Doses maiores

12 de março de 2024

Cessar-fogo e lucros cessantes

Os editoriais condenam a decisão do governo de reter o pagamento de dividendos aos acionistas da Petrobrás. A medida foi tomada pensando nos objetivos de longo prazo da estatal. Mas longo prazo é um conceito que não entra na cabeça tacanha dos grandes acionistas privados da petroleira. Tubarões gordos sempre famintos.

Outra notícia com repercussão bem menor foi a morte de um trabalhador de um galpão do gigante varejista Mercado Livre. Ele teria cometido suicídio, mas seus colegas foram obrigados a continuar trabalhando normalmente.

O que ambos os acontecimentos têm em comum? A lógica capitalista. Sejam as obrigações da Petrobrás em relação aos interesses públicos, seja a perda de uma vida, nada pode se deter diante da necessidade de manter elevada a rentabilidade que beneficia interesses privados.

No capitalismo, impera a ditadura do lucro. E não só nas tragédias ou decisões empresariais. Para que servem as fábricas de sapatos? Para calçar as pessoas? Não, para lucrar com a venda de calçados. O mesmo vale para as indústrias de alimentação e imobiliária. Aos milhões de desnutridos e sem-tetos não basta serem humanos se não forem consumidores.

A economia capitalista faz das necessidades vitais mero meio para gerar lucro abundante para alguns poucos. E não se trata apenas da vida humana, como demonstram os desastres ambientais.

Mas há um ramo econômico em que isso fica tragicamente explícito. A indústria armamentista multiplica seus ganhos na proporção direta em que destrói vidas. Seja nos conflitos entre países, seja no interior deles. Tanto em Gaza, Ucrânia, Sudão como nas periferias urbanas não há cessar-fogo porque isso implicaria lucros cessantes.

Leia também: O consumo como ameaça à humanidade

2 comentários:

  1. Isso é sempre escamoteado, ninguém fala dos interesses e o quanto elas incentivam essas guerras.

    ResponderExcluir