Os 30 anos do Plano Real estão sendo comemorados com muita festa e unanimidade pelas grandes mídias. Segundo os promotores dessas celebrações, o único objetivo da política econômica é controlar a inflação, mesmo que isso implique manter uma das piores concentrações de riqueza do planeta.
Um bom texto para entender esse fenômeno é “Por outra história do Real”, publicado por Luiz Filgueiras no portal Outras Palavras. Mas lembremos rapidamente a que finalidades realmente serviu o surgimento do Real.
Na época da inflação galopante da década de 1980, as lutas sindicais estavam no centro do cenário social, com greves grandes e frequentes. Os trabalhadores se envolviam em conflitos diretos com um adversário visível, os patrões.
Quando a inflação diminuiu drasticamente, em meados dos anos 90, as greves também se reduziram e a defesa de conquistas e direitos contra a lógica dos mercados mudou para a arena eleitoral.
Logo a seguir, impôs-se a austeridade fiscal, que levou a vida de milhões a depender de decisões de entidades multilaterais, grandes corporações financeiras e outras instituições semelhantes. Todas situadas em lugares isolados da experiência cotidiana e totalmente impenetráveis à pressão popular.
A democracia foi definitivamente dissociada da economia. O mandato dos bancos centrais tornou-se mais importante que os dos governantes e parlamentares. A já limitada vontade popular expressa pelo voto quase completamente tutelada pelos dogmas do neoliberalismo.
Era a mais recente metamorfose de uma democracia que sempre foi de fachada. Uma dominação secular autoritária que continua a convocar as feras do fascismo para defendê-la, cada vez que suas promessas de prosperidade se revelam falsas e despertam a revolta popular.
Leia também: Na pós-democracia, a política comandada pela economia
Gostaria mesmo de ter outra visão. A Pílula aponta outro entendimento, mas tem coisas que precisam ser mais aprofundadas. Tem a questão da inflação e como ela comia o salário dos trabalhadores (sim, grande bandeira do neoliberalismo para ganhar os trabalhadores), a implicação disso com a não resposta dos trabalhadores à nova dinâmica do neoliberalismo com Plano Real e outros. Não sei se foi só o Plano Real que afetou a lutas dos trabalhadores que se dava naquele momento. Vou ler o texto recomendado.
ResponderExcluirClaro que não foi só o Plano Real. Aliás nenhum processo social ou histórico é monocausal. Mas sem dúvida o lançamento do Real mudou os rumos da disputa. Basta lembrar que o Lula vinha com tudo pra ganhar a eleição de 94, depois do impeachment do Collor, e FHC ganhou no primeiro turno! Foi quase uma bala de prata da burguesia. Mas os texto recomendado tem tudo isso e muito mais. Volto a recomendar a leitura. Abraço
ResponderExcluirEu li o artigo. Ele tem um tratamento da economia com quem já conhece razoavelmente de muitos termos econômicos e desdobramentos básicos, o que não é o meu caso. Mas mesmo assim achei que valeu. Mas, vamos e venhamos, vamos reconhecer, acertaram, e acertaram muito bem essa bala de prata.
ResponderExcluirAh, claro. A bala de prata dizimou a inflação, mas principalmente feriu gravemente a fera petista que vinha pra abocanhar as eleições. E seus efeitos duraram até 2002, quando o PT chegou à presidência, mas bem mais domesticado pela realidade neoliberal que se impôs de vez depois do Real. Não foi uma farsa. Foi uma ofensiva muito bem arquitetada, com tudo pra ganhar muito apoio popular, como de fato ganhou. Abraço!
ResponderExcluir