Doses maiores

2 de julho de 2024

Festas juninas, festejos indígenas

O mês de junho recém partiu, levando embora os festejos de arraial. Mas como as brasas das fogueiras continuam quentes, ainda há tempo de trazer uma informação que, talvez, seja desconhecida por muita gente. As festas juninas têm a ver mais com tradições indígenas do que com costumes europeus.

É o que mostra recente reportagem do portal G1, segundo a qual:

Antes da chegada dos colonizadores, o mês de junho já era especial para indígenas que viviam pelo Nordeste. Por isso, diversos elementos do São João nordestino são associados à ancestralidade originária.

Os povos Cariri, Tarairiú e Tupi, por exemplo, agradeciam os frutos da colheita com festejos organizados, em geral, por volta de junho.

Mas para os cariris, assim como para os tarairiús, a festa também comemorava o início de um novo ano, marcado pelo aparecimento das estrelas plêiades. Era a festa de Batí ou festa da “Estrela”, no idioma cariri.

Claro que os colonizadores fizeram tudo para suprimir essas tradições locais. Como, de resto, aconteceu com muitas outras características culturais fundamentais dos povos originários.

Mas na própria Europa, houve um processo parecido em relação às tradições populares consideradas pagãs, incluindo as próprias festas juninas de lá. A reportagem cita o professor da Universidade Federal da Paraíba, Ângelo Antônio:

A gente sabe que ali nos primeiros séculos do cristianismo houve uma acoplagem desse calendário pagão, que estava muito ligado aos ritos de passagem das estações, das colheitas, rituais de fertilidades, e que vão sendo de uma maneira ou de outra reapropriados pela lógica católica.

E assim caminha a chamada civilização. Atropelando e apagando importantes tradições populares.

Leia também: Os idiomas artificiais e o extermínio das línguas indígenas

3 comentários:

  1. Não sabia das festas indígenas, agora, precisava entender muito mais para poder considerar que houve um apagamento dessas festas indígenas. "Por isso, diversos elementos do São João nordestino são associados à ancestralidade originária." Essa frase e a Pílula como um todo me deu a impressão de que as festas juninas como conhecemos hoje tiveram seu antecedente nas tais festas indígenas citadas. OK que existe um apagamento de festas anteriores por conta de outras colocadas no lugar, o que precisa ser esclarecido é se no mesmo lugar, como por exemplo, o Natal. Se existiam festas indígenas que eram anteriormente comemoradas no mês de junho, não sei onde se deu delas serem apropriadas pelas festas juninas que conhecemos hoje e apagadas. Não conheço dessas festas indígenas, mas pelo que conheço das juninas, elas me parecem ser muito diferentes. Até mesmo sobre as festas juninas, existe hoje uma disputa entre o que elas são no nordeste e as paulistas, sendo que estas são bem mais antigas. Houve uma apropriação das nordestinas? Me parece que sim, e neste caso, não vejo problema nisso. Claro que não estou querendo comparar essa situação que é muito diferente da citada na Pílula.

    ResponderExcluir
  2. Esses processos são culturais, portanto muito complexos. É como o sincretismo religioso, que já foi tratado como rendição da cultura afrodescendente e, hoje, também é considerado uma forma de resistência. É um jogo tipo cabo de guerra, em que a cultura e o poder colonizador tentam arrasar e a resistência popular usa de diversos expedientes para fazer perdurar suas crenças e valores. O Natal, por exemplo, é comemorado na data em que os antigos romanos comemoravam o solstício de inverno. Foi apropriada pelos cristãos etc. Aí, não teve jeito. A antiga festa sumiu da história ocidental.

    Valeu!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Sérgio! Sumiu, mas permaneceu, não? Alguns dos seus elementos foram incorporados pelo Natal cristão… Acho que essa é a dialética do sincretismo… Nem só dominação, nem só resistência.

      Excluir