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27 de agosto de 2021

Capitalismo escópico e sexualidade

Em seu livro “The End of Love”, Eva Illouz cita a ativista feminista americana Susie Bright, que considera os anos 1990 como a época em que a sensualidade tornou-se universal no lugar da beleza, porque a sensualidade seria uma questão de estilo de roupa e marcas no corpo enquanto a beleza seria inata.

Para Susie, a sensualidade seria a plataforma cultural para consumo de bens concretos e padronizados (sutiãs, roupas íntimas, Viagra ou Botox), experienciais (cafés, bares para "solteiros" ou acampamentos de nudismo), ou mais intangíveis como aconselhamento terapêutico para melhorar a experiência e competência sexuais, produtos visuais (revistas femininas ou pornografia) e o que Eva chama de bens ambientais, que supostamente induzem uma atmosfera sexy.

Nesse sentido, afirma Eva, a mídia empresarial desempenhou um papel crucial ao reciclar uma versão parcial e distorcida do feminismo, em que a igualdade e a liberdade sexuais eram equivalentes ao poder de compra e à sexualidade em exibição. Os corpos das mulheres não eram mais o local da disciplina e controle masculinos diretos, mas da experiência e do exercício de sua agência por meio da liberdade do consumidor. A famosa série de TV “Sex and the City” exemplificou essa equação pós-feminista do poder exercido por mulheres através de uma sexualidade livremente mediada pelo mercado.

A autora fala em “capitalismo escópico”, definido pela extração de mais-valia via espetáculo e exibição visual dos corpos. Esse tipo de capitalismo seria a chave para entender como as mudanças sexuais andaram de mãos dadas com novos instrumentos de poder cultural implantados por empresas capitalistas.

Voltaremos a isso.

Leia também: Sexualidade como mercadoria


7 comentários:

  1. Serginho, já na Pílula anterior tive uma certa inconformidade que não soube bem como expressar, talvez até por preguiça mesmo de elaborar. Sinto que esse tema da sexualidade muito complicado, e um fio da navalha, até por isso precisa ser apresentado. Bem, pelo menos no começo dessa Pílula, quando fala da sensualidade, tendo a discordar. Eu não acredito que a sensualidade seja uma questão do que é vestido, até porque acho que ela pode estar nu e continuar sendo sensual. E também não acho que a sensualidade esteja atrelada ao que é vestido, mas sim como e o que é vestido. Por exemplo, as mulheres africanas, com suas vestimentas originárias, acho muito sensual. Não sei se não entendi bem a questão da sensualidade que é colocada nessa Pílula.

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    1. É, talvez uma tradução profissional melhorasse a clareza dessa questão. Mas no caso, o conceito de sensualidade pode ser entendido como uma espécie de elegância material (roupas chiques, bons perfumes etc) por oposição a atributos físicos. Mas no essencial, acho que tá certo ao dizer que o julgamento do que é belo e atraente tende a ser cada vez mais mediado pelas mercadorias.

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    2. Não se recrimine pela tradução, não acho que ela possa ter problema. Bjs

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  2. Já existe uma edição deste livro em português pela Zahar. Até esta disponível em alguns sítios.

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    1. Sério? Pesquisei e não achei.

      Valeu

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    2. Você está falando do Amor Nos Tempos do Capitalismo? Só achei este e acho que não é o mesmo.

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  3. Caro Sergio. Fiz confusão kkk
    Muito bom seus posts.

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