Doses maiores

27 de junho de 2023

Torcidas revoltadas, muitos séculos atrás

Havia quatro torcidas na cidade. De repente, explodiu uma divergência quanto ao vencedor da principal competição. Convocado para arbitrar, o governante decidiu apoiar o seu competidor. O resultado foi uma explosão social em que as forças de segurança foram massacradas, a cidade foi quase toda dominada e as massas queriam a cabeça das autoridades.  

Estamos falando da Revolta de Nice, ocorrida no ano de 532, em Constantinopla. O governante era o imperador Justiniano. A polêmica era sobre qual cavalo vencera uma corrida. Nice, o animal pelo qual a população torcia, chegara empatado com a montaria que pertencia ao imperador.

Claro que a revolta não aconteceu somente por causa do resultado da competição. Muitos problemas vinham se acumulando ao longo dos anos: fome, falta de moradia e impostos elevados estavam entre eles.

Além disso, as “torcidas” haviam-se transformado em "partidos políticos". Mas, até então, os imperadores vinham jogando uns contra os outros. Quando Justiniano decidiu em benefício próprio provocou a união de forças que levou à rebelião.

Justiniano ameaçou abandonar o trono, mas, convencido por Teodora, sua mulher, decidiu reagir. Encarregou o general Belisário de atacar o hipódromo, que servia de quartel-general para os revoltosos. Cerca de trinta mil foram degolados.

O episódio lembra as constantes revoltas de torcidas de futebol no Brasil. Tal como em Constantinopla, os motivos ultrapassam o âmbito esportivo. São resultado de contradições e problemas acumulados durante muito tempo.

A diferença é que, atualmente, acreditamos estar em um patamar civilizatório superior. Olhamos para o passado como se estivéssemos deixando as trevas para trás sem perceber que elas estão bem diante de nós.

Leia também: O futebol entre o tribalismo e o nacionalismo

2 comentários:

  1. As competições exacerbam e "permitem" que a revolta latente fique presente?

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  2. Ou serve como uma válvula de escape pra ela também. É uma tese meio que aceita esta, do esporte substituir a guerra. Acho que o esporte massificado e extremamente monetizado atual é que mistura tudo.

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