Doses maiores

20 de novembro de 2011

Preconceito racial e consumo

A Lei Afonso Arinos foi a primeira a considerar crime o preconceito racial no Brasil. Foi aprovada após um hotel de luxo paulista recusar hospedagem à bailarina norte-americana Katherine Dunhan.

Não deixava de ser um avanço num país que ainda acusa de serem preconceituosos os que denunciam o racismo. Mas a lei preocupava-se mais com o direito dos negros como consumidores do que como cidadãos.

Tanto é que seu primeiro artigo proíbe a "recusa, por parte de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de hospedar, servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça ou de cor".

A lei é de 1951. Em 1963, Edmar Morel e João Cândido lançavam a segunda edição de “A Revolta da Chibata”, no centro do Rio de Janeiro. A publicação retratava um dos mais importantes episódios da luta contra o racismo e por dignidade humana de nossa história.

Como a noite de autógrafos terminou tarde da noite, João Cândido resolveu se hospedar perto do local do evento. Mas teve que passar por dez hotéis antes de conseguir uma vaga. Testemunhas da época garantiram que as recusas tinham motivação racista.

Muitas décadas e algumas leis depois, pouca coisa mudou. No começo de novembro deste ano, reportagem do jornal Brasil de Fato ganhou o Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento. Trata-se de “Supermercado ou Pelourinho?” de Eduardo Sales de Lima e Jorge Américo. Relata casos de racismo e tortura ocorridos nas três maiores redes de supermercado do Brasil: Carrefour, Walmart e Extra.

E ainda há quem ache que o racismo brasileiro tem origem econômica apenas.

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Um comentário:

  1. Excelente reflexão, Sérgio. O Brasil é um país extremamente hipócrita e trata com falácias a questão racial. Uma frágil e falsa democracia que exclui os negros e os trata de forma nefasta.
    Grande abraço, Romilson Madeira

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