhados pelas obras de seu famoso parente.  

Na próxima pílula, mais sobre essa doutrina que emporcalhou e ainda emporcalha a história humana.

Leia também: A suja história da eugenia: Frances Galton

5 comentários:

  1. Não sabia disto. Fiquei chocado. Por isto devemos ficar sempre atentos.

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  2. Tinha colocado indevidamente o comentário acima como anônimo. Agora me identifiquei

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  3. Não sabia. Fiquei chocado. Por isto devemos ficar sempre atentos. Obrigado

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  4. Os princípios de Darwin servem também para entender o desenvolvimento da sociedade.
    Veja este trecho do início do filme idiocracia (uma comédia muito ruim, porém a abertura é interessante).

    https://www.youtube.com/watch?v=xUQbNgbK0S4

    Vários aspectos sofrem um efeito de seleção natural, e não só a bagagem genética.
    Religiões que pregam a multiplicação reprodutiva de seus membros acabam por produzir uma pressão que tende a aumentar o percentual de seus membros na sociedade (pois há tendência também de que os filhos tenham mesma religião dos pais).
    Pessoas com menos instrução tendem a se reproduzir mais. Reproduzindo mais tendem a fazer pessoas desta classe a se distanciarem mais economicamente das elites.

    No Darwinismo, tudo são tendências, e não destinos imutáveis individuais. A longo prazo, fazem o efeito previsto na composição social, ou na bagagem genética de uma espécie.

    Também dentro desta lógica, as elites tendem a ter uma bagagem genética mais frágil, pois não passaram da mesma forma que os pobres, pelo cruel processo de seleção natural, que teria matado os mais fracos, e os impedido de gerar descendentes.
    Quem sobrevive às cruéis condições dos pobres na caatinga, com falta de água, comida, etc, é por que tem uma bagagem genética que gera um ser mais resistente àquelas condições.
    Troque ainda recém nascido um filho da elite por um da ralé, e coloque ele para viver nestas condições e ele terá menos chance de sobreviver.

    Na sociedade, ao escolher seus pares as pessoas mais valorizadas, tendem a escolher pares também mais valorizados. Ao valorar as pessoas avaliam vários fatores, como condição econômica, beleza física (é claro que esta característica também é dependente do observador), instrução, etc. Com o passar das gerações tende a haver uma separação cruel que coloca na elite econômica as pessoas com características tidas como mais desejadas (e de saúde mais frágil), e no outro lado uma ralé com características tidas como menos desejadas.
    A seleção natural é cruel, e amoral. Não devemos querer que as pessoas passem por ela. Mas entender o processo é o primeiro passo para tentar combater os seus efeitos nefastos.
    Uma política que ajuda a diminuir este efeito é o ensino gratuito e de qualidade para todos. Tendo instrução a tendência nas classes mais baixas de se reproduzirem desenfreadamente também pode ser contida, e o espaço para igrejas oportunistas que estimulam esta reprodução também.

    No campo biológico também é verdade que se não queremos a crueldade da seleção natural, e não colocarmos alguma espécie de seleção artificial em seu lugar, a espécie tenderá a ter uma bagagem genética mais frágil.

    Veja quando os europeus chegaram na América. As doenças destes tiveram efeito muito mais devastador nos povos pré-colombianos do que as doenças da América nos europeus.
    Os indígenas tinham hábitos de higiene muito melhores que os dos europeus, isto tornou seu sistema imunológico mais frágil, por não terem passado com a mesma intensidade por esta seleção natural.

    O termo "Darwinismo social" foi utilizado como justificativa moral para uma barbárie discriminatória, que deve ser repugnada. Mas não devemos ignorar todos os efeitos do processo Darwiniano ou pagaremos um preço por isso.

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