Doses maiores

1 de julho de 2024

Plano Real: democracia tutelada e fascismo

Os 30 anos do Plano Real estão sendo comemorados com muita festa e unanimidade pelas grandes mídias. Segundo os promotores dessas celebrações, o único objetivo da política econômica é controlar a inflação, mesmo que isso implique manter uma das piores concentrações de riqueza do planeta.

Um bom texto para entender esse fenômeno é “Por outra história do Real”, publicado por Luiz Filgueiras no portal Outras Palavras. Mas lembremos rapidamente a que finalidades realmente serviu o surgimento do Real.

Na época da inflação galopante da década de 1980, as lutas sindicais estavam no centro do cenário social, com greves grandes e frequentes. Os trabalhadores se envolviam em conflitos diretos com um adversário visível, os patrões.

Quando a inflação diminuiu drasticamente, em meados dos anos 90, as greves também se reduziram e a defesa de conquistas e direitos contra a lógica dos mercados mudou para a arena eleitoral.

Logo a seguir, impôs-se a austeridade fiscal, que levou a vida de milhões a depender de decisões de entidades multilaterais, grandes corporações financeiras e outras instituições semelhantes. Todas situadas em lugares isolados da experiência cotidiana e totalmente impenetráveis à pressão popular.

A democracia foi definitivamente dissociada da economia. O mandato dos bancos centrais tornou-se mais importante que os dos governantes e parlamentares. A já limitada vontade popular expressa pelo voto quase completamente tutelada pelos dogmas do neoliberalismo.

Era a mais recente metamorfose de uma democracia que sempre foi de fachada. Uma dominação secular autoritária que continua a convocar as feras do fascismo para defendê-la, cada vez que suas promessas de prosperidade se revelam falsas e despertam a revolta popular.

Leia também: Na pós-democracia, a política comandada pela economia

3 comentários:

  1. Gostaria mesmo de ter outra visão. A Pílula aponta outro entendimento, mas tem coisas que precisam ser mais aprofundadas. Tem a questão da inflação e como ela comia o salário dos trabalhadores (sim, grande bandeira do neoliberalismo para ganhar os trabalhadores), a implicação disso com a não resposta dos trabalhadores à nova dinâmica do neoliberalismo com Plano Real e outros. Não sei se foi só o Plano Real que afetou a lutas dos trabalhadores que se dava naquele momento. Vou ler o texto recomendado.

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  2. Claro que não foi só o Plano Real. Aliás nenhum processo social ou histórico é monocausal. Mas sem dúvida o lançamento do Real mudou os rumos da disputa. Basta lembrar que o Lula vinha com tudo pra ganhar a eleição de 94, depois do impeachment do Collor, e FHC ganhou no primeiro turno! Foi quase uma bala de prata da burguesia. Mas os texto recomendado tem tudo isso e muito mais. Volto a recomendar a leitura. Abraço

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  3. Eu li o artigo. Ele tem um tratamento da economia com quem já conhece razoavelmente de muitos termos econômicos e desdobramentos básicos, o que não é o meu caso. Mas mesmo assim achei que valeu. Mas, vamos e venhamos, vamos reconhecer, acertaram, e acertaram muito bem essa bala de prata.

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