Nas entrevistas que
deu por ocasião do lançamento de sua biografia sobre Marx, o professor José
Paulo Netto afirmou que se tivesse oportunidade de passar um fim de
semana com Marx, aprenderia muito. Mas se essa mesma oportunidade lhe fosse
dada com Engels, também aprenderia muito, mas se divertiria mais.
É a pura verdade. Marx tinha seus momentos cômicos e divertidos, mas Engels era
o rei das festas e celebrações. Se, por um lado, era obrigado a comparecer aos
banquetes da elite de Manchester para manter seu disfarce burguês, o que ele
gostava mesmo era das bebedeiras nas cervejarias proletárias que frequentava
discretamente com Mary Burns.
Assim, mesmo sendo ateu, Engels jamais deixaria de festejar o Natal. Afinal,
dizia ele fazendo coro com Marx, era a celebração do nascimento de uma criança
que viria a ser uma liderança dos pobres. E sempre que podia, garantia uma
farta mesa natalina para a família Marx e amigos.
Em um desses momentos, Engels trouxe para a ceia, além de muita comida, várias
garrafas de um vinho que não devia estar muito bom. O resultado foi uma ressaca
que atingiu todo mundo, incluindo as crianças.
Mas incidentes desse tipo jamais afetaram o ânimo festivo daquela comuna
localizada em Londres, sempre aberta a exilados e revolucionários e financiada
pelo burguês mais perigoso de todos os tempos.
Que as festas de fim de ano sejam como as organizadas por Engels. Com muita
fraternidade, alegria abundante, mas ressacas moderadas. Sempre com máximo respeito
aos que lutam, trabalham e conspiram pela liberdade e igualdade humanas. Tudo
isso, claro, sem aglomeração.
Até 2021!
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Engels
contra o reformismo
A família Marx festeja o Natal
Blog de Sérgio Domingues, com comentários curtos sobre assuntos diversos, procurando sempre ajudar no combate à exploração e opressão.
Doses maiores
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17 de dezembro de 2020
16 de dezembro de 2020
Engels contra o reformismo
Nas eleições de outubro de 1881, os socialistas alemães obtiveram 312 mil votos, conquistando doze cadeiras no parlamento, relata Tristram Hunt no livro “Comunista de Casaca”.
Na ocasião, Engels escreveu: “Após três anos de perseguição sem precedentes, durante os quais qualquer forma de manifestação pública e propaganda era uma absoluta impossibilidade, nossos rapazes voltaram, não apenas com toda a força, mas mais fortes do que nunca”.
Mas esse avanço também tinha seus riscos, achava Engels. O sucesso eleitoral levou a que o poder político se deslocasse das bases militantes para as lideranças parlamentares, muitas delas de classe média e perigosamente suscetíveis a ideias reformistas.
Engels, que sempre alegou que "as massas alemãs eram muito melhores que seus líderes", examinava a atuação da bancada parlamentar em busca de sinais de oportunismo. Muitas vezes, direto de sua casa, partiam instruções sobre como votar ou que posição política assumir em qualquer controvérsia.
Sendo um assíduo frequentador dos círculos burgueses e conhecedor de seu poder de sedução, Engels mantinha-se inflexível quanto a um princípio fundamental para a luta dos socialistas: “A emancipação da classe trabalhadora deve ser obra da própria classe trabalhadora.”
Desse modo, ele e Marx colocaram-se firmemente na defesa do que decidira um congresso clandestino do partido, realizado em 1880, na Suíça. Nele foram rechaçadas quaisquer ilusões reformistas na ocupação do parlamento e reafirmada a luta revolucionária "pela utilização de todos os meios possíveis".
Infelizmente, sucessivas vitórias eleitorais nas décadas seguintes acabaram por distanciar o partido alemão do caminho que Marx e Engels defendiam. Um fenômeno que se repetiria com muitos outros partidos de esquerda.
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15 de dezembro de 2020
A vida de Engels como médico e como monstro
Segundo conta Tristram Hunt, em seu livro “Comunista de Casaca”, Engels levou por muitos anos uma vida dupla.
De dia, era o respeitável Dr. Jekyll, magnata do algodão. À noite, o temível Sr. Hyde, socialista revolucionário. Sem falar na relação conjugal secreta com a operária Mary Burns, que jamais seria aceita pela família dele.
Equilibrar toda essa duplicidade era exaustivo. Mas Engels também tinha suas válvulas de escape. Uma delas era a caça à raposa. Prática favorita da aristocracia de Manchester a que Engels se dedicava com paixão.
Ele tentava justificar seu hobby em bases revolucionárias, dizendo que se tratava da “melhor escola de todas" para a guerra. Chegou a dizer que a cavalaria britânica devia sua rapidez e habilidade às frequentes perseguições ao pobre canídeo. Mas o que claramente agradava Engels era a emoção da perseguição: "Esse tipo de coisa sempre me mantém em um estado de excitação diabólica por vários dias. É o maior prazer físico que conheço”, escreveu ele.
Além da caçada, a agenda de Engels vivia lotada de palestras, jantares e concertos. Eventos a que devia comparecer para disfarçar sua condição de financiador de atividades revolucionárias e inúmeros militantes comunistas.
Mas uma queixa frequente de Engels era o provincianismo de Manchester. “Nos últimos seis meses, não tive a oportunidade de usar meu famoso dom para preparar salada de lagosta", escreveu, lamentando-se a Marx.
Assim mesmo, entre sua vida conjugal secreta, a administração da empresa familiar, banquetes, bebedeiras e caças à raposa, Engels ainda conseguiu dar algumas contribuições fundamentais para a luta revolucionária. Entre elas, a fundação do "materialismo histórico", junto com Marx.
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