Os chamados “Grundrisse” são uma espécie de rascunho de “O Capital”, de Karl Marx. Um de seus trechos que vem sendo muito citado ultimamente se refere ao conceito de “intelecto geral”:
O desenvolvimento do capital fixo indica até que ponto o conhecimento social geral se tornou uma força direta de produção, e até que ponto, portanto, as condições do próprio processo da vida social ficaram sob o controle do intelecto geral e foram transformadas de acordo com isso.
Muitos enxergam nessa passagem uma antecipação de inovações tecnológicas atuais como a automação produtiva e a inteligência artificial.
O problema é que o conceito de “intelecto geral” remete a produção material a um plano abstrato que secundariza o papel fundamental do trabalho humano na estrutura produtiva.
Seria por isso que em “O Capital”, Marx tenha substituído a figura abstrata do “intelecto geral” pelo conceito mais concreto do “trabalhador geral”. Entendendo este último como sinônimo de cooperação ampliada do trabalho.
Com a nova formulação, o trabalhador coletivo possui todas as qualidades necessárias à produção em um grau de excelência uniforme e utiliza-as empregando todos os seus órgãos, individualizados em determinados trabalhadores ou grupos deles, no desempenho de suas funções.
O que a figura do trabalhador geral antecipa é o surgimento da era da cibernética e das suas experiências de auto-organização. Para além disso, mostra como esses desenvolvimentos tecnológicos podem contribuir para a construção de uma sociedade radicalmente justa, desde que em um contexto de total socialização dos meios de produção.
As considerações acima encerram os comentários sobre o excelente livro “O Olho do Mestre”, de Matteo Pasquinelli.
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