Doses maiores

7 de dezembro de 2023

A estupidez do sionismo de esquerda

Tony Cliff era o pseudônimo de Ygal Gluckestein (1917-2000). Nascido na Palestina, tornou-se conhecido como um militante revolucionário na Inglaterra. Apesar de judeu, era antissionista, não aceitando a concepção que atribui ao povo judeu a “missão sagrada” de tomar a Palestina de seus povos originários.

O relato abaixo é de sua autobiografia, “A World to Win”. Mostra bem o que significa ser sionista de esquerda.

Em fevereiro de 1934, em Viena, os trabalhadores fizeram um grande levante contra o fascismo. Embora os trabalhadores tenham sido derrotados, Viena tornou-se um marco que inspirou todo o movimento internacional da classe trabalhadora. No ano anterior, em 1933, o movimento dos trabalhadores alemães – o mais forte e mais bem organizado do mundo – tinha capitulado perante os nazistas sem praticamente nenhuma luta. Em todo o mundo, lembro-me, socialistas, comunistas e antifascistas repetiam o slogan “Mais Viena do que Berlim”. Naqueles dias, participei de uma reunião organizada pelo partido socialdemocrata sionista, em Haifa. O secretário do conselho sindical da cidade começou seu discurso, dizendo: “Apenas uma vez na história houve tal heroísmo: a Comuna de Paris”. Concluiu afirmando: “Precisamos da unidade dos trabalhadores”. Quando ele terminou, interrompi e acrescentei uma palavra: “internacional”. Ou seja, precisamos da “unidade internacional dos trabalhadores”. Se eu tivesse gritado “Viva a classe trabalhadora britânica” ou “Viva a classe trabalhadora chinesa”, ninguém teria se importado. Mas na Palestina, minhas palavras significaram unidade com os árabes. Três comissários se aproximaram de mim. Dois seguraram meus braços, enquanto o terceiro torceu um de meus dedos até quebrá-lo. Comuna de Paris tudo bem, mas trabalhadores árabes, de jeito nenhum.

Leia também: Malcolm X pergunta pelo messias do sionismo

4 comentários:

  1. Os judeus são um povo espetacular mesmo: calçados firmemente os pés sobre o vazio de duas mentiras ( juros compostos e deus infantil), moldaram e dominam o mundo. Está na minha lista, Sergio, ler "Sobre a questão judaica" de Marx. Ja assisti ao documentario "A Historia Sionista". Ouço o Bruno Altman, mas ele não pode se aprofundar na analise sem parecer conspiracionista. Mesmo assim, eu não entendo o que está acontecendo. O sionismo é o braço armado dos baroes rentistas que dominam os EUA? Nunca houve hostilidades relevantes entre arabes e judeus ao longo da historia, entretanto, o antissemitismo nasceu no seio da igreja católica, sem sombra de dúvida, somado, obviamente, à intransigência cultural (que foi criada pela genial teoria psicologica de Moises, que, ao elevar o "conatus" de um bando de escravos endurecidos por 400 anos, afirmou que eles seriam o "povo eleito"). Nesse sentido, os judeus trocaram o ódio antissemita dos barbaros pelo odio dos primos muçulmanos. O que levou a essa escolha infeliz? O sionismo sobreviveu porque foi alimentado financeiramente. Posso dizer que eu o estou alimentando também ao pagar o exorbitante serviço da divida publica? Esse xadrez geopolítico é porque a China sobreviveu sem ser algemada pelo capitalismo financeirizado?

    ResponderExcluir
  2. Falar em solidariedade internacional da classe trabalhadora, principalmente ultimamente, parece coisa de conto de fadas.

    ResponderExcluir
  3. Meu pai era um sionista de esquerda. Como várias gerações de judeus o foram fundando kibbutzin. Não sei qual foi o problema que rolou com os árabes palestinos no início do século. Ninguém fala do fascismo árabe, do qual o Hamas é uma peça exemplar. Mas garanto que ele já estava lá, pelo menos nos pogrons de 22 e 29 na palestina, quando atacaram judeus que viviam há séculos pacificamente naquela região. Todos os judeus de esquerda do mundo estão em luto porque o ódio antissemita é muito mais forte na esquerda.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que ódio antissemita de esquerda é uma coisa que ficou muito forte com o stalinismo, não é? E ainda é forte em setores que veem anti-imperialismo num Putin, por exemplo. Trágico

      Excluir