Doses maiores

7 de outubro de 2016

Das próteses mentais às viseiras cerebrais

Em 1938, H.G. Wells publicou um ensaio prevendo a criação de uma biblioteca reunindo todo o conhecimento produzido no mundo. Uma espécie de “Cérebro Mundial”, título do texto.

Em 2013, Ben Lewis lançou o documentário “Google, o Cérebro Mundial”, comparando as pretensões da poderosa empresa estadunidense às previsões de Wells. Mais especificamente, em relação ao Google Books, voltado à digitalização de todos os livros lançados no planeta.

Desde então, os desenvolvimentos de aplicativos digitais parecem caminhar não apenas em direção à tal biblioteca mundial. Ao nos oferecerem seus serviços, Google, Facebook e outras empresas semelhantes se apropriam de nossas informações e hábitos para negociar no mercado.

O mais recente lançamento nesse sentido é o smartphone Pixel, da Google. Ele traz um sistema operacional que pretende saber tudo de seu usuário. De gostos estéticos e culinários ao tipo preferido de decoração residencial.

Mas o maior problema não é apenas a geração de enormes lucros às custas de nosso trabalho gratuito. Grave, mesmo, é que o uso dessas informações tende a reafirmar nossos hábitos, costumes, valores. Um mecanismo que nos isola de contradições e diferenças e pode rebaixar nossa dimensão pessoal ao nível raso do consumismo.

Os computadores pessoais são as mais ambiciosas de nossas ferramentas. Sua principal função é imitar o cérebro humano. Mas as recentes inovações em engenharia da informação os transformaram em próteses mais que em ferramentas. Ao invés de auxiliar nossas percepções e habilidades, pretendem substituí-las.

No entanto, os próximos passos podem ir ainda mais longe. No lugar de substituir nossas capacidades e disposições mentais, as próximas próteses ameaçam mandar nelas.

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