A palavra escrita parece falar contigo como se fosse inteligente, mas se lhe perguntas alguma coisa, porque desejas saber mais, continua a repetir-te o mesmo sem parar. Os livros não são capazes de se defenderem.
Para ele, já não se tratava de sabedoria própria, mas de um apêndice alheio. Um estímulo a um relaxamento da memória. A grande ironia é que Platão expôs essa aversão à escrita por escrito, conservando, assim, as críticas de seu mestre para nós, seus futuros leitores.
Os cientistas chamam de “efeito Google” à incitação à amnésia que Sócrates temia. Mas o alfabeto foi uma tecnologia ainda mais revolucionária do que a internete. Construiu pela primeira vez essa memória comum, expandida e ao alcance de toda a gente.
Tempos depois, Jorge Luis Borges diria que o livro é o mais “surpreendente dos instrumentos humanos”, uma vez que os restantes “são apenas extensões do seu corpo”. O microscópio e o telescópio, extensões da visão; o telefone, da voz; o arado e a espada, do braço. “Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação”, conclui ele.
As informações acima estão no livro “O infinito num junco” de Irene Vallejo. A autora não abordou a inteligência artificial, mas o que diriam Sócrates e Platão sobre ela? Seria outro artefato condenado a repetir “o mesmo sem parar” e ser um “apêndice alheio”?
Difícil saber. O que podemos dizer é que se trata de mais um produto da invenção humana, cheio de contradições e potenciais. Para o bem e para mal.
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Ótima questão! Mais complexa do que o livro, que é um registro que se abre sim, à imaginação. Mas seu magnetismo é diferente dos conteúdos "artificiais". Tem outro ritmo, não publicizam além das próprias ideias...
ResponderExcluirSim, verdade
ExcluirSabes programar em Dos? Phyton? Algoritmos? Nao? Perdeste o bonde da história. Sério. A dominação já é tecnológica. LibreOffice, Linux, Tor, Rumble... Ainda ha resistência. Att. Jorge
ResponderExcluirMal consigo programar meus pagamentos no aplicativo do banco. Rsss. Abraço!
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