O Conselho de Segurança da ONU e a União Européia aprovaram sanções contra Muamar Kadafi. Ou seja, os poderosos do mundo se voltaram contra o ditador. Nessa situação, algumas forças de esquerda caem na tentação de ver no governante líbio um aliado. Não é nada disso.
Kadafi assumiu o poder através de um golpe de estado contra um regime monárquico, em 1969. Aproveitou a Guerra Fria para se alinhar ao imperialismo soviético. Nada a ver com socialismo ou o poder para o povo. Só uma maneira de se posicionar no tabuleiro mundial de modo a ganhar vantagens.
Nessas quatro décadas, o ditador líbio já expulsou bases militares americanas e inglesas de seu país. Apoiou a causa palestina. Logo depois, expulsou palestinos da Líbia. Teve sua residência oficial bombardeada por Reagan. Finalmente, aderiu à Guerra ao Terror de Bush.
Desde então, tornou-se queridinho de gigantes do petróleo como BP, Exxon e Chevron. Protegido de Raytheon e Northrop, corporações da indústria armamentista. Virou compadre de multinacionais como a Dow Chemical.Tudo isso sem falar na total falta de democracia e participação popular.
Kadafi não é aliado da esquerda mundial só porque os poderosos do planeta deram-lhe as costas. O que o imperialismo quer é apagar o pavio que incendeia o mundo árabe. Deter as revoltas populares que ameaçam seus interesses numa das regiões mais valiosas do planeta.
Não é verdade que aqueles que incomodam os imperialistas são necessariamente nossos aliados. Pensar assim é fazer o jogo que interessa ao inimigo. É confundir socialismo com ditadura política, personalismo, fanatismo, conservadorismo, estupidez.
Leia também: A ditadura do mito do socialismo ditador
Blog de Sérgio Domingues, com comentários curtos sobre assuntos diversos, procurando sempre ajudar no combate à exploração e opressão.
Doses maiores
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28 de fevereiro de 2011
25 de fevereiro de 2011
A cor da violência
Belo Horizonte, dia 19/02. Jéferson Coelho da Silva, 17 anos, e Remilson Veriano da Silva, 39 anos, foram mortos pela polícia na favela Aglomerado da Serra. Ambos eram negros. Foi o bastante para que parte dos 50 mil moradores do local iniciasse uma rebelião que durou três dias. A população local alega que as mortes foram resultado de execução. As primeiras investigações confirmam a suspeita.
Quatro dias depois do episódio, foi lançado o Mapa da Violência 2011. Os dados mostram que o caso de Belo Horizonte é só mais um entre muitos. Segundo o estudo, o número de assassinatos caiu. Mas, só para os brancos.
Entre os brancos, o número de mortos era de 20,6 por 100 mil habitantes, em 2002. Caiu para 15,9, em 2008. Em 2002, foram 30 homicídios para cada 100 mil negros. Em 2008, esse número pulou para 33,6. Remilson sentiu esse aumento em sua pele negra.
A pior situação é verificada entre os jovens. A taxa de homicídios caiu 30% para brancos de 15 a 24 anos. Mas, para pretos e pardos na mesma faixa etária, subiu 13%. A morte de Jéferson ajuda a reforçar essa estatística terrível.
Detalhe: estes números não incluem os “autos de resistência”. Trata-se da forma legal que muitas vezes esconde assassinatos cometidos pela polícia. Não passam de homicídios como quaisquer outros. E atingem principalmente os não brancos.
O racismo à brasileira diz que basta melhorar as condições sociais para beneficiar a população negra. Não é o que dizem os números acima. O preconceito de cor continua forte e faz cada vez mais vítimas.
Quatro dias depois do episódio, foi lançado o Mapa da Violência 2011. Os dados mostram que o caso de Belo Horizonte é só mais um entre muitos. Segundo o estudo, o número de assassinatos caiu. Mas, só para os brancos.
Entre os brancos, o número de mortos era de 20,6 por 100 mil habitantes, em 2002. Caiu para 15,9, em 2008. Em 2002, foram 30 homicídios para cada 100 mil negros. Em 2008, esse número pulou para 33,6. Remilson sentiu esse aumento em sua pele negra.
A pior situação é verificada entre os jovens. A taxa de homicídios caiu 30% para brancos de 15 a 24 anos. Mas, para pretos e pardos na mesma faixa etária, subiu 13%. A morte de Jéferson ajuda a reforçar essa estatística terrível.
Detalhe: estes números não incluem os “autos de resistência”. Trata-se da forma legal que muitas vezes esconde assassinatos cometidos pela polícia. Não passam de homicídios como quaisquer outros. E atingem principalmente os não brancos.
O racismo à brasileira diz que basta melhorar as condições sociais para beneficiar a população negra. Não é o que dizem os números acima. O preconceito de cor continua forte e faz cada vez mais vítimas.
24 de fevereiro de 2011
Quando o berço da história faz história
Há algum tempo, a ciência considera o continente africano o berço da espécie humana. Lugar de nascimento do único animal que faz história. Fato jamais reconhecido antes. Vejamos, por exemplo, o que dizem dois autores respeitados do século 19:
A África não é um continente histórico; ela não demonstra nem mudança nem desenvolvimento. (...) [Os povos negros] são incapazes de se desenvolver e de receber uma educação. Eles sempre foram tal como os vemos hoje.
Hegel (1770‑1831) em seu livro “Filosofia da História”
O negro, coletivamente, não progredirá além de um determinado ponto, que não merecerá consideração; mentalmente ele permanecerá uma criança.
Richard Burton (1821‑1890), tradutor de “As mil e uma noites”, em seu livro “Mission to Gelele, King of Dahomey”
Estas duas citações são da “História Geral da África”, lançada em 1964 pela Unesco. Trata-se de uma iniciativa muito importante. Segundo a página da Unesco:
A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Só agora a obra foi publicada em português. Idioma do país com a maior população negra fora da África. Mas, o pior não é isso. Foram precisos muitos séculos para que se reconhecesse ao povo africano o direito a ter sua própria história. Diante disso, mesmo a importante iniciativa da Unesco é tímida. Ainda assim, é uma obra de fôlego.
Abaixo, algumas citações do primeiro volume:
Viver sem história é ser uma ruína ou trazer consigo as raízes de outros. É renunciar à possibilidade de ser raiz para outros que vêm depois. É aceitar, na maré da evolução humana, o papel anônimo de plâncton ou de protozoário.
Joseph Ki‑Zerbo, editor da História Geral da África
Pode ser que, no futuro, haja uma história da África para ser ensinada. No presente, porém, ela não existe; o que existe é a história dos europeus na África. O resto são trevas… e as trevas não constituem tema de história.
Hugh Trevor-Hoper, professor da Universidade de Oxford, em palestra apresentada em 1963
Lineu, no século XVIII, dividia a espécie humana em seis raças: americana, europeia, africana, asiática, selvagem e monstruosa. Com certeza, os racistas se encontram numa ou noutra das duas últimas categorias.
J. Ki‑Zerbo, no capítulo “Teorias relativas às ‘raças’ e história da África”
A obra merece leitura, estudo e debate. Veio no momento certo. Exatamente quando os povos árabes do norte da África estão colocando seus ditadores porta a fora. Fazem história a queima-roupa.
Baixe a coleção na íntegra no site da Unesco.
Leia também: Inteligência haitiana contra o racismo
23 de fevereiro de 2011
Números de um país injusto
O reajuste do salário mínimo continua em debate. As principais propostas defendem não mais que uns 8% de aumento. Enquanto isso, os 10 maiores bancos brasileiros tiveram lucros 28% acima dos verificados em 2009.
São números da reportagem de Roberta Scrivano publicada em 23/02 em O Estado de S. Paulo. Nela, um analista da consultoria Austin Rating explica os bons resultados. Segundo Luís Miguel Santacreu, devem-se principalmente ao aumento no crédito e à diminuição das perdas com calotes.
Ou seja, muita gente pegando dinheiro emprestado e pagando em dia. Seria bom, não fossem os juros ao consumidor na casa dos 90% anuais. O enorme lucro dos bancos é produto da imensa diferença entre compras à vista e aquisições a prazo. As primeiras, acessíveis a muito poucos.
E por falar em minoria, em 20/02, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou dados do Banco Central da Suíça. Eles revelam que “brasileiros mantêm ao menos US$ 6 bilhões” em bancos daquele país. Trata-se de números oficiais. A reportagem diz que ex-funcionários de bancos na Suíça avaliam que o montante real pode ser 10 vezes maior.
A matéria informa também que, entre 2005 e 2009, “o BC suíço aponta a entrada de mais US$ 1,1 bilhão do Brasil”. É o maior volume entre os chamados “países emergentes”. Com isso, o “total da fortuna mantida por brasileiros na Suíça já é superior aos de China, Índia e Arábia Saudita”.
Mesmo quando as coisas melhoram para o povo, sua vida continua muito pior que a de sua elite. E tamanha abundância para poucos é conseqüência de grandes privações para muitos.
Leia também: Misérias da estatística
São números da reportagem de Roberta Scrivano publicada em 23/02 em O Estado de S. Paulo. Nela, um analista da consultoria Austin Rating explica os bons resultados. Segundo Luís Miguel Santacreu, devem-se principalmente ao aumento no crédito e à diminuição das perdas com calotes.
Ou seja, muita gente pegando dinheiro emprestado e pagando em dia. Seria bom, não fossem os juros ao consumidor na casa dos 90% anuais. O enorme lucro dos bancos é produto da imensa diferença entre compras à vista e aquisições a prazo. As primeiras, acessíveis a muito poucos.
E por falar em minoria, em 20/02, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou dados do Banco Central da Suíça. Eles revelam que “brasileiros mantêm ao menos US$ 6 bilhões” em bancos daquele país. Trata-se de números oficiais. A reportagem diz que ex-funcionários de bancos na Suíça avaliam que o montante real pode ser 10 vezes maior.
A matéria informa também que, entre 2005 e 2009, “o BC suíço aponta a entrada de mais US$ 1,1 bilhão do Brasil”. É o maior volume entre os chamados “países emergentes”. Com isso, o “total da fortuna mantida por brasileiros na Suíça já é superior aos de China, Índia e Arábia Saudita”.
Mesmo quando as coisas melhoram para o povo, sua vida continua muito pior que a de sua elite. E tamanha abundância para poucos é conseqüência de grandes privações para muitos.
Leia também: Misérias da estatística
22 de fevereiro de 2011
A ração nossa de cada dia
“Dez empresas dominam o mercado global da produção de alimentos”. É o que diz reportagem de Vivian Oswald publicada pelo jornal O Globo em 20/02/2011. Segundo a matéria, entre essas empresas estão Cargill, Bunge, Louis Dreyfus e ADM. Elas concentram “cerca de 67% das marcas registradas de sementes e 89% dos agroquímicos”.
Ainda segundo a reportagem, as redes de supermercados Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar controlam metade dos alimentos comercializados no Brasil. Como resultado, esses monopólios têm enorme poder para controlar os preços dos alimentos. Daí, as dificuldades para reduzi-los.
A matéria de O Globo chama a atenção para outra conseqüência desse monopólio. A reportagem ouviu o diretor de Política agrícola e Informações da (Conab), Silvio Porto. Ele disse que as redes de supermercados brasileiras impõem até o tipo de sementes que pode ser plantado. Com isso, eles:
Os capitalistas costumam acusar o socialismo de uniformizar a vida social. Mas, a monopolização capitalista está padronizando até nosso cardápio diário. Só se distingue do falso comunismo de tipo soviético pelo colorido vulgar da publicidade. E pela competência muito maior em transformar comida em ração.
Leia também: Comodidade que mata de fome
Ainda segundo a reportagem, as redes de supermercados Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar controlam metade dos alimentos comercializados no Brasil. Como resultado, esses monopólios têm enorme poder para controlar os preços dos alimentos. Daí, as dificuldades para reduzi-los.
A matéria de O Globo chama a atenção para outra conseqüência desse monopólio. A reportagem ouviu o diretor de Política agrícola e Informações da (Conab), Silvio Porto. Ele disse que as redes de supermercados brasileiras impõem até o tipo de sementes que pode ser plantado. Com isso, eles:
“...determinam uma espécie de padronização nos hábitos de consumo segundo os seus próprios interesses. Ao ignorar os regionalismos, sujeitam o país inteiro às oscilações de preços sem abrir margem para a substituição de produtos por iguarias locais, obrigando o consumidor do Nordeste ao Sul a consumir os mesmos itens“, diz Porto.Só o Pão de Açúcar tem uma rede de 415 fornecedores exclusivos. É o monopólio que se transforma em monopsônio. O monopsônio surge quando um determinado mercado é dominado por um só um comprador. É um cliente todo poderoso, que impõe seus interesses aos pequenos produtores.
Os capitalistas costumam acusar o socialismo de uniformizar a vida social. Mas, a monopolização capitalista está padronizando até nosso cardápio diário. Só se distingue do falso comunismo de tipo soviético pelo colorido vulgar da publicidade. E pela competência muito maior em transformar comida em ração.
Leia também: Comodidade que mata de fome
21 de fevereiro de 2011
Revolução Árabe ameaça capital brasileiro
Agora é na Líbia. Manifestantes teriam colocado fogo em prédios públicos. O ditador Muammar Kadafi ordenou bombardeios aéreos contra a população revoltada. Em meio a tudo isso, a imprensa destaca a situação de 130 empregados brasileiros da construtora Queiroz Galvão. Há pedidos para que a Força Aérea Brasileira os retirem de lá.
Isso nos faz lembrar que não são apenas os interesses do imperialismo americano e europeu que podem ser atingidos pelas revoluções no mundo árabe. O grande capital brasileiro está presente no Oriente Médio desde a época dos militares. Uma aproximação que fazia parte do rompimento da ditadura com o alinhamento automático aos Estados Unidos. Desde então, a presença de capital brasileiro na região só cresceu.
Entre 2003 e 2009, as transações comerciais entre o Brasil e países do Oriente Médio passaram de US$ 4,4 bilhões para 10,6 bilhões. Os negócios envolvem principalmente a construção civil, com forte presença das empreiteiras Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão. Mas, empresas como a Brasil Foods (Sadia e Perdigão), Vale do Rio Doce, Tubos Tigre, Boticário, Via Uno e Arrezzo também estão por lá.
A presença empresarial brasileira também chega à Líbia. E inclui a polícia de Kadafi. Os veículos projetados para reprimir manifestantes foram feitos aqui. São fabricados pela Centigon Brasil, filial brasileira da empresa americana O'Gara-Hess & Eisenhardt.
Não se sabe ao certo como vai acabar a onda de revolta nos países árabes e islâmicos. O ideal seria que as ditaduras e seus apoiadores capitalistas fossem devidamente castigados. E que tanto o imperialismo veterano, como o “imperialismo jr.” brasileiro fossem derrotados.
Leia também: O Irã e o “imperialismo jr.” brasileiro
Isso nos faz lembrar que não são apenas os interesses do imperialismo americano e europeu que podem ser atingidos pelas revoluções no mundo árabe. O grande capital brasileiro está presente no Oriente Médio desde a época dos militares. Uma aproximação que fazia parte do rompimento da ditadura com o alinhamento automático aos Estados Unidos. Desde então, a presença de capital brasileiro na região só cresceu.
Entre 2003 e 2009, as transações comerciais entre o Brasil e países do Oriente Médio passaram de US$ 4,4 bilhões para 10,6 bilhões. Os negócios envolvem principalmente a construção civil, com forte presença das empreiteiras Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão. Mas, empresas como a Brasil Foods (Sadia e Perdigão), Vale do Rio Doce, Tubos Tigre, Boticário, Via Uno e Arrezzo também estão por lá.
A presença empresarial brasileira também chega à Líbia. E inclui a polícia de Kadafi. Os veículos projetados para reprimir manifestantes foram feitos aqui. São fabricados pela Centigon Brasil, filial brasileira da empresa americana O'Gara-Hess & Eisenhardt.
Não se sabe ao certo como vai acabar a onda de revolta nos países árabes e islâmicos. O ideal seria que as ditaduras e seus apoiadores capitalistas fossem devidamente castigados. E que tanto o imperialismo veterano, como o “imperialismo jr.” brasileiro fossem derrotados.
Leia também: O Irã e o “imperialismo jr.” brasileiro
19 de fevereiro de 2011
Trovão, o herói podre da mídia
O massacre da favela do Alemão, no Rio de Janeiro, aconteceu em junho de 2007. Foi o resultado de uma operação coordenada entre a Força Nacional de Segurança e as polícias estaduais que deixou pelo menos 19 mortos.
Na época, a grande mídia só fez elogios. E elegeu até um herói para simbolizar a operação. Era o inspetor Leonardo da Silva Torres. Mais conhecido como “Trovão”. Ele aparece na capa da revista Época, de 29 de junho. Leva num braço o fuzil e na mão um charuto. Atrás dele, três corpos estendidos. Sob o título “Um ataque inovador”, a legenda explica que ele:
Mais detalhes: O Iraque é aqui
Na época, a grande mídia só fez elogios. E elegeu até um herói para simbolizar a operação. Era o inspetor Leonardo da Silva Torres. Mais conhecido como “Trovão”. Ele aparece na capa da revista Época, de 29 de junho. Leva num braço o fuzil e na mão um charuto. Atrás dele, três corpos estendidos. Sob o título “Um ataque inovador”, a legenda explica que ele:
“...encarna não só a batalha no Alemão, mas a força policial inovadora que hoje combate nos morros. Formado pela Swat americana e pelo Centro de Inteligência da Marinha Brasileira, Torres integrou a patrulha avançada de ocupação do Alemão. Seu uniforme de campanha e o charuto que mantém aceso mesmo em serviço deram uma cara nova aos agentes da invasão. Mais que isso, eles fizeram de Trovão alguém com quem a população pode se identificar”.Agora, em fevereiro de 2011, Trovão volta a aparecer nos jornais. Eis um trecho de matéria do Extra de 12/02:
Integrado por cinco policiais e um informante, o grupo de policiais chefiado pelo inspetor Leonardo da Silva Torres, o Trovão, é apontado pela PF como responsável pela venda de pistolas, metralhadoras e fuzis apreendidos em operações policiais para os traficantes Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol e Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha. De acordo com a investigação, os policiais são acusados ainda de receber do tráfico uma propina mensal de R$ 100 mil.Trovão não é nenhum herói. Além de carniceiro, se mostrou corrupto. A grande imprensa deveria se explicar. Não vai fazê-lo. Vai continuar a elogiar ações militarizadas e violentas contra a população pobre, como está fazendo com as UPPs.
Mais detalhes: O Iraque é aqui
18 de fevereiro de 2011
A vitória neoliberal de Dilma
Os deputados federais aprovaram o novo salário mínimo do jeito que o governo queria. Mas, os R$ 545,00 foram uma vitória de direita. É verdade que o DEM queria um reajuste maior. Mas, por oportunismo rasteiro. As centrais sindicais e outros setores populares e de esquerda também defendiam um valor maior.
Em seu primeiro grande teste no Congresso, Dilma se saiu bem. Trata-se da segunda vitória mais expressiva do PT neste tipo de votação desde que assumiu o governo federal. É o que diz reportagem de Ranier Bragon e Maria Clara Cabral para a Folha de S. Paulo, de hoje.
Foram 361 votos contra 120. Entre os votos contrários, dois vieram de deputados petistas: Eudes Xavier (CE) e Francisco Praciano (AM). Já, o fisiológico PMDB votou 100% com o governo. Por que será?
O fato é que a vitória do governo é neoliberal. Salário mínimo com “reajuste responsável” não passa de rendição à idéia de que o problema dos gastos públicos são os assalariados, aposentados e pensionistas. Ninguém falou da enorme dívida pública, que paga os maiores juros do mundo e beneficia somente os ricos.
O sucesso de Dilma lembra outras grandes vitórias no Congresso em início de governo. Fernando Collor aprovou o confisco dos saldos bancários. Fernando Henrique iniciou a privatizações em massa. Lula aprovou uma reforma da Previdência que completou aquela que os tucanos começaram.
A votação do Mínimo é só uma amostra do que vem por aí. A base do governo montada por Lula tem uma grande e quase única vocação: aprovar propostas de direita e conservadoras.
Leia também:
O mínimo dos pelegos
A cama de Dilma
Em seu primeiro grande teste no Congresso, Dilma se saiu bem. Trata-se da segunda vitória mais expressiva do PT neste tipo de votação desde que assumiu o governo federal. É o que diz reportagem de Ranier Bragon e Maria Clara Cabral para a Folha de S. Paulo, de hoje.
Foram 361 votos contra 120. Entre os votos contrários, dois vieram de deputados petistas: Eudes Xavier (CE) e Francisco Praciano (AM). Já, o fisiológico PMDB votou 100% com o governo. Por que será?
O fato é que a vitória do governo é neoliberal. Salário mínimo com “reajuste responsável” não passa de rendição à idéia de que o problema dos gastos públicos são os assalariados, aposentados e pensionistas. Ninguém falou da enorme dívida pública, que paga os maiores juros do mundo e beneficia somente os ricos.
O sucesso de Dilma lembra outras grandes vitórias no Congresso em início de governo. Fernando Collor aprovou o confisco dos saldos bancários. Fernando Henrique iniciou a privatizações em massa. Lula aprovou uma reforma da Previdência que completou aquela que os tucanos começaram.
A votação do Mínimo é só uma amostra do que vem por aí. A base do governo montada por Lula tem uma grande e quase única vocação: aprovar propostas de direita e conservadoras.
Leia também:
O mínimo dos pelegos
A cama de Dilma
17 de fevereiro de 2011
O mínimo dos pelegos
Os deputados federais aprovaram o novo salário mínimo. Ficou em R$ 545,00, como queria o governo. Menos de 7% de reajuste. A proposta ainda precisa passar pelo Senado.
Dois dias antes, houve uma sessão da comissão mista sobre a questão no plenário da Câmara. Os presidentes das principais centrais sindicais estavam presentes. Para demonstrar como era pequeno o reajuste proposto, Artur Henrique, da CUT, citou alguns números:
A argumentação dos sindicalistas parece coerente. Mas, não é. Eles apoiaram a eleição de Dilma. E os números mostrados pelo presidente da CUT são claros. Não se trata de uma opção do governo atual. Desde seu início, o governo Lula escolheu fortalecer o grande capital. Garantir uma enxurrada de lucro para banqueiros e empresários, esperando que parte dela pingasse sobre os trabalhadores.
Fossem coerentes com sua condição de sindicalistas, estariam colocando em pauta o salário mínimo do Dieese: R$ 2.200. Nada menos que isso. Mas, pelegos costumam ser assim mesmo. Negociam os farelos e migalhas que caem das mesas fartas de seus patrões. Se ela ficam raras, esperneiam para não perder a moral com seus representados. Nada mais que isso. Não fazem nem o mínimo.
Leia também: Alguns pelegos com Serra. Muitos com Dilma
Dois dias antes, houve uma sessão da comissão mista sobre a questão no plenário da Câmara. Os presidentes das principais centrais sindicais estavam presentes. Para demonstrar como era pequeno o reajuste proposto, Artur Henrique, da CUT, citou alguns números:
O Bradesco teve lucro de 10 bilhões de reais em 2010. O Santander, de 7 bilhões. A Caixa Econômica Federal, de 3,8 bilhões. As 327 empresas brasileiras com ações na bolsa de valores tiveram aumento de seus lucros na casa de 48, 5% em relação ao ano retrasado. Enquanto isso, a participação dos salários na renda nacional saiu de 40,5% no ano 2000 para 41,9%. Absolutamente um pequenino aumento. Só para comparar: em países como os Estados Unidos, a Suécia, a Itália e Portugal, a participação do trabalho varia de 67% a 72% da renda nacional.Paulinho, presidente da Força Sindical, lembrou que a diferença entre o que defendiam os sindicalistas e a proposta do governo era de R$ 15. Mensalmente, representaria somente “R$ 0,50 por dia no bolso do trabalhador”, disse. Wagner Gomes, presidente da CTB, foi mais claro: “O que estamos pedindo aqui é um pouco do tratamento que vem sendo dado aos banqueiros”.
A argumentação dos sindicalistas parece coerente. Mas, não é. Eles apoiaram a eleição de Dilma. E os números mostrados pelo presidente da CUT são claros. Não se trata de uma opção do governo atual. Desde seu início, o governo Lula escolheu fortalecer o grande capital. Garantir uma enxurrada de lucro para banqueiros e empresários, esperando que parte dela pingasse sobre os trabalhadores.
Fossem coerentes com sua condição de sindicalistas, estariam colocando em pauta o salário mínimo do Dieese: R$ 2.200. Nada menos que isso. Mas, pelegos costumam ser assim mesmo. Negociam os farelos e migalhas que caem das mesas fartas de seus patrões. Se ela ficam raras, esperneiam para não perder a moral com seus representados. Nada mais que isso. Não fazem nem o mínimo.
Leia também: Alguns pelegos com Serra. Muitos com Dilma
16 de fevereiro de 2011
Praga bendita ataca a Monsanto
A multinacional Monsanto produz 90% das plantas transgênicas do planeta. Seu maior sucesso é a soja resistente a pesticidas baseados em glifosato. Desse modo, o agrotóxico pode ser usado em plantações em grandes quantidades sem afetar a planta. Aumenta a produtividade, mas suja o ambiente e causa dependência econômica.
Os produtores brasileiros pagaram cerca de R$ 1 bilhão em royalties à Monsanto somente na safra 2009/2010. Além disso, a empresa divide com a Nortox a fabricação de quase toda a produção nacional de glifosato. E outras 32 patentes envolvendo o produto estão sob domínio da Monsanto. Portanto, as duas multinacionais dominam praticamente todas as etapas de produção do herbicida. Puro monopólio econômico.
Como se não bastasse, os transgênicos contaminam cada vez mais plantações convencionais. Isso acaba obrigando os agricultores que não optaram pelo produto da Monsanto a fazê-lo. Puro monopólio econômico e autêntica peste capitalista.
As más notícias não acabam aí. Já há registros de plantas consideradas daninhas que desenvolveram resistência ao glifosato. Os produtores podem ser obrigados a aumentar a dose do produto, elevando os custos e envenenando ainda mais o ambiente.
Mas, nem tudo é tão ruim. Uma espécie vegetal chamada “Amaranto Inca Kiwicha” está tomando conta de plantações de soja transgênica da Monsanto nos Estados Unidos. O fenômeno já atinge 20 estados. Agricultores americanos tiveram que abandonar 5 mil hectares de soja e mais 50 mil estão seriamente ameaçados.
Dizem que o Amaranto era uma erva considerada sagrada por incas e astecas. Está se tornando uma praga para a Monsanto. Bendita seja!
Leia também: Agronegócio improdutivo
Os produtores brasileiros pagaram cerca de R$ 1 bilhão em royalties à Monsanto somente na safra 2009/2010. Além disso, a empresa divide com a Nortox a fabricação de quase toda a produção nacional de glifosato. E outras 32 patentes envolvendo o produto estão sob domínio da Monsanto. Portanto, as duas multinacionais dominam praticamente todas as etapas de produção do herbicida. Puro monopólio econômico.
Como se não bastasse, os transgênicos contaminam cada vez mais plantações convencionais. Isso acaba obrigando os agricultores que não optaram pelo produto da Monsanto a fazê-lo. Puro monopólio econômico e autêntica peste capitalista.
As más notícias não acabam aí. Já há registros de plantas consideradas daninhas que desenvolveram resistência ao glifosato. Os produtores podem ser obrigados a aumentar a dose do produto, elevando os custos e envenenando ainda mais o ambiente.
Mas, nem tudo é tão ruim. Uma espécie vegetal chamada “Amaranto Inca Kiwicha” está tomando conta de plantações de soja transgênica da Monsanto nos Estados Unidos. O fenômeno já atinge 20 estados. Agricultores americanos tiveram que abandonar 5 mil hectares de soja e mais 50 mil estão seriamente ameaçados.
Dizem que o Amaranto era uma erva considerada sagrada por incas e astecas. Está se tornando uma praga para a Monsanto. Bendita seja!
Leia também: Agronegócio improdutivo
15 de fevereiro de 2011
Entre a ilha egípcia e o outubro árabe
Em artigo para o jornal Página 12 sobre a Revolução no Egito, o sociólogo argentino Atilio Boron disse o seguinte:
O repórter perguntou o que Halim pretende fazer após a queda de Mubarak: “Entrar para a política?” Não, disse o jovem: “Quero ir para uma ilha com minha mulher amada, que ainda não encontrei, e o meu notebook."
Os militares estão no poder no Egito. Revogaram a constituição e as leis autoritárias. Mas, pretendem proibir greves e manifestações. Querem o povo de volta a suas casas. Prometem eleições. Só não dizem para quando. A oposição moderada não tem pressa. O regime continua intacto.
Infelizmente, o jovem Halim pretende fazer aquilo que interessa aos que estão no poder. Já, a realização das esperanças de Boron depende de muitas variáveis. Uma delas é a continuidade e a radicalização das ações de rua. Não apenas no Egito. É preciso fazer tremer os governos amigos dos Estados Unidos na região. Mas, também o conservadorismo que domina o Irã.
A revolução egípcia precisa tornar-se revolução árabe. Avançar o quanto puder pelo Oriente Médio e África. Não pode ficar ilhada. Do contrário, vencerá o individualismo de Halim. Será derrotada a luta popular contra o imperialismo e a opressão.
Leia também:
Colocar pra fora todos os camelos
Socialistas e muçulmanos: unidade necessária
Esse fevereiro de 2011 bem poderia resultar na reedição de outro, acontecido em 1917, na Rússia, onde também se ganhou uma batalha crucial, que oito meses mais tarde, dá nascimento a uma revolução que, com suas conquistas e seus defeitos, mudou o curso da História contemporânea. É cedo demais para formular prognósticos de longo prazo. Mas, quem poderia agora se atrever a descartar a possibilidade de que o mundo árabe também tenha seu outubro?Lourival Sant'Anna publicou reportagem para O Estado de S.Paulo, em 15/02. Fala sobre um dos líderes do movimento que derrubou Mubarak. É Halim Henish, 22 anos, estudante de direito e um dos fundadores do movimento “Justiça e Liberdade”. Sua principal arma de agitação foi uma página criada no Facebook pelo diretor de Marketing do Google, Wael Ghonim.
O repórter perguntou o que Halim pretende fazer após a queda de Mubarak: “Entrar para a política?” Não, disse o jovem: “Quero ir para uma ilha com minha mulher amada, que ainda não encontrei, e o meu notebook."
Os militares estão no poder no Egito. Revogaram a constituição e as leis autoritárias. Mas, pretendem proibir greves e manifestações. Querem o povo de volta a suas casas. Prometem eleições. Só não dizem para quando. A oposição moderada não tem pressa. O regime continua intacto.
Infelizmente, o jovem Halim pretende fazer aquilo que interessa aos que estão no poder. Já, a realização das esperanças de Boron depende de muitas variáveis. Uma delas é a continuidade e a radicalização das ações de rua. Não apenas no Egito. É preciso fazer tremer os governos amigos dos Estados Unidos na região. Mas, também o conservadorismo que domina o Irã.
A revolução egípcia precisa tornar-se revolução árabe. Avançar o quanto puder pelo Oriente Médio e África. Não pode ficar ilhada. Do contrário, vencerá o individualismo de Halim. Será derrotada a luta popular contra o imperialismo e a opressão.
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Socialistas e muçulmanos: unidade necessária
14 de fevereiro de 2011
Redes sociais não fazem revolução, mesmo
Pesquisa da agência JWT foi divulgada em 08/02, durante Social Media Week São Paulo. O estudo mostra que a maioria dos que mantém blogs e participam de Twitter, Facebook, Orkut baseiam sua troca de conteúdo e opiniões naquilo que publicam as grandes empresas de comunicação.
A pesquisa analisou mais de 7.400 matérias de 2010, do "Jornal Nacional" e das revistas "Época" e "Veja". Os dados referentes às redes sociais foram colhidos através das ferramentas “Google Trends”, “Google Em Tempo Real” e relatórios divulgados no final do ano pelo Twitter e pelo Facebook.
O vice-presidente de planejamento da JWT, Ken Fujioka, concedeu entrevista à Folha sobre o estudo. Ele cita uma das hipóteses para explicar a pouca influência das redes sociais no Brasil: "Quanto mais fragmentada a audiência, mais propício é o ambiente para que os blogs sejam influentes. E no Brasil a internet é muito concentrada."
A matéria da Folha informa que os sete principais portais brasileiros concentram 75% de todas as visitas do Brasil. Estamos falando de UOL, Terra, iG, Globo.com, Google, YouTube e Orkut. Fujioka diz que a "concentração é resultado da competência desses portais". E completa: “os blogueiros que fazem sucesso no Brasil acabam sendo absorvidos pelos portais".
Ao que Fujioka chama de competência, damos o nome de monopólio. A internete sofre do mesmo mal que ataca as outras mídias: elevada concentração da propriedade. A conseqüência é uma enorme influência sobre como devemos agir e pensar.
Leia também: Redes sociais não fazem revolução
A pesquisa analisou mais de 7.400 matérias de 2010, do "Jornal Nacional" e das revistas "Época" e "Veja". Os dados referentes às redes sociais foram colhidos através das ferramentas “Google Trends”, “Google Em Tempo Real” e relatórios divulgados no final do ano pelo Twitter e pelo Facebook.
O vice-presidente de planejamento da JWT, Ken Fujioka, concedeu entrevista à Folha sobre o estudo. Ele cita uma das hipóteses para explicar a pouca influência das redes sociais no Brasil: "Quanto mais fragmentada a audiência, mais propício é o ambiente para que os blogs sejam influentes. E no Brasil a internet é muito concentrada."
A matéria da Folha informa que os sete principais portais brasileiros concentram 75% de todas as visitas do Brasil. Estamos falando de UOL, Terra, iG, Globo.com, Google, YouTube e Orkut. Fujioka diz que a "concentração é resultado da competência desses portais". E completa: “os blogueiros que fazem sucesso no Brasil acabam sendo absorvidos pelos portais".
Ao que Fujioka chama de competência, damos o nome de monopólio. A internete sofre do mesmo mal que ataca as outras mídias: elevada concentração da propriedade. A conseqüência é uma enorme influência sobre como devemos agir e pensar.
Leia também: Redes sociais não fazem revolução
11 de fevereiro de 2011
Colocar pra fora todos os camelos
Era uma vez uma casa superlotada. Cheia de gente, amontoada, vivendo mal e mal se agüentando. Aí, alguém colocou um camelo no meio da sala. O tamanho, o cheiro e o jeito sem jeito do bicho pioraram muito a situação. Passado um tempo, alguém levou embora o camelo. Todos ficaram aliviados. Nem notaram que continuavam habitando uma casa insuportável.
Este é o risco que corre o povo egípcio. Hoje, Hosni Mubarak pode estar fazendo o papel de um bicho insuportável. Sua retirada é mais do que necessária. Mas a saída voluntária pode ser conveniente para quem o colocou lá. O Egito é importante demais no jogo sujo dos imperialistas no Oriente Médio.
É o país com maior população na região. Tem grande produção de petróleo. Conta com o segundo maior auxílio militar dos Estados Unidos, atrás de Israel. Achar que as Forças Armadas são um mal menor, por exemplo, é um erro. Mubarak e seu vice são militares.
O problema não se resume a toda corrupção e autoritarismo representados pelo ditador de saída. O neoliberalismo foi aplicado no país para beneficiar o grande capital. É a maior causa da revolta do povo egípcio. O imperialismo é o principal inimigo.
A grande imprensa anda posando de campeã da liberdade. Mas, jamais denunciou a ditadura egípcia como fez com os governos da região que são mal vistos por Estados Unidos e Israel. A oposição moderada pode aproveitar a situação para vender caro seus serviços ao imperialismo.
Há muitos camelos na casa. As forças populares não devem ficar satisfeitas com a retirada de apenas alguns deles.
Leia também: Muro de Berlim ou das lamentações?
Este é o risco que corre o povo egípcio. Hoje, Hosni Mubarak pode estar fazendo o papel de um bicho insuportável. Sua retirada é mais do que necessária. Mas a saída voluntária pode ser conveniente para quem o colocou lá. O Egito é importante demais no jogo sujo dos imperialistas no Oriente Médio.
É o país com maior população na região. Tem grande produção de petróleo. Conta com o segundo maior auxílio militar dos Estados Unidos, atrás de Israel. Achar que as Forças Armadas são um mal menor, por exemplo, é um erro. Mubarak e seu vice são militares.
O problema não se resume a toda corrupção e autoritarismo representados pelo ditador de saída. O neoliberalismo foi aplicado no país para beneficiar o grande capital. É a maior causa da revolta do povo egípcio. O imperialismo é o principal inimigo.
A grande imprensa anda posando de campeã da liberdade. Mas, jamais denunciou a ditadura egípcia como fez com os governos da região que são mal vistos por Estados Unidos e Israel. A oposição moderada pode aproveitar a situação para vender caro seus serviços ao imperialismo.
Há muitos camelos na casa. As forças populares não devem ficar satisfeitas com a retirada de apenas alguns deles.
Leia também: Muro de Berlim ou das lamentações?
10 de fevereiro de 2011
Muro de Berlim ou das lamentações?
A imprensa anda dizendo que a revolução no Egito seria a “queda do muro de Berlim” do mundo árabe. Como assim?
A queda do muro de Berlim simbolizou o fim do chamado “socialismo real”. Na verdade, uma forma de capitalismo sob total controle do Estado. Os verdadeiros socialistas não tinham nada a perder com o fim dessa monstruosidade. Caiu de podre porque não conseguia competir com o capitalismo de mercado, cuja podridão era mais eficiente.
Mas, os neoliberais usaram o episódio para afirmar que não havia alternativa a não ser o capitalismo. Acabou sendo uma vitória deles. Vinte anos depois, quem perde com as revoltas no Egito? Já não há um espantalho vermelho no cenário. O monstrengo capitalista tomou conta de todo o planeta.
A queda das ditaduras árabes pode ser uma derrota para o que os imperialistas chamam de “democracia de mercado”. Formas de governo em que só interessa a liberdade para as grandes empresas lucrarem. Não importa se isso acontece sem eleições livres, direitos humanos, justiça social, liberdade religiosa.
Essa história de “muro de Berlim” é cortina de fumaça. Tenta livrar a cara do governo americano e seus aliados. Quer esconder sua responsabilidade na instalação e sustentação de ditaduras no Norte da África e no Oriente Médio. Verdadeiros cães de guarda de Israel.
Esperemos que a luta dos povos árabes revele toda essa fraude. Expulse os ditadores e traga a mais ampla liberdade. Menos a de explorar, humilhar, reprimir, perseguir. Que erga uma parede para deter o avanço capitalista. Construa um muro das lamentações para o imperialismo.
Leia também Estados Unidos: feios, sujos, malvados
A queda do muro de Berlim simbolizou o fim do chamado “socialismo real”. Na verdade, uma forma de capitalismo sob total controle do Estado. Os verdadeiros socialistas não tinham nada a perder com o fim dessa monstruosidade. Caiu de podre porque não conseguia competir com o capitalismo de mercado, cuja podridão era mais eficiente.
Mas, os neoliberais usaram o episódio para afirmar que não havia alternativa a não ser o capitalismo. Acabou sendo uma vitória deles. Vinte anos depois, quem perde com as revoltas no Egito? Já não há um espantalho vermelho no cenário. O monstrengo capitalista tomou conta de todo o planeta.
A queda das ditaduras árabes pode ser uma derrota para o que os imperialistas chamam de “democracia de mercado”. Formas de governo em que só interessa a liberdade para as grandes empresas lucrarem. Não importa se isso acontece sem eleições livres, direitos humanos, justiça social, liberdade religiosa.
Essa história de “muro de Berlim” é cortina de fumaça. Tenta livrar a cara do governo americano e seus aliados. Quer esconder sua responsabilidade na instalação e sustentação de ditaduras no Norte da África e no Oriente Médio. Verdadeiros cães de guarda de Israel.
Esperemos que a luta dos povos árabes revele toda essa fraude. Expulse os ditadores e traga a mais ampla liberdade. Menos a de explorar, humilhar, reprimir, perseguir. Que erga uma parede para deter o avanço capitalista. Construa um muro das lamentações para o imperialismo.
Leia também Estados Unidos: feios, sujos, malvados
9 de fevereiro de 2011
Lula, savana, cerrado e moto-serra
Lula, às vezes, abusa do direito de dizer besteiras. Desta vez, foi em palestra aos participantes do Fórum Social Mundial, no Senegal. Segundo o ex-presidente, o continente africano deveria dar a suas savanas o mesmo tratamento dispensado pelo Brasil ao seu cerrado.
Lula explicou que até os anos 70 “o cerrado brasileiro era considerado um deserto verde, sem condições de sustentar uma agricultura produtiva". Mas, o crescente investimento em pesquisa teria tornado esse tipo de vegetação grande fornecedora “de alimentos para o mundo” e possibilitado “a política de erradicação da fome em nosso país".
A proposta é criminosa. O cerrado é o segundo maior bioma do país. Até 2002, a destruição nessa região tinha chegado a 890 mil km2. Entre 2002 e 2008, o Ibama descobriu mais 85 mil km2 de desmatamento. Quase 15 áreas equivalentes ao tamanho do Distrito Federal. As perdas verificadas em terras indígenas, assentamentos rurais e unidades de conservação chegam a quase 8 mil km2 de matas nativas. Cerca de 36 mil estádios do tamanho do Pacaembu. Uma tragédia ambiental e social que só traz benefícios aos latifundiários do agronegócio, que lucram bilhões com plantio de soja e criação de gado.
Que os representantes africanos nos perdoem. Não pela escravidão de seus antepassados. Disso, não temos culpa. Foi obra de nossos colonizadores. Pedimos perdão pelas declarações de alguém que tem a cabeça colonizada por um desenvolvimentismo destruidor. Deveria se juntar à turma da moto-serra, com Aldo Rebelo e seus patrocinadores.
Leia também: Belo Monstro a serviço de gigantes
Lula explicou que até os anos 70 “o cerrado brasileiro era considerado um deserto verde, sem condições de sustentar uma agricultura produtiva". Mas, o crescente investimento em pesquisa teria tornado esse tipo de vegetação grande fornecedora “de alimentos para o mundo” e possibilitado “a política de erradicação da fome em nosso país".
A proposta é criminosa. O cerrado é o segundo maior bioma do país. Até 2002, a destruição nessa região tinha chegado a 890 mil km2. Entre 2002 e 2008, o Ibama descobriu mais 85 mil km2 de desmatamento. Quase 15 áreas equivalentes ao tamanho do Distrito Federal. As perdas verificadas em terras indígenas, assentamentos rurais e unidades de conservação chegam a quase 8 mil km2 de matas nativas. Cerca de 36 mil estádios do tamanho do Pacaembu. Uma tragédia ambiental e social que só traz benefícios aos latifundiários do agronegócio, que lucram bilhões com plantio de soja e criação de gado.
Que os representantes africanos nos perdoem. Não pela escravidão de seus antepassados. Disso, não temos culpa. Foi obra de nossos colonizadores. Pedimos perdão pelas declarações de alguém que tem a cabeça colonizada por um desenvolvimentismo destruidor. Deveria se juntar à turma da moto-serra, com Aldo Rebelo e seus patrocinadores.
Leia também: Belo Monstro a serviço de gigantes
8 de fevereiro de 2011
Inteligência haitiana contra o racismo
A primeira e única revolução vitoriosa feita por escravos aconteceu no Haiti, em 1791. Seu povo paga caro por isso até hoje. São mais de dois séculos de massacres organizados por seus ex-colonizadores e pelo imperialismo. Atualmente, esse tratamento cruel e covarde é promovido por tropas da ONU, travestidas de forças humanitárias.
Mas, uma história tão cheia de sombras também tem muitos personagens iluminados. É o caso de Joseph Antenor Firmin (1850–1911), provavelmente, o primeiro antropólogo negro. Sua grande obra é “Sobre a igualdade das raças humanas”, de 1885. Uma resposta ao “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas” de Arthur de Gobineau, de 1855. Esta última popularizou a estúpida idéia de que há uma superioridade racial branca.
O livro de Firmin desmonta a tese de Gobineau. Argumenta que “todos os homens são dotados das mesmas qualidade e falhas, sem distinção de cor e anatomia. As raças são iguais”. Além disso, mostra as conquistas dos povos negros. A riqueza de sua cultura na África e em outros lugares do mundo.
O infeliz tratado de Gobineau foi traduzido para várias línguas. Inspirou tragédias como o nazismo e o apartheid. Muito convenientemente, o livro de Firmin foi condenado à escuridão racista. Ainda que seja considerada obra fundadora da antropologia moderna, só foi traduzida para o inglês, recentemente.
Em pleno século 21, a luta contra o racismo continua dura. A tradução e ampla divulgação da obra de Firmin certamente jogaria alguma luz sobre uma noite que teima em fugir do amanhecer.
Leia também: Bolcheviques contra o racismo
Mas, uma história tão cheia de sombras também tem muitos personagens iluminados. É o caso de Joseph Antenor Firmin (1850–1911), provavelmente, o primeiro antropólogo negro. Sua grande obra é “Sobre a igualdade das raças humanas”, de 1885. Uma resposta ao “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas” de Arthur de Gobineau, de 1855. Esta última popularizou a estúpida idéia de que há uma superioridade racial branca.
O livro de Firmin desmonta a tese de Gobineau. Argumenta que “todos os homens são dotados das mesmas qualidade e falhas, sem distinção de cor e anatomia. As raças são iguais”. Além disso, mostra as conquistas dos povos negros. A riqueza de sua cultura na África e em outros lugares do mundo.
O infeliz tratado de Gobineau foi traduzido para várias línguas. Inspirou tragédias como o nazismo e o apartheid. Muito convenientemente, o livro de Firmin foi condenado à escuridão racista. Ainda que seja considerada obra fundadora da antropologia moderna, só foi traduzida para o inglês, recentemente.
Em pleno século 21, a luta contra o racismo continua dura. A tradução e ampla divulgação da obra de Firmin certamente jogaria alguma luz sobre uma noite que teima em fugir do amanhecer.
Leia também: Bolcheviques contra o racismo
7 de fevereiro de 2011
Fórum Social em Davos?
Em 27/01, a revista Época trouxe reportagem sobre o Fórum Econômico Mundial, realizado em janeiro, em Davos. Segundo o texto de José Fucs:
Aproximar o Fórum Econômico do Fórum Social Mundial seria uma ofensa para a grande maioria dos participantes deste último. Em Davos, estavam aqueles que vivem da carnificina social que o sistema a que servem provoca no mundo todo.
Mas, não deixa de ser interessante ver como essa elite porca digere certas propostas para vomitá-las a seu jeito. São temas que se prestam a adaptações liberais capitalistas. É a ecologia de negócios, a inclusão social via consumo desigual, a arte libertadora castrada e vendida como mercadoria.
Talvez, o Fórum Social Mundial devesse começar a debater propostas que Davos jamais engoliria. Por exemplo, a socialização dos meios de produção. O tema só aparece timidamente quando se discute cooperativismo. Mas, tem ficado restrito às franjas do capitalismo.
Falar em cooperativismo em agricultura orgânica ou artesanato, tudo bem. Que tal pensar na indústria de transformação ou no setor financeiro? Numa economia solidária que implicaria o fim da propriedade privada dos meios de produção? Na produção planejada coletiva e democraticamente por toda a comunidade mundial?
Parece inviável? Não mais do que o capitalismo vem tornando a vida para a maioria dos povos do planeta.
Seria um debate polêmico e complexo. Tornou-se inevitável. Um outro mundo só será possível se o tornarmos impossível para os capitalistas.
Leia também: A planificação socialista pode funcionar?
“...desde a crise financeira que abalou o mundo em 2008, as idéias liberais que fizeram a fama de Davos têm se tornado cada vez menos relevantes nos debates – e, no encontro deste ano, na semana passada, não foi diferente. Em muitas sessões, um observador desavisado teria a impressão de ter entrado no Fórum Social (que acontecerá em fevereiro, em Dacar, no Senegal), e não no templo da livre-iniciativa global”.A matéria relata debates sobre questões como inclusão social, aquecimento global, preservação ambiental e até uma palestra sobre o “teatro do oprimido”, de Augusto Boal.
Aproximar o Fórum Econômico do Fórum Social Mundial seria uma ofensa para a grande maioria dos participantes deste último. Em Davos, estavam aqueles que vivem da carnificina social que o sistema a que servem provoca no mundo todo.
Mas, não deixa de ser interessante ver como essa elite porca digere certas propostas para vomitá-las a seu jeito. São temas que se prestam a adaptações liberais capitalistas. É a ecologia de negócios, a inclusão social via consumo desigual, a arte libertadora castrada e vendida como mercadoria.
Talvez, o Fórum Social Mundial devesse começar a debater propostas que Davos jamais engoliria. Por exemplo, a socialização dos meios de produção. O tema só aparece timidamente quando se discute cooperativismo. Mas, tem ficado restrito às franjas do capitalismo.
Falar em cooperativismo em agricultura orgânica ou artesanato, tudo bem. Que tal pensar na indústria de transformação ou no setor financeiro? Numa economia solidária que implicaria o fim da propriedade privada dos meios de produção? Na produção planejada coletiva e democraticamente por toda a comunidade mundial?
Parece inviável? Não mais do que o capitalismo vem tornando a vida para a maioria dos povos do planeta.
Seria um debate polêmico e complexo. Tornou-se inevitável. Um outro mundo só será possível se o tornarmos impossível para os capitalistas.
Leia também: A planificação socialista pode funcionar?
4 de fevereiro de 2011
Socialistas e muçulmanos: unidade necessária
A onda revolucionária nos países árabes recoloca em debate a importância de unir as lutas de muçulmanos e socialistas. Talvez, seja bom lembrar algumas experiências da Revolução Russa de 1917.
Na medida do possível, os bolcheviques tentaram reparar os crimes do czarismo contra as minorias nacionais e suas religiões. Em novembro de 1917, o governo soviético declarou:
Livros e objetos sagrados que haviam sido saqueados pelos czares foram devolvidos às mesquitas. A sexta-feira, dia de celebração religiosa muçulmana, foi declarada dia de descanso em toda a Ásia Central.
Por outro lado, algumas penalidades previstas no Corão, como apedrejamento ou mãos decepadas, tiveram sua legalidade restringida. Em dezembro de 1922, tornou-se possível que uma das partes envolvidas em disputas judiciais escolhesse o julgamento por tribunais soviéticos no lugar das cortes muçulmanas. Ao mesmo tempo, era possível que juízes soviéticos condenassem muçulmanos por desrespeitarem leis islâmicas.
Não era só uma questão de justiça e democracia. Era fundamental mostrar aos muçulmanos explorados que a revolução socialista estava a seu lado, contra seus patrões islâmicos. Ganhou seu apoio para a Revolução. Principalmente, durante a covarde agressão das potências estrangeiras ao poder dos sovietes. Pena que suas conquistas tenham sido enterradas pelo nacionalismo conservador stalinista.
Para quem lê inglês, muito mais informações em The Bolsheviks and Islam
Leia também: Lênin em defesa da liberdade religiosa
Na medida do possível, os bolcheviques tentaram reparar os crimes do czarismo contra as minorias nacionais e suas religiões. Em novembro de 1917, o governo soviético declarou:
“Muçulmanos da Rússia (...), suas crenças e práticas, suas instituições nacionais e culturais serão livres e invioláveis. Saibam que seus direitos, como os de todos os povos da Rússia, estão sob a poderosa proteção da Revolução ”.Foi criado um grande programa daquilo que chamaríamos, hoje, de ações afirmativas. O idioma russo deixou de dominar nas regiões de maioria islâmica. Línguas locais voltaram a ser usadas em escolas, repartições e publicações. Nativos foram promovidos a posições de liderança no Estado e nos partidos comunistas. Passaram a ter preferência nas oportunidades de emprego. Foram criadas universidades para formar novos líderes não-russos.
Livros e objetos sagrados que haviam sido saqueados pelos czares foram devolvidos às mesquitas. A sexta-feira, dia de celebração religiosa muçulmana, foi declarada dia de descanso em toda a Ásia Central.
Por outro lado, algumas penalidades previstas no Corão, como apedrejamento ou mãos decepadas, tiveram sua legalidade restringida. Em dezembro de 1922, tornou-se possível que uma das partes envolvidas em disputas judiciais escolhesse o julgamento por tribunais soviéticos no lugar das cortes muçulmanas. Ao mesmo tempo, era possível que juízes soviéticos condenassem muçulmanos por desrespeitarem leis islâmicas.
Não era só uma questão de justiça e democracia. Era fundamental mostrar aos muçulmanos explorados que a revolução socialista estava a seu lado, contra seus patrões islâmicos. Ganhou seu apoio para a Revolução. Principalmente, durante a covarde agressão das potências estrangeiras ao poder dos sovietes. Pena que suas conquistas tenham sido enterradas pelo nacionalismo conservador stalinista.
Para quem lê inglês, muito mais informações em The Bolsheviks and Islam
Leia também: Lênin em defesa da liberdade religiosa
3 de fevereiro de 2011
Estados Unidos: feios, sujos, malvados
O site Wikileaks revelou que o ex-cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Christopher McMullen, classificava aqueles que solicitavam vistos para visitar seu país em "bons", "maus" e “feios”. Uma referência a um filme do italiano de Sergio Leone, cujo nome em inglês é "The Good, The Bad and The Ugly". No Brasil, "Três Homens em Conflito".
Não é difícil imaginar que a tipos de preconceito e discriminação se referiam algumas dessas classificações. As categorias “feios” e “maus”, provavelmente, devem corresponder principalmente a pobres e não brancos.
Talvez, devêssemos adotar classificação semelhante quanto às relações que o estado norte-americano estabelece pelo mundo. Nesse caso, outro filme italiano seria utilizado como referência. Trata-se de “Feios, sujos e malvados”, de Ettore Scola.
Sujas seriam figuras como Hosni Mubarak, que reina sobre o Egito há 30 anos. Mas, Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, não o considera um ditador. Para ele, seria um dos “bons”. Malvadas são as várias ditaduras sangrentas que o imperialismo americano sustenta. Para o governo americano, são apenas os menores dos males.
Feios, mesmo, seriam os povos que se revoltam contra essa sujeira toda. É o que certamente acha a classe dominante ianque em relação ao povo egípcio. Algo que a pose de bonzinho de Obama não consegue esconder. É o pior dos atores à frente da mais porca das potências modernas. Responsável pela maior parte da podridão que reina pelo mundo atual.
Leia também: A maldição das múmias ocidentais
Não é difícil imaginar que a tipos de preconceito e discriminação se referiam algumas dessas classificações. As categorias “feios” e “maus”, provavelmente, devem corresponder principalmente a pobres e não brancos.
Talvez, devêssemos adotar classificação semelhante quanto às relações que o estado norte-americano estabelece pelo mundo. Nesse caso, outro filme italiano seria utilizado como referência. Trata-se de “Feios, sujos e malvados”, de Ettore Scola.
Sujas seriam figuras como Hosni Mubarak, que reina sobre o Egito há 30 anos. Mas, Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, não o considera um ditador. Para ele, seria um dos “bons”. Malvadas são as várias ditaduras sangrentas que o imperialismo americano sustenta. Para o governo americano, são apenas os menores dos males.
Feios, mesmo, seriam os povos que se revoltam contra essa sujeira toda. É o que certamente acha a classe dominante ianque em relação ao povo egípcio. Algo que a pose de bonzinho de Obama não consegue esconder. É o pior dos atores à frente da mais porca das potências modernas. Responsável pela maior parte da podridão que reina pelo mundo atual.
Leia também: A maldição das múmias ocidentais
2 de fevereiro de 2011
Botox acaba com rugas. O capitalismo, com empregos
Em 20 anos, a fábrica irlandesa Allergan produziu mais de 26 milhões de frascos de botox com o trabalho de 800 funcionários. Hoje, a produção está automatizada. Precisa do trabalho de apenas 80 pessoas. Os lucros anuais por operário foram multiplicados por dez. O emprego caiu na mesma proporção.
É o que os especialistas chamam de aumento da produtividade. A exploração do trabalho de menos pessoas resulta em mais lucro.
Marcio Pochmann publicou artigo na Folha de S. Paulo em 23/01/2011. O texto refere-se a pesquisa realizada sobre condições de vida e trabalho no Reino Unido. Os dados indicam que, em média, o descanso semanal reduziu-se quase pela metade.
As horas-extras seriam cumpridas em casa e envolveriam o uso do computador pessoal. Especialmente, correio eletrônico, internete, relatórios e planejamento. O lazer, por sua vez, vem se resumindo ao consumo.
Com isso, o tempo do descanso semanal caiu para 27 horas. Costumava ser de 48 horas. Era a chamada semana inglesa. Intervalo de descanso conquistado após muitos anos de luta dos trabalhadores ingleses.
O resultado é que os antigos acidentes provocados pelo uso das máquinas estão sendo substituídos por novos problemas. Solidão e depressão são cada vez mais associadas a jornadas excessivas e ao consumismo.
São exemplos de como o capitalismo cria desemprego e mal-estar. Seria muito mais racional empregar mais gente do que aumentar a exploração da saúde física e mental dos que continuam empregados.
Mas, aí, os donos dos meios de produção ficariam sem seus lucros. Já não seria capitalismo. Sistema caduco, em que botox nenhum dá jeito. Solução? Só a sepultura, mesmo.
Leia também: G-20 representa 2% da humanidade
É o que os especialistas chamam de aumento da produtividade. A exploração do trabalho de menos pessoas resulta em mais lucro.
Marcio Pochmann publicou artigo na Folha de S. Paulo em 23/01/2011. O texto refere-se a pesquisa realizada sobre condições de vida e trabalho no Reino Unido. Os dados indicam que, em média, o descanso semanal reduziu-se quase pela metade.
As horas-extras seriam cumpridas em casa e envolveriam o uso do computador pessoal. Especialmente, correio eletrônico, internete, relatórios e planejamento. O lazer, por sua vez, vem se resumindo ao consumo.
Com isso, o tempo do descanso semanal caiu para 27 horas. Costumava ser de 48 horas. Era a chamada semana inglesa. Intervalo de descanso conquistado após muitos anos de luta dos trabalhadores ingleses.
O resultado é que os antigos acidentes provocados pelo uso das máquinas estão sendo substituídos por novos problemas. Solidão e depressão são cada vez mais associadas a jornadas excessivas e ao consumismo.
São exemplos de como o capitalismo cria desemprego e mal-estar. Seria muito mais racional empregar mais gente do que aumentar a exploração da saúde física e mental dos que continuam empregados.
Mas, aí, os donos dos meios de produção ficariam sem seus lucros. Já não seria capitalismo. Sistema caduco, em que botox nenhum dá jeito. Solução? Só a sepultura, mesmo.
Leia também: G-20 representa 2% da humanidade
1 de fevereiro de 2011
A maldição das múmias ocidentais
Na imaginação popular, o Egito lembra pirâmides e múmias. Estas últimas seriam criaturas horríveis, nojentas e ameaçadoras. Na verdade, uma criação da indústria cinematográfica americana que ajuda a reforçar o preconceito contra os povos árabes.
Também são produção americana as várias das ditaduras que governam países árabes. Sheiks, califas, sultões, reis. Faraós modernos que apóiam o imperialismo estadunidense e seu fantoche na região: o estado de Israel.
Com dificuldades para explicar o apoio americano a tanta porcaria velha, os jornais levantam o espantalho do fundamentalismo. As ditaduras aliadas seriam um mal menor diante do “fanatismo islâmico”.
A imprensa adverte para o perigo de estados teocráticos e governos fanáticos. Só não cita, entre estes, o Vaticano, nem estados amigos do “ocidente”, como Árabia Saudita, Kwait e Israel. E omitem que a Palestina é um dos poucos países laicos na região e com eleições regulares.
O fato é que a revolta no Egito não é religiosa. Conta com apoio de lideranças religiosas, claro. Como qualquer movimentação popular poderia contar com apoio católico, protestante, judeu, budista, umbandista, num país ocidental.
Nem mesmo a revolução iraniana foi resultado de mobilização puramente religiosa. A ditadura dos aiatolás só se implantou após esmagar forças populares que não queriam um estado religioso. Por isso mesmo, é importante o apoio à luta do povo egípcio por melhores condições de vida e por liberdade. Inclusive, a religiosa.
Múmias existem e estão muito vivas. Uma delas é Hosni Mubarak. Outras vagam pelos palácios da região. As mais horríveis arrastam-se nos gabinetes do poder ocidental. Em Washington, Paris, Londres, Roma...
Brasília merece citação em homenagem a Sarney.
Leia também: Redes sociais não fazem revolução
Também são produção americana as várias das ditaduras que governam países árabes. Sheiks, califas, sultões, reis. Faraós modernos que apóiam o imperialismo estadunidense e seu fantoche na região: o estado de Israel.
Com dificuldades para explicar o apoio americano a tanta porcaria velha, os jornais levantam o espantalho do fundamentalismo. As ditaduras aliadas seriam um mal menor diante do “fanatismo islâmico”.
A imprensa adverte para o perigo de estados teocráticos e governos fanáticos. Só não cita, entre estes, o Vaticano, nem estados amigos do “ocidente”, como Árabia Saudita, Kwait e Israel. E omitem que a Palestina é um dos poucos países laicos na região e com eleições regulares.
O fato é que a revolta no Egito não é religiosa. Conta com apoio de lideranças religiosas, claro. Como qualquer movimentação popular poderia contar com apoio católico, protestante, judeu, budista, umbandista, num país ocidental.
Nem mesmo a revolução iraniana foi resultado de mobilização puramente religiosa. A ditadura dos aiatolás só se implantou após esmagar forças populares que não queriam um estado religioso. Por isso mesmo, é importante o apoio à luta do povo egípcio por melhores condições de vida e por liberdade. Inclusive, a religiosa.
Múmias existem e estão muito vivas. Uma delas é Hosni Mubarak. Outras vagam pelos palácios da região. As mais horríveis arrastam-se nos gabinetes do poder ocidental. Em Washington, Paris, Londres, Roma...
Brasília merece citação em homenagem a Sarney.
Leia também: Redes sociais não fazem revolução