Na década de 1990, a web era um território de amadores e diletantes. As empresas geravam receitas através do fornecimento de acesso à internete. Mas, uma vez nela, o comportamento dos usuários corria livremente em espaços que eram, na sua maioria, não comerciais.
Segundo a terminologia de Marx, este seria um período de subsunção formal das atividades desempenhadas nos ambientes em rede. Nele, reinavam os imperativos capitalistas gerais da troca de mercadorias, mas o comportamento individual dos usuários não estava sob controle. Seria o equivalente dos galpões, do início do capitalismo, em que um patrão reunia os trabalhadores, mas estes utilizavam as ferramentas e máquinas seguindo seu próprio ritmo.
Isso mudaria com o parcelamento do trabalho em várias pequenas fases, transferindo o controle do ritmo de trabalho ao empregador. A esse processo Marx chamou de subsunção real do trabalho ao capital. Fenômeno que se aprofundaria com a introdução da linha de montagem.
Essa mudança também corresponde à transição da extração da mais-valia absoluta, baseada na extensão das horas de trabalho, para a extração da mais-valia relativa, em que a intensidade do trabalho aumenta mais que sua duração.
No mundo cibernético, isso se traduziu na transição do tempo gasto na utilização dos dados para o tempo despendido na produção deles. Já não se trata apenas de trocas velozes de informações e publicidade, mas de produção intensiva de likes e compartilhamentos. Estes, por sua vez, geram informações estratégicas valiosas a serem negociadas com gigantescos atacadistas de mercadorias e serviços.
Essas interessantes pistas sobre a economia política da internete estão no livro “Breaking Things at Work”, de Gavin Mueler.
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