Em seu livro “The End of Love”, Eva Illouz afirma que durante o século 20 a sexualidade passou por grandes mudanças culturais que se alimentaram mutuamente: primeiro, foi privatizada e tornada prerrogativa do indivíduo. Depois, "cientificizada" por meio de visões biológicas do corpo e, portanto, arrancada da esfera da moralidade religiosa. Finalmente, o corpo sexual foi convertido em uma unidade hedonista explorada, principalmente, pela cultura do consumo.
A sexualidade tornou-se central na cultura comercial e visual popular, no estudo científico, na arte e literatura. Redefiniu o sentido da “boa vida” e tornou-se um atributo essencial do “eu saudável”, a ser libertado do jugo opressor das normas sociais.
Desse modo, tornou-se cada vez mais claro que agora cabia ao indivíduo moldar sua sexualidade para atingir o glamour, a atratividade, o bem-estar e a intimidade.
A sexualidade não era mais uma parte secreta da interioridade pessoal ou uma identidade vergonhosa a ser liberada na privacidade do consultório do psicanalista. Tornou-se uma performance visual, localizada em objetos de consumo visíveis ao invés de pensamentos e desejos.
Os encontros sexuais passam a acontecer cada vez mais em locais de lazer e se tornaram mercadoria consumida através de uma série de práticas de consumo (bares, danceterias, restaurantes, cafés, resorts, praias).
Isso tudo beneficiou quatro grandes indústrias. A indústria de serviços terapêutico-farmacológicos. A de brinquedos sexuais. O complexo industrial de publicidade e cinema. Finalmente, a indústria da pornografia, em que a sexualidade transformou-se em mercadoria a ser consumida para alcançar o bem-estar e o prazer.
Porém, como toda mercadoria no capitalismo, jamais tornou-se fonte de verdadeiro prazer, mas de reiteradas frustrações.
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