Já se tornou comum dizer que é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo.
Em seu livro “Uma arqueologia da era contemporânea”, Alfredo Gonzalez-Ruibal alerta para o que chamou de “colonização do futuro” pela “modernidade tardia”, conceito que ele usa para caracterizar o capitalismo.
De fato, é o que se verifica ao observarmos a indústria cultural e suas inúmeras megaproduções audiovisuais sobre o pós-apocalipse. Aquelas em que o mundo tal como conhecemos aparece em um futuro não tão distante, quase totalmente destruído.
São cidades habitadas por poucos e tomadas por destroços. Ruas e estradas cheias de carcaças de veículos. Grandes prédios em ruínas, ocupados por sobreviventes que lutam entre si em selvagem competição. A diversidade biológica substituída por algumas raras espécies, tão resistentes quanto perigosas para a vida humana.
Na melhor das hipóteses, muitas dessas produções passam por ser uma advertência sobre as consequências dos desequilíbrios ambientais e da barbárie social causada pela distribuição cada vez mais injusta da renda e da riqueza.
Mas na medida em que só conseguem apresentar o futuro como uma versão piorada do presente, esses filmes e séries acabam por nos impor a catástrofe como inevitabilidade. Também nos distraem do apocalipse que já chegou para alguns setores da população, que a ele resistem heroicamente. É o caso dos povos indígenas e dos moradores de regiões empobrecidas das grandes cidades.
É a distopia nos impedindo de enxergar a existência de utopias concretas, representadas pela solidariedade surgida das lutas dos explorados e oprimidos.
Enquanto nossa imaginação se restringir aos elementos doentios e suicidas do capitalismo será assim.
Leia também: Capitalismo, arqueologia, mandantes e executores
Boa. Gostei.
ResponderExcluirLegal. Gostei que você gostou
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