Doses maiores

10 de agosto de 2023

Aprendendo a morrer com José Paulo Paes

Paulista de Taquaritinga, José Paulo Paes foi um dos mais importantes poetas brasileiros da segunda metade do século passado. Também foi tradutor e crítico literário. Morreu aos 72 anos, em 1998.

“Socráticas” é uma obra póstuma do poeta. Foi editada por Alfredo Bosi, para quem o livro soa “como um recado joco-sério” sobre aprender a morrer com a mesma dignidade do grande filósofo grego.

Esta e outras pílulas trarão alguns dos curtos, céticos e "jocosos" poemas que estão presentes na obra:



Teologia


A minhoca cavoca que cavoca.
Ouvira falar da grande luz, o Sol.
Mas quando põe a cabeça de fora,
a Mão a segura e a enfia no anzol



Auto-epitáfio n
o 2

para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero



Fenomenologia da humildade

Se queres te sentir gigante, fica perto de um anão.
Se queres te sentir anão, fica perto de um gigante.
Se queres te sentir alguém, fica perto de ninguém.
Se queres te sentir ninguém, fica perto de ti mesmo



Dúvida

Não há nada mais triste
do que um cão em guarda
ao cadáver do seu dono.

Eu não tenho cão.
Será que ainda estou vivo?


Este último poema foi encontrado no computador de Paes com data de gravação de 08/10/98. Véspera da morte do poeta.

Leia também: Um pouco do bom humor poético de José Paulo Paes (1926-1998)

2 comentários:

  1. Puxa, Sergio, camarada velho (quem diria quando te conheci que um dia poderia te tratar assim) e velho camarada, quando vi o título dessa Pílula ia dizer que estou mais interessado em o que é morrer do que se preparar para morrer. Quando vi os poemas achei que eles vão mais no sentido filosófico, ou seja, do que é morrer. Tá bom, concordo, que quando tentamos entender o que é morrer (que nunca vai ter fim, nem depois da morte), a gente pode (não é o meu caso) aprender a morrer. Bjs.

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