Doses maiores

25 de agosto de 2021

Modernidade em rede dissolve relações emocionais e amorosas

Continuamos a comentar o livro “The End of Love: A Sociology of Negative Relations”, de Eva Illouz.

Se durante a formação da modernidade, diz a autora, a luta era pelo direito a uma sexualidade livre de constrangimentos comunitários ou sociais, a modernidade tardia assume que a liberdade sexual e emocional é exercida incessantemente pelo direito de não se envolver ou se desligar de relações.

Um processo, afirma ela, que podemos chamar de "opção pela não opção": optar por sair de relacionamentos em qualquer estágio.

Hierarquia, controle e contrato eram elementos centrais para o capitalismo em seu período moderno. Eles se refletiram na visão do amor como uma relação contratual, livremente celebrada, regida por regras éticas de compromisso, produzindo benefícios óbvios e exigindo estratégias emocionais e investimentos de longo prazo.

Mas o capitalismo se transformou em uma rede global ramificada, com propriedade e controle dispersos. Surgiram novas formas de descompromisso, com horários flexíveis ou terceirização de mão de obra, fornecendo poucas redes de segurança social e quebrando laços de lealdade entre trabalhadores e locais de trabalho. Legislações e práticas trabalhistas diminuíram drasticamente o compromisso das empresas com seus empregados.

Na modernidade em rede, conclui Eva, assumem importância as maneiras pelas quais os laços se dissolvem e essa dissolução é considerada uma forma social em si mesma. 

Ou como já disseram dois revolucionários quase dois séculos atrás: “Tudo o que é sólido desmancha no ar”. Inclusive, e tristemente, as relações afetivas.



2 comentários:

  1. Poderíamos dizer que o capitalismo não mais necessita dessa forma de relacionamento contratual de casal, família etc?!?!

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    1. Não sei. Talvez, não. Mas ainda precisa da mulher como provedora dos serviços de reprodução social no âmbito doméstico. Se a falta das relações contratuais formais pode comprometer isso, taí uma situação bem contraditória para o capital.

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