Em
seu livro “How Will Capitalism End?” (Como o capitalismo vai acabar?), o sociólogo
alemão Wolfgang Streeck defende que há décadas vem ocorrendo uma dissociação
entre democracia e economia nos países da OCDE. Vejamos:
Na
era da inflação na década de 1970, as relações de trabalho eram a principal
arena de luta, com greves muito frequentes. Os trabalhadores se envolviam em
conflitos diretos com um adversário visível, os patrões.
Quando
a inflação terminou, no início dos anos 80, as greves também cessaram e a
defesa de interesses e direitos contra a lógica dos mercados mudou para a arena
eleitoral.
Hoje,
com a austeridade fiscal, a vida de milhões depende de decisões de bancos
centrais, organizações internacionais e instituições semelhantes, atuando em um
remoto espaço, isolado da experiência cotidiana e totalmente impenetrável para
pessoas de fora dele.
A
democracia deixou de ser funcional para o desenvolvimento econômico e, de fato,
tornou-se uma ameaça ao desempenho do novo modelo de crescimento. Portanto,
teve que ser dissociada da economia. Foi aí que nasceu a "pós-democracia".
Nas
etapas acima, Streeck descreve a situação dos países da OCDE, na qual não nos
encaixamos. Mas não é difícil enxergar estágios semelhantes em nossa trajetória
do final da ditadura militar aos governos petistas.
Mas
“pós-democracia” é um conceito que possivelmente faça sentido somente para sociedades que realmente viveram períodos de liberdades
significativas. Em nosso caso, talvez estejamos mais para uma infindável
transição pós-ditadura com inúmeros riscos de recaída.
De
qualquer maneira, e com algum atraso, também chegamos à fase da política
comandada pela economia.
Fundamental
lembrar disso às vésperas de outra eleição.
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