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30 de novembro de 2021

Louverture: mestre de uma escola de insurreição

Em 1791, teve início uma revolta de escravizados em San Domingue, colônia francesa que se tornaria o Haiti. Toussaint Louverture era um de seus líderes.

Três anos antes, ocorrera a Revolução Francesa. Mas o levante da plebe de Paris manteve intacta a máquina colonial. Em maio de 1791, por exemplo, a Assembleia Constituinte tornou a escravidão constitucional.

Quanto a Saint-Domingue, era consenso entre os revolucionários parisienses que a Declaração dos Direitos do Homem de 1789 não poderia ser aplicada, sob pena de destruir a “imperiosa necessidade” de preservar a divisão entre as três raças da colônia.

A Revolução Francesa tinha tomado claramente o partido dos proprietários de escravos. Enquanto isso, na colônia caribenha, reformistas mestiços buscavam uma aliança com os brancos para fortalecer a escravidão.

O fato é que, às vésperas do levante parisiense, havia em Saint-Domingue 500 mil negros cativos. E pessoas não brancas eram donas de mais ou menos um quarto dos escravizados.

Tudo isso fortaleceu em Toussaint a convicção de que os direitos da população negra de Saint-Domingue só seriam garantidos se ela própria tomasse a iniciativa política.

Condições sociais e políticas para isso não faltavam. Soldados e marujos recém-chegados da Metrópole repetiam com entusiasmo as últimas máximas sobre liberdade e igualdade dos clubes revolucionários franceses e as repassavam a escravizados nas docas. Em suas memórias, um colono branco descreveu, assustado, as cidades costeiras de Saint-Domingue daquela época como uma “escola fumegante de insurreição”.

As informações acima estão no livro "O maior revolucionário das Américas" de Sudhir Hazareesingh. Nas próximas pílulas, veremos como Louverture tornou-se mestre daquela escola fumegante de insurreição.

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29 de novembro de 2021

O maior revolucionário das Américas

"O maior revolucionário das Américas" é um livro do historiador britânico Sudhir Hazareesingh, recém lançado no Brasil. Trata-se de uma biografia de Toussaint Louverture, líder da revolução que levaria à independência do Haiti.

Afirmar que o grande revolucionário negro seria o maior de toda a história americana pode parecer exagero. Mas a leitura da obra não apenas confirma a correção de seu título, como pode facilmente colocar Louverture entre os maiores revolucionários de todos os tempos e lugares.

Afinal, Louverture liderou a única revolução vitoriosa de escravizados de que se tem registro. Além disso, poucos anos após a incendiária Revolução Francesa, foi muito mais radical que os jacobinos, ao abolir a escravidão na então colônia francesa contra a vontade dos governantes parisienses. Medida sem a qual, dizia ele, a defesa de fraternidade, liberdade e igualdade não passava de hipocrisia.

Louverture trilhou caminhos tortuosos e contraditórios. Ex-escravizado, chegou a ter escravos. Aliou-se aos monarquistas espanhóis contra os republicanos franceses. Voltou a aliar-se aos franceses, enquanto negociava secretamente com os britânicos. Determinou que os negros recém-libertos pela revolução continuassem trabalhando para seus antigos senhores.

Jurando lealdade à França, aprovou uma constituição que, na prática, era uma declaração de independência nacional. Era mestre em negociações diplomáticas tanto quanto nos campos de batalha. Tornou-se ditador para enfrentar a ditadura instaurada por Napoleão. E este último, considerado um gênio militar, viu suas poderosas tropas sucumbirem diante do exército maltrapilho de Louverture.

Todas essas idas e vindas serviam a um grande propósito: o fim definitivo da escravidão e a construção de uma igualdade republicana radical.

Mais nas próximas pílulas.

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