Doses maiores

19 de julho de 2011

Estados Unidos e China: abraço de náufragos

Estamos em plena crise da dívida americana. Os maiores devedores do mundo ameaçam dar calote. Os chineses são seus maiores credores. Possuem mais de U$ 1 trilhão em papéis estadunidenses. Mesmo assim, continuam a comprar títulos do tesouro americano. De fato, não têm outra escolha.

Se os chineses resolvessem vender seus títulos americanos, a oferta cresceria fortemente e o valor deles despencaria. Causariam desvalorização nos papéis que estão em suas próprias mãos. E ao manter a compra, tentam demonstrar confiança na economia americana.

É uma armadilha, mas tem suas razões. Há muitos anos, o governo chinês tem fortes motivos para financiar a dívida estadunidense. Ela ajuda a manter o elevado nível de consumo dos americanos. Mantém o enorme fluxo de mercadorias chinesas para os Estados Unidos.

A economia americana tem muito consumo, pouca produção e quase nenhuma poupança. A economia chinesa, produção abundante, poupança demais e consumo de menos. Seria perfeito, se não se tratasse de uma dependência mútua muito perigosa.

Não há dinheiro real suficiente na economia americana para absorver a produção chinesa. É preciso apelar para o crediário. Mais crédito costuma provocar bolhas como a do mercado imobiliário, que estourou em 2008. É grande o risco de novos surtos de inadimplência, atingindo milhões de pessoas e países inteiros.

Um calote da dívida americana seria apenas uma antecipação apocalíptica disso tudo. Atingiria os investimentos chineses em cheio e, por tabela, toda a economia mundial. Chineses e americanos estão num abraço de náufragos. Basta que um deles afunde para arrastar o outro e mais meio mundo com eles.

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4 comentários:

  1. E aí, você acha que um possível calote na dívida americana seria uma boa saída? Na minha opinião seria o "apocalipse" e espero que os republicanos sejam sensatos na votação até 2 de agosto para elevar o patamar da dívida. Se isso vale para os EUA, porque não vale para o Brasil? Nesse sentido o Brasil também deve honrar seus compromissos e eu não vejo como uma boa saída a moratória da dívida externa. Qual a diferença de um calote da dívida externa dos EUA para o calote do Brasil? É uma provocação, porque realmente eu (em minha ignorância) não sei. Abraços!

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  2. Marcos, essas dívidas não foram feitas para serem pagas. Foram feitas para sugar dinheiro dos orçamentos públicos e direcionar para as grandes corporações. Um calote nos termos que está sendo discutido nos EUA só faria isso de uma vez e não aos poucos. Mas, lá como no Brasil, não tenho a menor dúvida de que a suspensão do pagamento da dívida seria benéfica. Mas, não como resultado de uma "quebra" financeira, mas de uma opção política clara de rompimento com o capitalismo. Coisa que não está colocada de forma concreta, ainda mais quando temos um governo que se diz de esquerda e governa para a direita. Recomenda que você leia meus textos que estão na tag http://pilulas-diarias.blogspot.com/search/label/d%C3%ADvida_p%C3%BAblica

    Abraço!

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  3. Não entendi a parte "Um calote nos termos que está sendo discutido nos EUA só faria isso de uma vez e não aos poucos." Faria o quê?

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  4. Sugar dinheiro dos orçamentos públicos e direcionar para as grandes corporações. O calote não representaria uma economia para os "cofres públicos" ou prejuízo para empresas, mas a socialização do prejuízo em níveis astronômicos. O mundo pagaria essa conta.

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