Adoro meu Facebook. É onde encontro amigos(as) e companheiros(as) para discutir
a situação política e social do País. Trocamos informações, análises e piadas,
por que não? Alguns(mas) de nós defendem o governo, mas sem fanatismos. Outros(as)
são mais críticos(as). Mas somos todos(as) de esquerda.
Adoro meu Facebook. Nele encontro amigos e conhecidos que comungam da mesma
indignação. Fazemos as denúncias que ficam escondidas da maioria inocente pela
mídia infestada de esquerdopatas. Estamos furando esse cerco, mostrando o
complô vermelho que vai tomando conta de nosso Brasil.
Adoro meu Facebook. Lá encontro muita gente do bem. Pessoas que se importam com
seus semelhantes. E ainda podemos trocar dicas de culinária, lugares bonitos
para visitar, atrações culturais. Nossa mais recente mania são os divertidos
livros para colorir.
Adoro meu Facebook. Lá encontro muitos que curtem os mesmos programas,
passeios, esportes, ídolos, filmes. Outro dia, nos unimos, por exemplo, para um
mutirão de vigilância na região da cidade em que moramos. Já colocamos muito
vagabundo e bandido pra correr. Ou pra dormir, sabe como é.
Adoro meu Facebook. Lá encontro meus irmãos de torcida. Todos juntos dando
força pra nosso eterno campeão. Combinamos assistir os jogos em algum bar ou na
casa de um de nós, com muita cerva e churrasco. Às vezes, também marcamos pra
dar umas porradas nos babacas que torcem pra outros times.
Adoro meu Facebook. Ele me garante bilhões de dólares e ainda convence centenas
de milhões de que “um esquilo morrendo no seu jardim deve ser mais relevante do
que pessoas morrendo na África”. Sou Mark Zuckerberg. Entre na minha
página e curta!
Leia também: A internete, segundo Castells e segundo
os monopólios
Blog de Sérgio Domingues, com comentários curtos sobre assuntos diversos, procurando sempre ajudar no combate à exploração e opressão.
Doses maiores
▼
27 de agosto de 2015
26 de agosto de 2015
De volta ao século 19 com Uber e Whatsapp
Em maio, o IdgNow divulgou pesquisa realizada pelo grupo Regus que aponta o
Whatsapp como o preferido por 95% dos profissionais de escritório, seguido de
Skype e Facebook Messenger.
Segundo Otávio Cavalcanti, diretor da Regus, a importância desse “suporte tecnológico” é “mostrar como os funcionários podem ser totalmente operacionais, mesmo quando não estão no escritório”.
Por “totalmente operacionais”, entenda-se à disposição do patrão em tempo integral.
Enquanto isso, Marcio Pochmann entrou na polêmica Uber x táxis. Em artigo publicado no portal Rede Brasil Atual, em 23/08, ele mostra como o aplicativo é mais um exemplo de ferramenta que torna possível os chamados "contratos de trabalho de zero horas".
O Uber permite o “emprego do trabalho disponível a partir de cadastramento livre de mão de obra excedente, sem nenhum benefício de proteção social e trabalhista”.
No Reino Unido, diz ele, cerca de 1 milhão de trabalhadores estariam submetidos a essas condições, principalmente em redes como Mc Donald’s, Subway, entre outras.
Estaria em formação, portanto, “uma nova classe precária de trabalhadores mal pagos e levados a estar à disposição plena dos demandantes de trabalho flexível”.
Esse tipo de Fenômeno é bastante facilitado pelas novas tecnologias digitais, mas não é inédito.
Como Pochmann nota, no século 19, “o trabalho era realizado em locais distintos, por meio de grande competição entre a mão de obra disponível e sem qualquer proteção ou organização sindical”.
Voltamos ao século 19?, pergunta Pochmann. Ou, perguntaríamos nós, ficamos no século 20, defendendo operadoras de celular que roubam seus clientes e a meia-dúzia de donos de frotas que superexploram dezenas de milhares de taxistas?
Leia também: Robôs, Lênin e Zé Ramalho
Segundo Otávio Cavalcanti, diretor da Regus, a importância desse “suporte tecnológico” é “mostrar como os funcionários podem ser totalmente operacionais, mesmo quando não estão no escritório”.
Por “totalmente operacionais”, entenda-se à disposição do patrão em tempo integral.
Enquanto isso, Marcio Pochmann entrou na polêmica Uber x táxis. Em artigo publicado no portal Rede Brasil Atual, em 23/08, ele mostra como o aplicativo é mais um exemplo de ferramenta que torna possível os chamados "contratos de trabalho de zero horas".
O Uber permite o “emprego do trabalho disponível a partir de cadastramento livre de mão de obra excedente, sem nenhum benefício de proteção social e trabalhista”.
No Reino Unido, diz ele, cerca de 1 milhão de trabalhadores estariam submetidos a essas condições, principalmente em redes como Mc Donald’s, Subway, entre outras.
Estaria em formação, portanto, “uma nova classe precária de trabalhadores mal pagos e levados a estar à disposição plena dos demandantes de trabalho flexível”.
Esse tipo de Fenômeno é bastante facilitado pelas novas tecnologias digitais, mas não é inédito.
Como Pochmann nota, no século 19, “o trabalho era realizado em locais distintos, por meio de grande competição entre a mão de obra disponível e sem qualquer proteção ou organização sindical”.
Voltamos ao século 19?, pergunta Pochmann. Ou, perguntaríamos nós, ficamos no século 20, defendendo operadoras de celular que roubam seus clientes e a meia-dúzia de donos de frotas que superexploram dezenas de milhares de taxistas?
Leia também: Robôs, Lênin e Zé Ramalho
25 de agosto de 2015
China: a fábrica do mundo não pode produzir liberdade
A China costuma ser chamada de “fábrica do
mundo”. É lá que estão o maior parque industrial do planeta e a mais numerosa classe
operária da história. Esta última, explorada a uma taxa que faz a alegria do
capitalismo global e mantém o sistema rodando.
Mas cada vez que o motor chinês diminui o ritmo, os neoliberais condenam a falta de democracia no gigante asiático. Cobram mais transparência, principalmente na divulgação de números oficiais, que é o que realmente lhes interessa.
O problema é que fábricas feitas para gerar lucros não podem ser democráticas nem abrir sua contabilidade, sob pena de serem atropeladas pela concorrência.
Na verdade, os que os neoliberais temem é a capacidade de resistência de uma ditadura sem disfarces. Em nossas democracias ficamos felizes em votar periodicamente. Mas somos governados por instituições não eleitas, como bancos centrais, FMI, OMC, Banco Mundial etc. A recente rendição do Syriza diante do golpe de estado promovido pela Troyka é mais uma prova disso.
O grande risco seria a rigidez política do regime chinês começar a sofrer rachaduras que afetem seu desempenho econômico. Quando a fábrica em que se transformou a União Soviética quebrou, arrastou consigo apenas seus mercados cativos no Leste Europeu. Já a indústria chinesa, está totalmente integrada ao mercado mundial.
Apesar disso, os neoliberais não ousam esperar mais liberdade que aquela que permite ao capitalismo mundial manter a superexploração dos trabalhadores chineses. Afinal, se a maior classe operária do mundo conquistar liberdade sindical e democracia política, uma crise econômica na China seria o menor dos problemas para a economia global.
Leia também: O tsunami econômico e a bigorna neoliberal
Mas cada vez que o motor chinês diminui o ritmo, os neoliberais condenam a falta de democracia no gigante asiático. Cobram mais transparência, principalmente na divulgação de números oficiais, que é o que realmente lhes interessa.
O problema é que fábricas feitas para gerar lucros não podem ser democráticas nem abrir sua contabilidade, sob pena de serem atropeladas pela concorrência.
Na verdade, os que os neoliberais temem é a capacidade de resistência de uma ditadura sem disfarces. Em nossas democracias ficamos felizes em votar periodicamente. Mas somos governados por instituições não eleitas, como bancos centrais, FMI, OMC, Banco Mundial etc. A recente rendição do Syriza diante do golpe de estado promovido pela Troyka é mais uma prova disso.
O grande risco seria a rigidez política do regime chinês começar a sofrer rachaduras que afetem seu desempenho econômico. Quando a fábrica em que se transformou a União Soviética quebrou, arrastou consigo apenas seus mercados cativos no Leste Europeu. Já a indústria chinesa, está totalmente integrada ao mercado mundial.
Apesar disso, os neoliberais não ousam esperar mais liberdade que aquela que permite ao capitalismo mundial manter a superexploração dos trabalhadores chineses. Afinal, se a maior classe operária do mundo conquistar liberdade sindical e democracia política, uma crise econômica na China seria o menor dos problemas para a economia global.
Leia também: O tsunami econômico e a bigorna neoliberal
24 de agosto de 2015
O tsunami econômico e a bigorna neoliberal
O dia 24/08/2015 já está sendo chamada de "Segunda Negra" pelos “mercados
mundiais”.
No Brasil, a Bolsa registrou a maior desvalorização em oito meses e voltou aos níveis de 2009.
As ações na Europa fecharam em baixa de 5,44%, maior queda diária desde novembro de 2008.
Wall Street teve queda menor. Acima dos 3,5%, mas também preocupante.
Tudo isso porque o mercado de ações chinês desabou 8,5% na véspera, assinalando a maior queda desde 2007.
A grande imprensa sempre compara essas quedas a 2008, considerado o auge da crise econômica mundial.
Mas seria mais correto entender aquele momento como o primeiro grande surto de uma crise que dá todos os sinais de estar longe do fim.
Em 2008, papéis especulativos derrubaram a economia mundial. Desde então, enormes quantias de dinheiro foram injetadas na economia.
O problema é que nos Estados Unidos, por exemplo, 95% dos U$ 22 trilhões que saíram dos cofres públicos, entre 2009 e 2013, foram destinados aos mesmos grandes investidores, que voltaram a investir na especulação.
A China pode ser a “fábrica do mundo”, mas o ritmo de sua produção depende de consumo. E dinheiro que sobra na especulação falta na compra de mercadorias.
A fábrica está longe de parar, mas a diminuição de seu ritmo está equivalendo a uma freada brusca para a maioria das outras economias importantes, incluindo a nossa.
No Brasil, o tsunami econômico de 2008 foi chamado de marolinha. E era mesmo. A onda gigante ainda estava a caminho e parece estar finalmente chegando.
E nós a estamos esperando com a bigorna do ajuste neoliberal amarrada nos pés.
Leia também: O Sr. Apocalipse e a economia brasileira
No Brasil, a Bolsa registrou a maior desvalorização em oito meses e voltou aos níveis de 2009.
As ações na Europa fecharam em baixa de 5,44%, maior queda diária desde novembro de 2008.
Wall Street teve queda menor. Acima dos 3,5%, mas também preocupante.
Tudo isso porque o mercado de ações chinês desabou 8,5% na véspera, assinalando a maior queda desde 2007.
A grande imprensa sempre compara essas quedas a 2008, considerado o auge da crise econômica mundial.
Mas seria mais correto entender aquele momento como o primeiro grande surto de uma crise que dá todos os sinais de estar longe do fim.
Em 2008, papéis especulativos derrubaram a economia mundial. Desde então, enormes quantias de dinheiro foram injetadas na economia.
O problema é que nos Estados Unidos, por exemplo, 95% dos U$ 22 trilhões que saíram dos cofres públicos, entre 2009 e 2013, foram destinados aos mesmos grandes investidores, que voltaram a investir na especulação.
A China pode ser a “fábrica do mundo”, mas o ritmo de sua produção depende de consumo. E dinheiro que sobra na especulação falta na compra de mercadorias.
A fábrica está longe de parar, mas a diminuição de seu ritmo está equivalendo a uma freada brusca para a maioria das outras economias importantes, incluindo a nossa.
No Brasil, o tsunami econômico de 2008 foi chamado de marolinha. E era mesmo. A onda gigante ainda estava a caminho e parece estar finalmente chegando.
E nós a estamos esperando com a bigorna do ajuste neoliberal amarrada nos pés.
Leia também: O Sr. Apocalipse e a economia brasileira
Trotsky, Guevara e Leminski num bar de rodoviária
Em seu blog, Mário Magalhães lembrou os 75 anos da morte de
Trotsky com o belo poema “O velho León e Natalia em Coyoacán” que lhe dedicou Paulo
Leminski.
Leminski também escreveu a pequena biografia “trótski – a paixão segundo a revolução”. Nela o poeta saúda a recusa de Trotsky em instrumentalizar ideológica e politicamente a arte e cita sua famosa frase: “A arte só pode ser o grande aliado da revolução na medida em que permanecer fiel a si mesma”
Leminski também poderia ter homenageado Che Guevara. Mas este, seu contemporâneo, receberia as honras em pessoa e numa mesa de bar.
No conto “Guevara em Curitiba”, Valêncio Xavier imaginou o Che desembarcando disfarçado na rodoviária curitibana a caminho da Bolívia. Era 1966, plena ditadura. Todo cuidado era pouco. Mas um bêbado o reconhece e insiste em lhe chamar pelo nome. Arrasta-o para uma pinga, umas tragadas de charuto e ainda o convence a cantar o trecho de um bolero.
Guevara finalmente livra-se da situação inconveniente e parte. O conto não nomeia o bêbado, mas tem graça imaginá-lo como sendo Leminski. Mais divertido ainda seria vê-lo surpreender Trotsky em pessoa desembarcando de outro ônibus. Pronto para ser arrastado para novos goles, conversas, cantorias.
Havia algo de trotskista na disposição internacionalista de Guevara, que abandonou seus cargos governamentais em Cuba para tornar a revolução permanente. Havia algo nas convicções estéticas de Trotsky que conquistou o respeito de Leminski. Há algo dos três nos versos do poeta paranaense, que dizem:
Leminski também escreveu a pequena biografia “trótski – a paixão segundo a revolução”. Nela o poeta saúda a recusa de Trotsky em instrumentalizar ideológica e politicamente a arte e cita sua famosa frase: “A arte só pode ser o grande aliado da revolução na medida em que permanecer fiel a si mesma”
Leminski também poderia ter homenageado Che Guevara. Mas este, seu contemporâneo, receberia as honras em pessoa e numa mesa de bar.
No conto “Guevara em Curitiba”, Valêncio Xavier imaginou o Che desembarcando disfarçado na rodoviária curitibana a caminho da Bolívia. Era 1966, plena ditadura. Todo cuidado era pouco. Mas um bêbado o reconhece e insiste em lhe chamar pelo nome. Arrasta-o para uma pinga, umas tragadas de charuto e ainda o convence a cantar o trecho de um bolero.
Guevara finalmente livra-se da situação inconveniente e parte. O conto não nomeia o bêbado, mas tem graça imaginá-lo como sendo Leminski. Mais divertido ainda seria vê-lo surpreender Trotsky em pessoa desembarcando de outro ônibus. Pronto para ser arrastado para novos goles, conversas, cantorias.
Havia algo de trotskista na disposição internacionalista de Guevara, que abandonou seus cargos governamentais em Cuba para tornar a revolução permanente. Havia algo nas convicções estéticas de Trotsky que conquistou o respeito de Leminski. Há algo dos três nos versos do poeta paranaense, que dizem:
En
la lucha de clases
todas
las armas son buenas
piedras,
noches,
poemas.
20 de agosto de 2015
Olorum é cobrador de ônibus
O poema abaixo é “Trabalhadores do Brasil”, de autoria de Marcelino Freire. Foi
publicado no livro “Contos Negreiros”, em 2005.
Os versos fortes já foram musicados pela banda “Cordel do Fogo Encantado” e declamados pelo próprio autor no mais recente CD de Emicida. Citando lideranças e entidades sagradas do povo preto brasileiro, eles dizem muito sobre a opressão e a exploração classista e racista insistentemente presente no cotidiano da maior parte de nossa população.
Os versos fortes já foram musicados pela banda “Cordel do Fogo Encantado” e declamados pelo próprio autor no mais recente CD de Emicida. Citando lideranças e entidades sagradas do povo preto brasileiro, eles dizem muito sobre a opressão e a exploração classista e racista insistentemente presente no cotidiano da maior parte de nossa população.
Enquanto Zumbi trabalha cortando cana
Na zona da mata Pernambucana
Oloroke vende carne de segunda, a segunda
Ninguém vive aqui com a bunda preta pra cima
Tá me ouvindo bem?
Enquanto a gente dança no bico da garrafinha
Odé trabalha de segurança
Pegando ladrão que não respeita
Que não ganha o pão que o Tição amassou honestamente
Enquanto Obatalá faz serviço pra muita gente
Não levanta um saco de cimento
Tá me ouvindo bem?
Enquanto o Olorum trabalha como cobrador de ônibus
Naquele transe infernal de trânsito
Ossaim sonha com um novo amor
Pra ganhar um passe ou dois
Na praça turbulenta do Pelô
Fazer sexo oral, anal, seja lá com quem for
Tá me ouvindo bem?
Enquanto rainha Quelé
Rainha Quelé limpa fossa de banheiro
São Bongo bungo na lama
Isso parece que dá grana, porque povo se junta
E aplaude São Bongo na merda
Pulando de cima da ponte
Tá me ouvindo bem?
Tá me ouvindo bem?
Tá me ouvindo bem?
Ein, ein, ein? Seu branco safado!
Ninguém aqui é escravo de ninguém!
Leia também:
Conjuração
Baiana: agulhas e sangue
19 de agosto de 2015
Semelhanças entre as manifestações contra e a favor do governo
“Um desacordo entre manifestantes e os convocantes dos protestos?”, pergunta
artigo de Pablo Ortellado, Esther Solano e Lucia Nader publicado no El País, em
18/08. O texto refere-se à manifestação contra o governo Dilma realizada em São
Paulo, em 16/08.
Os autores organizaram uma pesquisa junto aos manifestantes que mostraria grandes diferenças entre o que pensavam os manifestantes e o que defendiam suas principais lideranças. Estas costumam defender a redução da presença estatal na sociedade, incluindo a diminuição dos serviços públicos.
Mas 97% dos presentes concordavam total ou parcialmente que os serviços públicos de saúde devem ser universais e 96% que sejam gratuitos. Já 98% concordavam total ou parcialmente com a universalidade da educação pública e 97% com a sua gratuidade. Até mesmo a tarifa zero nos transportes públicos recebeu apoio total ou parcial de 49% dos manifestantes.
Por outro lado, 71% discordaram da proposta de entregar o poder aos militares.
No dia 20/08, acontecerão atos em defesa da “democracia” pelo país. Na verdade, manifestações que já não conseguem esconder seu caráter governista. Se pesquisas semelhantes àquelas feitas em 16/08 forem feitas, certamente aparecerão resultados bastante parecidos quanto ao apoio a serviços públicos universais e gratuitos.
Mas as semelhanças entre as duas manifestações não devem parar por aí. Nos atos pró-Dilma, o desacordo entre o que pensa a maioria dos manifestantes e suas lideranças também será grande. Afinal, defender serviços públicos dignos para todos não combina com o ajuste neoliberal que vem sendo implantado pelo governo a todo vapor.
Num e noutro caso, há muita confusão. Mas ela parece ser bem maior entre as respectivas lideranças.
Leia também:
Um pacto sujo em gestação
O baile de máscaras deste fim de semana
Os autores organizaram uma pesquisa junto aos manifestantes que mostraria grandes diferenças entre o que pensavam os manifestantes e o que defendiam suas principais lideranças. Estas costumam defender a redução da presença estatal na sociedade, incluindo a diminuição dos serviços públicos.
Mas 97% dos presentes concordavam total ou parcialmente que os serviços públicos de saúde devem ser universais e 96% que sejam gratuitos. Já 98% concordavam total ou parcialmente com a universalidade da educação pública e 97% com a sua gratuidade. Até mesmo a tarifa zero nos transportes públicos recebeu apoio total ou parcial de 49% dos manifestantes.
Por outro lado, 71% discordaram da proposta de entregar o poder aos militares.
No dia 20/08, acontecerão atos em defesa da “democracia” pelo país. Na verdade, manifestações que já não conseguem esconder seu caráter governista. Se pesquisas semelhantes àquelas feitas em 16/08 forem feitas, certamente aparecerão resultados bastante parecidos quanto ao apoio a serviços públicos universais e gratuitos.
Mas as semelhanças entre as duas manifestações não devem parar por aí. Nos atos pró-Dilma, o desacordo entre o que pensa a maioria dos manifestantes e suas lideranças também será grande. Afinal, defender serviços públicos dignos para todos não combina com o ajuste neoliberal que vem sendo implantado pelo governo a todo vapor.
Num e noutro caso, há muita confusão. Mas ela parece ser bem maior entre as respectivas lideranças.
Leia também:
Um pacto sujo em gestação
O baile de máscaras deste fim de semana
18 de agosto de 2015
A PM paulista e suas estrelas sangrentas
Henrique Carneiro escreveu “Corporação de SP vê ‘glória’ na repressão”, para a coletânea
“Desmilitarização da polícia e da política: uma resposta
que virá das ruas”, organizada por Givanildo Manoel da Silva, o “Giva”.
O artigo conta um pouco da história da PM paulista e começa lembrando que o “batismo de fogo” da corporação foi a repressão à grande greve dos ferroviários, em 1905.
O autor destaca, ainda, as estrelas do brasão de armas da instituição. Elas correspondem a momentos que a corporação considera “heroicos” em sua história. Das 18, a única que simboliza uma ação contra a ordem dominante foi a participação na conservadora “Revolução Constitucionalista” contra Getúlio Vargas, em 1932.
Todas as outras “estrelas” marcam a presença da corporação na repressão violenta a revoltas e levantes populares, dentro e fora do estado. É o caso da rebelião de Canudos, da Revolta da Chibata ou da Greve Geral de 1917, em São Paulo.
Mas um dado bem atual também assusta. Apesar de estar sob administração petista, a capital paulistana tem 90% de suas subprefeituras comandadas por coronéis aposentados da PM. Não à toa, a cidade é marcada pelos maiores índices de violência policial do mundo.
Por outro lado, Carneiro lembra as condições degradantes de trabalho da grande maioria das tropas policiais, com salários baixos e alto índice de mortes e sequelas. Além disso, inexiste liberdade de expressão e de sindicalização na corporação, contribuindo, diz ele, para “uma cultura de submissão e acobertamento corporativo de toda sorte de irregularidades”.
Se o brasão da PM também contabilizasse chacinas de pobres e pretos, seria uma grande galáxia sangrenta.
Leia também: A inocência como herança genética
17 de agosto de 2015
Há 20 anos, Florestan Fernandes já temia pelo PT
Perdemos
Florestan Fernandes em agosto de 1995. O filho de empregada doméstica que foi
engraxate, ajudante de alfaiate, garçom, tornou-se um cientista social
respeitado mundialmente. Mas jamais esqueceu sua origem proletária.
Em 1991, auge do neoliberalismo, a esquerda marxista estava sob forte ataque. Foi organizado um Ato em Defesa do Marxismo em São Paulo, do qual Florestan participou como convidado de honra. Em um trecho de seu discurso que merece destaque, ele se mostrava preocupado com:
Em 1991, auge do neoliberalismo, a esquerda marxista estava sob forte ataque. Foi organizado um Ato em Defesa do Marxismo em São Paulo, do qual Florestan participou como convidado de honra. Em um trecho de seu discurso que merece destaque, ele se mostrava preocupado com:
...partidos de esquerda que, depois de alguns anos, ficam
encantados com sua posição. Deixam de ser revolucionários e trabalham pelo
social-reformismo, não pela revolução. O social-reformismo significa a
reprodução da ordem existente. É um processo reacionário pelo qual a burguesia
cede parcelas de riqueza, de cultura e de poder em troca de obediência,
subalternização e aumento da exploração.
Eleito deputado
federal duas vezes pelo PT, Florestan dizia que a experiência não foi nada
agradável, mas serviu para mostrar-lhe como funcionavam as entranhas da
dominação burguesa.
Ao mesmo tempo, em seu livro “Democracia e desenvolvimento”, de 1994, ele se mostrava preocupado com os rumos de seu partido:
Ao mesmo tempo, em seu livro “Democracia e desenvolvimento”, de 1994, ele se mostrava preocupado com os rumos de seu partido:
Quanto ao PT, existem dentro dele várias tendências e a
sua riqueza reside na confiança que conseguiu despertar nas massas
trabalhadoras – primeiro em algumas cidades e, em seguida, numa extensão mais
ampla da sociedade brasileira, inclusive no campo. Agora, se o PT ficar numa
posição não socialista, não fará sequer uma revolução dentro da ordem, será
apenas instrumental para essa modernização dirigida a partir de fora e de cima!
Nem
todos os que têm raízes nas lutas proletárias foram fiéis a elas como Florestan.
Leia também: Ordem social destrutiva
Leia também: Ordem social destrutiva
16 de agosto de 2015
A inocência como herança genética
“Com cartilha, igrejas nos EUA ensinam negros a
‘sobreviver a abordagens policiais’”, é o título de matéria de João Fellet,
publicada pela BBC Brasil em 14/08.
Não há qualquer ironia no título. Afinal, para um negro ser abordado por um policial é meio caminho para ser agredido ou morto por ele.
Segundo a reportagem, cartilhas distribuídas por igrejas recomendam aos negros que não apenas mantenham-se inocentes e retos em suas vidas, mas que pareçam sê-lo.
Diante do insulto ou da agressão de um policial, recomenda-se manter a calma, ser submisso, cooperativo e reclamar depois.
Quando se é preto e pobre, orientações como essas perdem seu caráter absurdo. Mas é duvidoso que elas funcionassem em terras brasileiras. A recente chacina de Osasco, na Grande São Paulo, é mais uma prova disso.
Consta que as dezenove vítimas, todas pretas ou não suficientemente brancas, foram indagadas se tinham “passagem pela polícia”.
É muito provável que qualquer resposta levaria à covarde execução. Sendo fichados, mereceriam a morte. Não sendo, seriam mortos por mentirem.
As autoridades, novamente, recomendarão rigor na apuração ou leis mais duras. Providências a serem ignoradas, já que seus executores são exatamente os que têm interesse em não cumpri-las.
A não ser que voltássemos a Nina Rodrigues, que, em 1894, publicou o livro “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”. A obra propunha dois códigos penais, um para brancos, outro para negros.
Assim, colocaríamos os esquadrões da morte dentro da lei e livraríamos suas vítimas da triste ilusão de que são protegidas por ela. A inocência passaria a ser oficialmente uma marca de nascença.
Leia também: Glossário de uma polícia que extermina
Não há qualquer ironia no título. Afinal, para um negro ser abordado por um policial é meio caminho para ser agredido ou morto por ele.
Segundo a reportagem, cartilhas distribuídas por igrejas recomendam aos negros que não apenas mantenham-se inocentes e retos em suas vidas, mas que pareçam sê-lo.
Diante do insulto ou da agressão de um policial, recomenda-se manter a calma, ser submisso, cooperativo e reclamar depois.
Quando se é preto e pobre, orientações como essas perdem seu caráter absurdo. Mas é duvidoso que elas funcionassem em terras brasileiras. A recente chacina de Osasco, na Grande São Paulo, é mais uma prova disso.
Consta que as dezenove vítimas, todas pretas ou não suficientemente brancas, foram indagadas se tinham “passagem pela polícia”.
É muito provável que qualquer resposta levaria à covarde execução. Sendo fichados, mereceriam a morte. Não sendo, seriam mortos por mentirem.
As autoridades, novamente, recomendarão rigor na apuração ou leis mais duras. Providências a serem ignoradas, já que seus executores são exatamente os que têm interesse em não cumpri-las.
A não ser que voltássemos a Nina Rodrigues, que, em 1894, publicou o livro “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”. A obra propunha dois códigos penais, um para brancos, outro para negros.
Assim, colocaríamos os esquadrões da morte dentro da lei e livraríamos suas vítimas da triste ilusão de que são protegidas por ela. A inocência passaria a ser oficialmente uma marca de nascença.
Leia também: Glossário de uma polícia que extermina
14 de agosto de 2015
Um pacto sujo em gestação
O ajuste neoliberal do governo Dilma ganhou reforços de Renan Calheiros. A tal Agenda
Brasil quer fazer no varejo o que Joaquim Levy pretende implementar no atacado.
Entre as propostas de Calheiros, o pagamento pelos serviços do SUS, aumento da idade para aposentadoria, liberação da exploração das terras indígenas, desmonte total da legislação ambiental, terceirização liberada, mais concessões para o capital nacional e estrangeiro, mais dinheiro público para o setor privado.
O governo aceita discutir essa pauta vergonhosa para fazer as pazes com Renan e isolar Cunha. Mas as propostas de um são as do outro. Ambos representam os mesmos interesses ligados ao grande capital. Por isso, dirigem um Congresso Nacional cujos membros, em sua quase totalidade, foram eleitos com generoso financiamento empresarial.
Na verdade, há um grande pacto sendo fechado entre governo, parlamento (incluindo a oposição), grandes empresários e pelegos em geral. A dúvida maior é se esse acordo funciona melhor com Dilma ou sem ela. A grande imprensa já fez sua proposta: sangrar a presidenta sem matá-la, massacrar o PT sem dó, endeusar Levy e salvar o ajuste neoliberal.
E enquanto isso, uma legislação contra o direito à manifestação está sendo aprovada na Câmara. O pretexto é combater o terrorismo. O verdadeiro alvo é quem luta contra a injustiça e a exploração. Não à toa, o projeto é assinado pelo tucano Joaquim Levy e pelo petista José Eduardo Cardozo.
Os únicos que estão de fora desse arranjo sujo é a maioria trabalhadora. São os que já estão pagando a conta da crise e a quem querem impedir até de resistir. Não conseguirão.
Leia também: O partido da grande imprensa quer tranquilidade para Dilma
Entre as propostas de Calheiros, o pagamento pelos serviços do SUS, aumento da idade para aposentadoria, liberação da exploração das terras indígenas, desmonte total da legislação ambiental, terceirização liberada, mais concessões para o capital nacional e estrangeiro, mais dinheiro público para o setor privado.
O governo aceita discutir essa pauta vergonhosa para fazer as pazes com Renan e isolar Cunha. Mas as propostas de um são as do outro. Ambos representam os mesmos interesses ligados ao grande capital. Por isso, dirigem um Congresso Nacional cujos membros, em sua quase totalidade, foram eleitos com generoso financiamento empresarial.
Na verdade, há um grande pacto sendo fechado entre governo, parlamento (incluindo a oposição), grandes empresários e pelegos em geral. A dúvida maior é se esse acordo funciona melhor com Dilma ou sem ela. A grande imprensa já fez sua proposta: sangrar a presidenta sem matá-la, massacrar o PT sem dó, endeusar Levy e salvar o ajuste neoliberal.
E enquanto isso, uma legislação contra o direito à manifestação está sendo aprovada na Câmara. O pretexto é combater o terrorismo. O verdadeiro alvo é quem luta contra a injustiça e a exploração. Não à toa, o projeto é assinado pelo tucano Joaquim Levy e pelo petista José Eduardo Cardozo.
Os únicos que estão de fora desse arranjo sujo é a maioria trabalhadora. São os que já estão pagando a conta da crise e a quem querem impedir até de resistir. Não conseguirão.
Leia também: O partido da grande imprensa quer tranquilidade para Dilma
12 de agosto de 2015
Vito Giannotti e a história da luta dos trabalhadores
Edson Dias |
Em seu livro “História das lutas dos trabalhadores no Brasil”, Vito Giannotti
explica porque a classe trabalhadora tem que contar sua própria história.
Segundo ele, na história oficial só são citados “presidentes, ministros, generais, reis e rainhas”. Fala-se de tudo, “só não se fala dos trabalhadores”. Para comprovar, Vito apresenta um documentário da editora Abril, de 1989, centenário da proclamação da República.
Destaca, especialmente, os vinte anos entre 1944 e 1964. Período marcado pela forte presença da classe operária, milhares de greves, manifestações e lutas no campo e na cidade. Todas travadas corajosamente por homens e mulheres e que só seriam barradas pela repressão sanguinária e covarde do golpe de 1964.
Mas, diz Vito, o documentário focaliza aquele pedaço da História do Brasil sem que apareçam as palavras “operário”, “greve” ou “classe trabalhadora”. E exemplifica com um levantamento de quantos segundos a produção dedica a “vários fatos ou factoides” daquele período:
Segundo ele, na história oficial só são citados “presidentes, ministros, generais, reis e rainhas”. Fala-se de tudo, “só não se fala dos trabalhadores”. Para comprovar, Vito apresenta um documentário da editora Abril, de 1989, centenário da proclamação da República.
Destaca, especialmente, os vinte anos entre 1944 e 1964. Período marcado pela forte presença da classe operária, milhares de greves, manifestações e lutas no campo e na cidade. Todas travadas corajosamente por homens e mulheres e que só seriam barradas pela repressão sanguinária e covarde do golpe de 1964.
Mas, diz Vito, o documentário focaliza aquele pedaço da História do Brasil sem que apareçam as palavras “operário”, “greve” ou “classe trabalhadora”. E exemplifica com um levantamento de quantos segundos a produção dedica a “vários fatos ou factoides” daquele período:
- Cassação do PCB, partido com 16
deputados federais = 5 segundos
- Criação da Petrobrás = 7 segundos
- Cassação de um ilustre desconhecido e insignificante deputado, fotografado de casaca e cueca = 12 segundos
- Derrota da candidata brasileira no “Miss Universo” = 17 segundos
- Quantas vezes é falada a palavra greve = nenhuma
- Quantas vezes é falada a palavra operário = nenhuma
- Quantas vezes é falada a palavra classe operária = nenhuma
- Criação da Petrobrás = 7 segundos
- Cassação de um ilustre desconhecido e insignificante deputado, fotografado de casaca e cueca = 12 segundos
- Derrota da candidata brasileira no “Miss Universo” = 17 segundos
- Quantas vezes é falada a palavra greve = nenhuma
- Quantas vezes é falada a palavra operário = nenhuma
- Quantas vezes é falada a palavra classe operária = nenhuma
Valeu, de novo, Vitão!
Leia também: Vito Giannotti e a conjuntura do satanás
11 de agosto de 2015
É racismo, puta que o pariu!
Em 1963, uma bomba explodiu dentro de uma igreja batista no Alabama, Estados
Unidos. Quatro meninas negras morreram.
Furiosa, Nina Simone compôs “Mississippi Goddam”, referindo-se a um dos estados americanos mais racistas. Nascia a guerreira. Explodia a raiva que ela acumulava desde que foi rejeitada como pianista clássica por ser negra.
A partir daí, Nina engajou-se firmemente na campanha pelos direitos civis e contra o racismo. Passou a compor canções de denúncia e protesto. Citava Luther King, Malcolm X e buscava inspiração em organizações como a dos Panteras Negras.
Foi o bastante para que a indústria cultural começasse a fechar-lhe as portas. O sucesso estrondoso da musicista de jazz não resistiu a seu engajamento político. Mas não teve arrego. “Como você pode ser um artista e não refletir os tempos? Para mim, essa é a definição de um artista”, afirmou certa vez.
Antes do Alabama, as ações da Ku-Klux-Klan e os corpos negros pendurados em árvores. Depois, o assassinato de King e Malcolm X. Em 1992, Las Vegas literalmente pegou fogo porque sua população negra não aguentava mais o racismo policial.
Nina não chegou a ver as recentes revoltas contra o ódio racial em Fergurson. Não cantou com raiva pelos corpos negros que tombaram novamente em uma igreja, em Charleston. Morreu em 2003, longe do sucesso, cheia de dignidade e na memória de todos os que se levantam contra o racismo.
A palavra “goddam” costuma receber traduções suaves como “droga” ou “maldição”. Mas a expressão mais adequada e que traduz toda a indignação e fúria que o racismo merece, sem dúvida, é “puta que o pariu!”
Ouça a música, clicando aqui
Leia também:
Música feita para queimar as entranhas
Um cineasta negro contra a Ku-Klux-Klan
Furiosa, Nina Simone compôs “Mississippi Goddam”, referindo-se a um dos estados americanos mais racistas. Nascia a guerreira. Explodia a raiva que ela acumulava desde que foi rejeitada como pianista clássica por ser negra.
A partir daí, Nina engajou-se firmemente na campanha pelos direitos civis e contra o racismo. Passou a compor canções de denúncia e protesto. Citava Luther King, Malcolm X e buscava inspiração em organizações como a dos Panteras Negras.
Foi o bastante para que a indústria cultural começasse a fechar-lhe as portas. O sucesso estrondoso da musicista de jazz não resistiu a seu engajamento político. Mas não teve arrego. “Como você pode ser um artista e não refletir os tempos? Para mim, essa é a definição de um artista”, afirmou certa vez.
Antes do Alabama, as ações da Ku-Klux-Klan e os corpos negros pendurados em árvores. Depois, o assassinato de King e Malcolm X. Em 1992, Las Vegas literalmente pegou fogo porque sua população negra não aguentava mais o racismo policial.
Nina não chegou a ver as recentes revoltas contra o ódio racial em Fergurson. Não cantou com raiva pelos corpos negros que tombaram novamente em uma igreja, em Charleston. Morreu em 2003, longe do sucesso, cheia de dignidade e na memória de todos os que se levantam contra o racismo.
A palavra “goddam” costuma receber traduções suaves como “droga” ou “maldição”. Mas a expressão mais adequada e que traduz toda a indignação e fúria que o racismo merece, sem dúvida, é “puta que o pariu!”
Ouça a música, clicando aqui
Leia também:
Música feita para queimar as entranhas
Um cineasta negro contra a Ku-Klux-Klan
10 de agosto de 2015
Quem paga imposto no Brasil são os pobres
A grande mídia adora falar em pesada carga
tributária sobre os brasileiros. Mas não é bem assim.
Em 01/08 passado, matéria do G1 revelava: “71
mil brasileiros concentram 22% de toda riqueza”. Esses
números foram deduzidos das declarações de imposto de renda divulgados este mês
pela Receita Federal. Esta elite que representa 0,3% do total é formada por pessoas
com renda mensal superior a 160 salários mínimos.
O problema é que os quase 80% da população brasileira que recebem
até três salários mínimos arcam com 53% da arrecadação tributária total. Enquanto
isso, quem recebe acima de 20 mínimos contribui com apenas
7,3%. São números de matéria publicada em InfoMoney, de
agosto de 2014.
Mas
a maior injustiça, mesmo, está na elevada tributação sobre o consumo, que pesa bem
mais no orçamento dos mais pobres. E é o que mostra reportagem do portal de notícias da Câmara Federal,
publicada em 31/07/2015.
Segundo
a matéria, a tributação sobre a propriedade responde por 6% da
arrecadação brasileira. Metade do arrecadado em países como Estados Unidos e
Reino Unido e 50% a menos que Argentina e França. Já os impostos sobre o
consumo, chegam a 44% no Brasil, mais que o dobro da estadunidense e bem maior
que a do Reino Unido ou França.
Números
como estes, a grande mídia não divulga. Prefere falar da carga tributária como
se ela pesasse igualmente para todos.
Talvez, a divulgação da mais recente lista de bilionários brasileiros da revista Forbes ajude a explicar
porquê. São 15 famílias controlando 5% do PIB nacional. Em primeiro lugar, o
clã dos Marinho, das Organizações Globo.
Leia
também: E a maioria explorada mais uma vez se
fode
9 de agosto de 2015
O “haitismo” continua entre nós
Entre 1791 e 1804, a Revolução Haitiana estourou na ilha
de São Domingos, então colônia francesa. Fundou a primeira república de
africanos e aboliu a escravidão na ilha.
Em seu livro "Brasil: Uma Biografia", Lilia
Schwarcz e Heloisa Starling mostram como a vitória dos pretos haitianos fez
surgir no século 19 o “haitismo”. Era o medo que os escravocratas locais passaram
a sentir de que seus escravos tentassem fazer algo parecido.
O temor era plenamente justificável. Afinal, segundo um
cronista da época citado pelo livro, havia “seis escravos (...) para um só senhor,
e onde, por consequência, o desejo inveterado das vinganças é como seis para um”.
Duzentos anos depois, uma onda de haitianos chega ao Brasil
fugindo do estado calamitoso em que afundou seu país. Uma situação que a presença
de tropas lideradas por militares brasileiros ajudou a piorar.
Dois séculos depois, há alguns dias, em São Paulo, em
plena luz do dia, um homem gritou para um grupo de haitianos: “Vocês estão
roubando emprego dos brasileiros”. Depois, atirou, ferindo seis dos haitianos.
O haitismo já não representa ameaça nem há mais escravidão.
Mas continuamos a ser uma das sociedades mais injustas do planeta. E se não há mais
seis cativos para um senhor, há muitos explorados e humilhados para poucos bilionários.
Nossas elites racistas não deveriam temer os haitianos
recém-chegados. A verdadeira ameaça pode vir dos que já estão aqui, sendo
pisoteados há séculos. São estes que sentem crescer cada vez mais aquele “desejo
inveterado das vinganças” que nunca foi saciado.
Invadimos o Haiti, mas ele continua sendo aqui.
Leia também: Indígenas, sem terra ou sepultura
8 de agosto de 2015
O partido da grande imprensa quer tranquilidade para Dilma
A grande imprensa vai mostrando porque é um dos partidos mais poderosos do grande
capital e sua fração mais lúcida.
Diante da grave crise política por que passa o governo Dilma, o Globo publicou editorial em 07/08 mostrando o caminho. Pediu que os partidos políticos dessem “condições de governabilidade ao Planalto”
No dia seguinte, o mesmo jornal emitiu nova opinião sobre a crise na página 3. Desta vez, afirmou que a realização de novas eleições exigida por PDSB e Dem equivale a colocar a carroça à frente dos bois.
O editorial da Folha de 08/08 vai no mesmo sentido. Em “Vácuo de legitimidade”, o jornal paulista chama de “inoportuna” a proposta da oposição conservadora. E ainda acusa um ala dos tucanos de pretender “subordinar os meios jurídicos a seus fins eleitorais, vergando as regras da democracia para encurtar o caminho até o poder”.
O texto da Folha também alerta para a complexidade e riscos que envolveriam um processo de impeachment, considerado pelo jornal mais político que jurídico.
Já o editorial do Globo de 08/08, dedicou-se a bater no PT. Recomenda ao partido que apoie seu “próprio governo” sob o risco de voltar a seus “grotões”: sindicatos e movimento sociais.
Mas o recado implícito é destinado à oposição de direita: batam à vontade no PT, mas poupem Dilma. Afinal, a presidenta precisa de tranquilidade para implementar o ajuste neoliberal que nunca prometeu fazer antes de ser eleita.
Como se vê, o partido da grande mídia sabe que é preciso fazer. Nosso azar é que o campo conservador provavelmente seguirá suas orientações. Desorientação, mesmo, só na esquerda.
Leia também: Várias razões para defender Dilma. Nenhuma que preste
Diante da grave crise política por que passa o governo Dilma, o Globo publicou editorial em 07/08 mostrando o caminho. Pediu que os partidos políticos dessem “condições de governabilidade ao Planalto”
No dia seguinte, o mesmo jornal emitiu nova opinião sobre a crise na página 3. Desta vez, afirmou que a realização de novas eleições exigida por PDSB e Dem equivale a colocar a carroça à frente dos bois.
O editorial da Folha de 08/08 vai no mesmo sentido. Em “Vácuo de legitimidade”, o jornal paulista chama de “inoportuna” a proposta da oposição conservadora. E ainda acusa um ala dos tucanos de pretender “subordinar os meios jurídicos a seus fins eleitorais, vergando as regras da democracia para encurtar o caminho até o poder”.
O texto da Folha também alerta para a complexidade e riscos que envolveriam um processo de impeachment, considerado pelo jornal mais político que jurídico.
Já o editorial do Globo de 08/08, dedicou-se a bater no PT. Recomenda ao partido que apoie seu “próprio governo” sob o risco de voltar a seus “grotões”: sindicatos e movimento sociais.
Mas o recado implícito é destinado à oposição de direita: batam à vontade no PT, mas poupem Dilma. Afinal, a presidenta precisa de tranquilidade para implementar o ajuste neoliberal que nunca prometeu fazer antes de ser eleita.
Como se vê, o partido da grande mídia sabe que é preciso fazer. Nosso azar é que o campo conservador provavelmente seguirá suas orientações. Desorientação, mesmo, só na esquerda.
Leia também: Várias razões para defender Dilma. Nenhuma que preste
7 de agosto de 2015
Várias razões para defender Dilma. Nenhuma que preste
Com 71% de rejeição, o governo Dilma ultrapassou Collor em seus piores momentos
e muita gente teme pelo futuro do governo petista. A começar pelo que se pode
deduzir do editorial do jornal O Globo publicado hoje.
Em “Manipulação do Congresso ultrapassa limites”, o jornalão conservador ataca a irresponsabilidade de Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal. Denuncia seu oposicionismo oportunista, cujo único objetivo seria desviar a atenção das fortes evidências de corrupção que o envolvem.
O mesmo editorial elogia Renan Calheiros, que estaria se distanciando de Cunha. Também aprova o “acordo suprapartidário” sugerido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Proposta que os tucanos deveriam apoiar, demonstrando assim a necessária “maturidade”, diz o texto.
Enquanto isso, a Folha traz a matéria “Governo busca apoio de elite empresarial para conter crise”. Para “driblar a crise”, diz o texto, o governo quer chamar a “elite empresarial brasileira” para conversar.
Entre os convidados, representantes de gigantes como Bradesco, Gerdau e Carrefour, considerados “relativamente próximos ao Executivo”. Causa estranheza apenas a afirmação de que o governo “precisa não só recuperar interlocução com os movimentos sociais, mas também refazer as pontes com o capital."
Não há qualquer “interlocução” séria possível com os movimentos sociais, já que a prioridade do governo sempre foi preservar as tais “pontes com o capital”, como, aliás, demonstram as fartas doações empresariais na última campanha presidencial.
O objetivo de toda essa movimentação? Aprovar o ajuste neoliberal de Joaquim Levy.
Portanto, é muito duvidoso que alguém realmente poderoso queira ver Dilma fora do governo. Já a esquerda que a defende, não poderia ter motivos mais tristes.
Leia também: As coerências da redução salarial
Em “Manipulação do Congresso ultrapassa limites”, o jornalão conservador ataca a irresponsabilidade de Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal. Denuncia seu oposicionismo oportunista, cujo único objetivo seria desviar a atenção das fortes evidências de corrupção que o envolvem.
O mesmo editorial elogia Renan Calheiros, que estaria se distanciando de Cunha. Também aprova o “acordo suprapartidário” sugerido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Proposta que os tucanos deveriam apoiar, demonstrando assim a necessária “maturidade”, diz o texto.
Enquanto isso, a Folha traz a matéria “Governo busca apoio de elite empresarial para conter crise”. Para “driblar a crise”, diz o texto, o governo quer chamar a “elite empresarial brasileira” para conversar.
Entre os convidados, representantes de gigantes como Bradesco, Gerdau e Carrefour, considerados “relativamente próximos ao Executivo”. Causa estranheza apenas a afirmação de que o governo “precisa não só recuperar interlocução com os movimentos sociais, mas também refazer as pontes com o capital."
Não há qualquer “interlocução” séria possível com os movimentos sociais, já que a prioridade do governo sempre foi preservar as tais “pontes com o capital”, como, aliás, demonstram as fartas doações empresariais na última campanha presidencial.
O objetivo de toda essa movimentação? Aprovar o ajuste neoliberal de Joaquim Levy.
Portanto, é muito duvidoso que alguém realmente poderoso queira ver Dilma fora do governo. Já a esquerda que a defende, não poderia ter motivos mais tristes.
Leia também: As coerências da redução salarial
5 de agosto de 2015
Indígenas, sem terra ou sepultura
“Não temos terra nem para enterrar nossos familiares mortos pelos fazendeiros”.
Estas palavras são do cacique da Aldeia Potrero Guassu, no Mato Grosso do Sul.
Foram dirigidas a uma comissão formada por parlamentares, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Funai e outras entidades em reunião realizada em junho passado com representantes de mais de 20 aldeias indígenas daquele estado.
Esta, porém, é só uma parte da realidade que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostra em seu relatório “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, lançado em julho.
Entre as muitas informações assustadoras do levantamento, a constatação de que a cada 100 indígenas que morrem no Brasil 40 são crianças. Para Dom Erwin Kräutler, presidente do Cimi, o número confirma “que está em curso uma política indigenista genocida”.
Mas não é de agora. Em seu livro "Brasil: Uma Biografia", Lilia Schwarcz e Heloisa Starling lembram as constantes matanças que marcam os povos indígenas entre nós. Ao mesmo tempo, recuperam a romantização por que passou a figura do índio em nossa história a partir do século 19.
O fenômeno era parte do processo de criação de um “panteão de heróis nacionais” necessário ao país recém liberto do colonialismo português. “Por oposição aos africanos, que lembravam a vergonhosa instituição escravocrata, o indígena permitia selecionar uma origem mítica e estetizada”, dizem as autoras.
Um dos pioneiros dessa romantização foi Gonçalves Dias, cujo poema mais conhecido é “I-Juca-Pirama”. Mais profético do que poético, o título da obra quer dizer em tupi “o que há de ser morto”. O subtítulo poderia ser “e nem mesmo terá direito a uma sepultura digna”.
Leia também: Suicídio indígena, branco e ocidental
Foram dirigidas a uma comissão formada por parlamentares, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Funai e outras entidades em reunião realizada em junho passado com representantes de mais de 20 aldeias indígenas daquele estado.
Esta, porém, é só uma parte da realidade que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostra em seu relatório “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, lançado em julho.
Entre as muitas informações assustadoras do levantamento, a constatação de que a cada 100 indígenas que morrem no Brasil 40 são crianças. Para Dom Erwin Kräutler, presidente do Cimi, o número confirma “que está em curso uma política indigenista genocida”.
Mas não é de agora. Em seu livro "Brasil: Uma Biografia", Lilia Schwarcz e Heloisa Starling lembram as constantes matanças que marcam os povos indígenas entre nós. Ao mesmo tempo, recuperam a romantização por que passou a figura do índio em nossa história a partir do século 19.
O fenômeno era parte do processo de criação de um “panteão de heróis nacionais” necessário ao país recém liberto do colonialismo português. “Por oposição aos africanos, que lembravam a vergonhosa instituição escravocrata, o indígena permitia selecionar uma origem mítica e estetizada”, dizem as autoras.
Um dos pioneiros dessa romantização foi Gonçalves Dias, cujo poema mais conhecido é “I-Juca-Pirama”. Mais profético do que poético, o título da obra quer dizer em tupi “o que há de ser morto”. O subtítulo poderia ser “e nem mesmo terá direito a uma sepultura digna”.
Leia também: Suicídio indígena, branco e ocidental
Punir não é o mesmo que fazer justiça
Orlando Zaccone é delegado da Polícia Civil do Rio de
Janeiro. Conhecido por sua militância pela legalização das drogas, ele concedeu
uma interessante entrevista que foi publicada no livro “Desmilitarizaçãoda polícia e da política: uma resposta que virá das ruas”.
Seu depoimento apresenta uma distinção importante entre justiça
e punição: “Quando pensamos na justiça, pensamos na modificação de uma ordem
injusta”. Fazer justiça, portanto, implica combater uma situação de
desequilíbrio. E a mera punição, sem elementos educativos, só mantém ou aprofunda
esse desequilíbrio.
É por isso, por exemplo, que as penas previstas pela lei
devem ser não apenas proporcionais ao crime cometido como acompanhadas de medidas
de reintegração social. Medidas que não beneficiariam apenas o condenado, mas também
a sociedade, que o receberia de volta como cidadão.
Em condições ideais, esse já é um processo difícil. Mas
fica muito pior em cadeias superlotadas, governadas pela lei do mais forte e
onde praticamente inexistem programas de readaptação social. Sem falar num
sistema que, muitas vezes, prende sem condenação formal.
É importante levar em conta esse contexto no debate sobre
a redução da maioridade penal. A grande maioria de seus defensores quer punições
tão duras para infratores jovens como as destinadas aos criminosos adultos.
Ocorre que o desequilíbrio original não nasce do ato
infracional, mas do acesso precário a direitos como saúde, educação, lazer,
cultura. Responder a essas carências com mera punição apenas realimenta os
mecanismos de injustiça.
Reduzir meninos e meninas à condição de objeto de castigo
significa antecipar sua perda para a vida social e confirmar mais uma vez o
fracasso de nossa sociedade.
3 de agosto de 2015
Vito Giannotti e a conjuntura do satanás
Vito Giannotti gostava de contar uma historinha engraçada para demonstrar a
importância da comunicação para a organização dos trabalhadores.
Nos anos 1980, na saída de uma reunião sindical, ele conversava com um operário iniciante na militância:
Nos anos 1980, na saída de uma reunião sindical, ele conversava com um operário iniciante na militância:
- Vito: E aí, rapaz, gostou da
reunião?
- Gostei, sim. Só não entendo porque a gente não junta forças pra atacar logo o inimigo principal?
- Vito: Qual inimigo, os patrões, a Fiesp, o governo?
- Não. Essa tal de conjuntura!
- Vito: Como assim? Não tô entendendo?
- Ué, na reunião, o pessoal ficava falando “a conjuntura não ajuda”, “a conjuntura tá contra nós”, “a conjuntura é desfavorável”. Então, a gente tem que acabar com essa conjuntura, logo. Fazer picadinho desse satanás!
- Gostei, sim. Só não entendo porque a gente não junta forças pra atacar logo o inimigo principal?
- Vito: Qual inimigo, os patrões, a Fiesp, o governo?
- Não. Essa tal de conjuntura!
- Vito: Como assim? Não tô entendendo?
- Ué, na reunião, o pessoal ficava falando “a conjuntura não ajuda”, “a conjuntura tá contra nós”, “a conjuntura é desfavorável”. Então, a gente tem que acabar com essa conjuntura, logo. Fazer picadinho desse satanás!
Sem isso, continuaremos a falar apenas por algumas dúzias de pessoas iniciadas. Afinal, para mudar, transformar, revolucionar a sociedade, é preciso falar para milhões de “pessoas normais”. Do contrário, não travamos a disputa de hegemonia para fazer a visão libertadora dos explorados prevalecer.
Esta era a grande luta de Vito Giannotti. Por isso, seus vários livros em linguagem simples, direta, cortante, sem perder a radicalidade. Daí, a publicação de “Manual de Linguagem Sindical”, “Dicionário de Politiquês”, “Muralhas da Linguagem”...
Desde aquela conversa, a obra de Vito vem nos ajudando muito a superar esse problema. Só o que não mudou tanto assim foi a conjuntura, que continua sendo uma coisa do satanás!
Leia também: Tchau não, Vito. Ciao!
2 de agosto de 2015
Gramsci, conservadorismo e progressismo em São Paulo
Em 01/08, a Revista Fórum publicou a matéria “São Paulo, muito mais que ‘cidade
reacionária’” sobre a pesquisa “Conservadorismo e Progressismo na Cidade de São
Paulo”, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a ser lançada
em agosto.
O levantamento revelaria uma “metrópole complexa: libertária diante de casamento gay, legalização da maconha ou famílias heterodoxas”. Conservadora em relação a temas como as cotas e maioridade penal.
Os resultados verificados mostrariam que a maior cidade do País não tem vocação conservadora tanto quanto não tende para a rebeldia. Mas, talvez, a pesquisa só confirme aquilo que, graças a Gramsci, já sabíamos em relação a qualquer arranjo social complexo da contemporaneidade.
O revolucionário italiano costumava definir o “senso comum” como “uma concepção fragmentária, incoerente, inconsequente, conforme a situação social e cultural da multidão". Estes elementos formariam um “bom senso” que naturaliza as relações sociais vigentes e desencorajam sua mudança.
No entanto, fazem parte dessa maçaroca ideológica elementos que podem ser utilizados na luta contra a própria ordem social injusta em que vivemos. Na verdade, somente sua existência possibilita mostrar a incoerência da ideologia dominante e a falsidade da visão de mundo que ela defende.
Ser, ao mesmo tempo, favorável ao casamento gay e à redução da maioridade penal, por exemplo, somente é possível quando o horizonte geral que predomina é conservador. Arrancar do domínio desse horizonte os elementos progressistas e articulá-los a uma concepção emancipadora é tarefa dos revolucionários.
A isto Gramsci chamou disputa de hegemonia. E seu ponto de partida é a recusa em aceitar qualquer sociedade como sendo essencialmente conservadora ou inevitavelmente contestadora.
Leia também: A esquerda que só fala para si mesma
O levantamento revelaria uma “metrópole complexa: libertária diante de casamento gay, legalização da maconha ou famílias heterodoxas”. Conservadora em relação a temas como as cotas e maioridade penal.
Os resultados verificados mostrariam que a maior cidade do País não tem vocação conservadora tanto quanto não tende para a rebeldia. Mas, talvez, a pesquisa só confirme aquilo que, graças a Gramsci, já sabíamos em relação a qualquer arranjo social complexo da contemporaneidade.
O revolucionário italiano costumava definir o “senso comum” como “uma concepção fragmentária, incoerente, inconsequente, conforme a situação social e cultural da multidão". Estes elementos formariam um “bom senso” que naturaliza as relações sociais vigentes e desencorajam sua mudança.
No entanto, fazem parte dessa maçaroca ideológica elementos que podem ser utilizados na luta contra a própria ordem social injusta em que vivemos. Na verdade, somente sua existência possibilita mostrar a incoerência da ideologia dominante e a falsidade da visão de mundo que ela defende.
Ser, ao mesmo tempo, favorável ao casamento gay e à redução da maioridade penal, por exemplo, somente é possível quando o horizonte geral que predomina é conservador. Arrancar do domínio desse horizonte os elementos progressistas e articulá-los a uma concepção emancipadora é tarefa dos revolucionários.
A isto Gramsci chamou disputa de hegemonia. E seu ponto de partida é a recusa em aceitar qualquer sociedade como sendo essencialmente conservadora ou inevitavelmente contestadora.
Leia também: A esquerda que só fala para si mesma