Doses maiores

30 de junho de 2010

Nós torcemos, a FIFA lucra


Em toda Copa, adotamos uma seleção pra torcer, tirando a do Brasil. Torcemos para os africanos ou para os hermanos sul-americanos. Exceto a Argentina, claro. Para portugueses, com certeza. Espanhóis e italianos, talvez. Para o japoneses, por causa do Zico?

Mas, afinal por que torcermos pela seleção brasileira? Certamente, por nacionalismo. E para ver nosso povo alegre. Para que brilhem os atletas, nascidos e criados aqui. Aqueles que mostram todo seu futebol aqui... Opa! Da seleção atual, apenas três deles jogam em clubes brasileiros.

Isso leva a uma questão interessante. As regras dos campeonatos nacionais permitem equipes formadas por jogadores estrangeiros. Mas, na Copa isso não pode acontecer. Os atletas têm que ser nascidos ou naturalizados no país pelo qual jogam. Por que será?

Certamente, porque do contrário o papel do poder econômico ficaria escancarado. As melhores seleções seriam as mais caras, formadas nos países mais ricos. Isso não nos impediria de torcer. Mas, provavelmente, um torneio que acontece a cada quatro anos não seria tão festejado. Ou melhor, tão consumido.

E quem mais lucra com tudo isso? As empresas patrocinadoras, lógico. Mas, é a FIFA que centraliza os negócios. Ela é o grande monopólio que controla tudo isso. Sua sede fica na Suíça, o maior paraíso fiscal do mundo. Seus diretores são poderosos. A FIFA tem fins lucrativos, mas é isenta de impostos no Brasil, sabia?

Aliás, um dos maiores construtores desse império é brasileiro. É João Havelange, que assumiu a presidência da entidade com apoio da ditadura militar. Agora, sim, já sabemos por que torcer pelo Brasil e agüentar os desmandos da FIFA. Tá tudo em casa!

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Pela Seleção, contra o patriotismo

29 de junho de 2010

EUA: a Copa e banqueiros pilantras

No início da Copa, analistas do JP Morgan fizeram previsões sobre o resultado da competição. O banco americano dizia que o Brasil perde nos pênaltis para a Holanda. O campeão seria a já desclassificada Inglaterra. Bobagem de quem não conseguiu prever a crise que começou em 2008 e pegou o sistema bancário em cheio.

O negócio do JP Morgan não é fazer previsões. É pilantragem, mesmo. Na crise de 2008, o governo americano fez um enorme empréstimo ao banco Bear Stearns, que estava ameaçado de quebrar. Salvo da falência, o Bear foi vendido para o JP Morgan ao preço de 2 dólares por ação. Antes da crise, as ações valiam 160 dólares. O enorme lucro do JP Morgan nessa transação foi financiado pelo povo estadunidense.

Mas, esta não é a primeira trapaça do JP Morgan. Quem conta é mais uma vez Howard Zinn, em seu livro “Uma história do povo dos Estados Unidos”. John Pierpont Morgan começou a fazer fortuna no final da Guerra Civil americana. Havia falta de rifles no mercado. Morgan comprou armas velhas e recauchutou. Vendeu como novos ao exército. Resultado, de um lado, muito lucro para Morgan fundar seu banco. De outro, soldados mortos e mutilados ao usar os rifles defeituosos.

Para completar, ao ser convocado para lutar na guerra, Morgan pagou 300 dólares para que outro se apresentasse em seu lugar. São casos como estes que revelam os Estados Unidos como o paraíso da pilantragem capitalista. Campeão absoluto nessa competição cheia de fortes concorrentes.

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28 de junho de 2010

A Bíblia, o aborto, a homossexualidade

A revista Época desta semana traz uma entrevista com o Pastor Sóstenes Apolos da Silva, líder religioso da candidata do PV, Marina Silva. Quanto ao direito ao aborto, o pastor disse que o estatuto do PV libera seus membros para votar segundo sua consciência.

Ora, é exatamente disso que se trata. Legalizar o aborto significa deixar às consciências dos envolvidos (principalmente, as mulheres) a opção por fazê-lo ou não. Com a vantagem de que para as mais pobres, a interrupção da gravidez poderia ser feita de modo mais digno e seguro.

O pastor também afirma que a Bíblia considera a homossexualidade uma “prática abominável”. E cobra coerência: “Ou cremos na Bíblia ou não cremos.”

A resposta do pastor lembra uma mensagem que ficou famosa na internete há alguns anos. O ouvinte de um programa religioso de rádio questiona a citação dos “textos sagrados” para condenar a homossexualidade. Segundo Levíticos 25:44, diz o ouvinte, a posse de escravos é possível desde que sejam comprados de nações vizinhas. Êxodo 21:7 autoriza a venda de filhas como escravas. Ainda segundo Êxodo 35:2, aqueles que trabalham aos sábados estão sujeitos à pena de morte.

Assim, ao pastor deveria ser lembrado que a Bíblia não deve ser utilizada como um manual de conduta. Ainda menos, para quem não crê na santidade de seus preceitos. Vários de nós têm todo o direito de dizer “não cremos nela”. Mas muitos outros têm o mesmo direito de afirmar “não cremos nela do mesmo modo”.

25 de junho de 2010

Pela Seleção, contra o patriotismo

Dizem que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas. Nem todo patriota é canalha. Mas, os canalhas adoram o patriotismo.

A pátria dos milhões de trabalhadores brasileiros é a mesma de seus patrões? A quem interessa dizer que formamos uma só comunidade nacional? Os trabalhadores brasileiros têm mais em comum com seus companheiros na Argentina, Estados Unidos ou Japão do que com aqueles que arrancam seu couro falando português.

No Brasil, o último refúgio do patriotismo é a seleção brasileira. Seu uso político mais escandaloso aconteceu durante a Copa de 70. O povo comemorava e a ditadura torturava e matava. Tudo ao som de “Pra frente Brasil”. Portanto, desconfiar do uso político do futebol é normal. Em época de copa, é uma obrigação.

Atualmente, o uso dessa paixão nacional envolve mais dinheiro que política. Muita gente lucra com a camisa canarinho. E os jogadores não são os maiores beneficiados.

Nada disso autoriza a torcida permanente contra a seleção brasileira. Nem condena o futebol a ser só mais um “ópio do povo”. Na África, por exemplo, houve casos em que o futebol ajudou na mobilização do povo para se libertar dos colonizadores.

No Egito, um time chamado Al Ahly simbolizou a luta contra os ingleses. Na Argélia, Ferhat Abbas foi um dos líderes da independência do país. Referindo-se aos franceses, declarou: “Eles nos governam com pistolas e fuzis. No gramado, quando são apenas 11 contra 11, nós podemos mostrar quem é realmente superior”.

Torça sem moderação e sem patriotismo.

24 de junho de 2010

EUA: nasce um monstro imperialista

Em seu livro “Uma história do povo dos Estados Unidos”, o historiador Howard Zinn conta a história do nascimento da “nação ianque”. Na verdade, um monstro imperialista. A começar por sua declaração de independência. Segundo Zinn, o famoso documento não incluía os interesses de indígenas, negros e mulheres.

Não é para menos. Quase 70% dos que assinaram a declaração haviam sido funcionários da administração colonial. Colaboraram na obra de matança, exploração e dominação. Não teriam porque não continuar a fazer o mesmo depois de se livrarem dos ingleses.

Entre os principais idealizadores da declaração estavam George Washington, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson. Os primeiros eram dois dos homens mais ricos da colônia. Jefferson foi um grande proprietário de escravos.

A declaração costuma ser elogiada por defender princípios de justiça, liberdade e igualdade. Mas, quase ninguém comenta um trecho do documento que faz referência aos indígenas como seres “selvagens e impiedosos, que adotavam como regra de guerra a destruição sem distinção de idade, sexo e condições”.

Com uma certidão de nascimento dessas, não é difícil entender como foi parido o monstro estadunidense. Segundo Zinn, o mais engenhoso sistema de dominação da história.

Leia também: Zinn: um historiador do povo

23 de junho de 2010

Ricos mais ricos depois da recessão

Notícia de O Estado de S. Paulo de hoje diz que os ricos ficaram mais ricos no ano passado, após a “pior recessão em décadas”.

Os milionários do mundo "cresceram 17 %, para 10 milhões de pessoas, enquanto a riqueza coletiva deles aumentou 19%, para US$ 39 trilhões". É o que diz relatório sobre riqueza mundial da Merrill Lynch-Capgemini.

Ainda segundo a notícia, "o aumento mais acelerado de riqueza aconteceu na Índia, na China e no Brasil". Alguma dúvida sobre o caráter concentrador de riqueza do capitalismo?

Remédios pesam mais no bolso dos pobres

Pesquisa do IBGE sobre orçamentos familiares revela que para famílias com renda até R$ 400, o gasto com medicamentos corresponde a 3% das despesas mensais e 75% de seus gastos com saúde no mês. Já, no orçamento de famílias com rendimento superior a R$ 6 mil a proporção é de 1,3% e 23%, respectivamente. Dados referentes a 2002 e 2003.

Argentino vira brasileiro, franceses também... e vice-versa

Em tempos de Copa, muitos torcem por sua seleções por motivos patrióticos. Na vida real, a história é diferente. Para ficar com um contrato de R$ 6 bilhões, a empresa argentina Impsa quer se passar por brasileira. Está de olho nos generosos financiamentos do BNDES. O dono da empresa chegou a tirar foto com a camisa da Seleção durante o jogo entre Brasil e Coréia do Norte, que assistiu na África do Sul.

A francesa Alstom também está na disputa. E vai pelo mesmo caminho. O diretor da empresa no Brasil, Marcos Costa, garante: "Nossa empresa é brasileira com origem europeia".

Alguém duvida de que há executivos das multinacionais brasileiras pelo mundo fazendo o mesmo? E tem gente que acha que ainda existe uma coisa chamada “grande capital nacional”.

22 de junho de 2010

Dunga X Globo: joguinho feio

O técnico da seleção está mais pra Zangado que pra Dunga. E sem direito a Branca de Neve. O exemplo mais recente de suas grosserias foram alguns palavrões disparados contra jornalistas da Globo em uma entrevista coletiva.

É só mais um capítulo na recente guerra entre a grande imprensa e o técnico. Treinos secretos e pouco acesso aos jogadores causam revolta nas emissoras e jornalões. Reclamam de “cerceamento” a informação.

O fato é que Globo, Band, Folha, Estadão e outros monopólios estão defendendo seus lucros e os interesses de seus proprietários, controladores ou acionistas. Nada a ver com direito à informação.

Corre na internete o relato de outro episódio envolvendo a Globo. Dunga teria se recusado a conceder uma entrevista exclusiva a Fátima Bernardes, autorizada por Ricardo Teixeira. O técnico da seleção não foi consultado e bateu a porta da concentração na cara da jornalista.

Com isso, Dunga arranjou briga com a bruxa má da história. A Globo é daquelas que costuma dar maças envenenadas de presente.

Poderíamos bater palmas para Dunga, não fosse o fato de que só ocupa o posto de treinador da Seleção por obra e graça do presidente da CBF. Ou seja, ninguém é bonzinho nisso tudo.

É um jogo cheio de caneladas e chutes acima da cintura. Retrato de um esporte apaixonante, entregue às pornográficas relações entre mídia, empresas, cartolas e governantes. Tudo movido a muito dinheiro e poder.

21 de junho de 2010

Saramago e as vacas de presépio

Em geral, a cobertura da grande imprensa sobre a morte de José Saramago escondeu suas atitudes militantes. Citou sua condição de comunista como se fosse uma esquisitice de velho. Não citou, por exemplo, a forte ligação do escritor com o MST.

Em um trecho de “A viagem do Elefante”, Saramago parece fazer uma metáfora sobre o que acontece a muitos daqueles que se recusam a abandonar a luta.

Trata-se da “...história de uma vaca que se perdeu nos campos com a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, e foi obrigada a defender-se e a defender o filho, uma longuíssima batalha, a agonia de viver no limiar da morte, um círculo de dentes, de goelas abertas, as arremetidas bruscas, as cornadas que não podiam falhar, de ter de lutar por si mesma e por um animalzinho que ainda não se podia valer, e também aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mãe, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam, de espinhaço raso e orelhas aguçadas. Subhro respirou fundo e prosseguiu, Ao fim dos doze dias a vaca foi encontrada e salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia, porém o conto não vai acabar aqui, continuou por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, a vaca foi morta, mataram-na, não os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal não poderia parar nunca mais”.

Não mataram Saramago. Tentam matar suas idéias e convicções. São as vacas de presépio, que vivem a bater cabeça para os poderosos.

18 de junho de 2010

Saramago não vai a deus

José Saramago morreu. O escritor já não escreve. Era também um lutador. Lá com suas armas. Pena, caneta, máquina, computador. Usados em boa parte de seus 87 anos. Para nós, a melhor parte.

Nos deixam suas longas sentenças. Quase sem pontuação especialmente aqueles incômodos pontos de interrogação. Mesmo sem eles, fazia muitas perguntas incômodas. Sobre a injustiça social, a exploração, a opressão e a estupidez humana em sua forma mais acabada: o capitalismo. Sobre o qual não tinha interrogações. Só afirmações ácidas.

Nos anos 90 imperava o discurso único neoliberal. Saramago confessou-se um dinossauro, se dinossauros fossem os comunistas. Melhor seria dizer que velhas, pesadas e brutais eram as idéias dominantes. Aquelas que defendem um modo de vida que ameaça de extinção tudo o que se pode considerar humano.

O Nobel que ganhou em 98 pouco vale perto da censura que sofreu em Portugal. O evangelho segundo jesus cristo foi proibido. Abalou os católicos de sua terra natal. Medalha mais reluzente não lhe poderiam dar seus patrícios idiotas. Morreu em exílio voluntário, em Espanha.

Era rabugento com Deus. Como a erva que lhe emprestou o sobrenome, Saramago é um tanto rústico quando trata das coisas divinas. Deveria ser mais tolerante com uma das criações mais interessantes da humanidade, para o bem e para o mal. Já não falemos o mesmo da religião institucionalizada.

Mas não vamos ralhar muito com quem recém partiu. Se calhar, deus existindo, Saramago certamente não lhe fará reverências. Teimoso, vai preferir o inferno, com seu chefe malicioso e a companhia de outros subversivos.

Saramago não vai a deus. Nem mesmo vai. Fica conosco em suas obras e idéias. Mas lá se vão sua língua ferina e a escrita sábia. Então, vai Saramago adeus

17 de junho de 2010

Um racista escreve a lei contra o racismo

É assim que dá pra entender a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. A proposta final é de Demóstenes Torres (DEM-GO). Aquele que num debate sobre as cotas, em março passado, disse que o estupro de escravas negras por seus donos aconteceu “de forma muito mais consensual”.

A proposta de Torres acabou com as cotas na educação, serviço público, empresas e partidos políticos. Programas de saúde pública voltados para a população negra também ficaram de fora.

Pior que isso, foi ver como reagiram alguns dos defensores históricos da aprovação do Estatuto. É o caso do senador Paulo Paim (PT-RS). Embora não seja ideal, é o possível, disse ele.

O também petista Edson Santos, ex-ministro da Igualdade Racial, disse que a proposta reflete "o melhor entendimento possível em torno do assunto". O “melhor entendimento possível” só pode ser aquele baseado na democracia racial.

Democracia racial é a ideologia defendida pelos brancos da elite brasileira. Sua idéia básica é a de que os negros são desfavorecidos porque são pobres, não por causa da cor de sua pele.

Ou seja, os poderosos até admitem que existe injustiça econômica, jamais injustiça racial. Só pode ser porque a luta contra o racismo teria um efeito explosivo num país com mais da metade da população formada por negros. Praticamente todos vivendo em condições piores que os brancos.

Demóstenes Torres é do partido dos antigos coronéis escravocratas. Conquistou mais uma vitória para manter forte o racismo brasileiro.

16 de junho de 2010

Era Lula: confusões nada confusas

Lula aprovou o reajuste de 7,7% para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo. A grande imprensa grita. Considera a decisão política, eleitoreira, populista. É como costuma chamar toda medida que alivia a situação dos trabalhadores. Mas não fala quase nada sobre a outra decisão do presidente petista que prejudica milhões de trabalhadores.

É o veto à proposta que acaba com o fator previdenciário. Para quem não sabe ou não se lembra, o fator previdenciário é um golpe aplicado pelo governo FHC, em 1999. Como não havia conseguido impor idade mínima para a aposentadoria, o governo tucano inventou um cálculo que torna desvantajoso solicitar o benefício para quem já tem o tempo necessário de contribuição.

Na época, a medida foi apoiada por PSDB, PMDB, PFL (atual DEM) e outros setores desprezíveis da política oficial. O PT e alguns outros partidos de esquerda votaram contra. Hoje, uns e outros se igualam numa troca de posições vergonhosa. PSDB e DEM (ex-PFL) são pelo fim do fator só para desgastar o governo. Petistas e apoiadores do governo são contra porque se transformaram em paladinos das reformas neoliberais.

Parece confuso, mas não é. Eles ficam trocando tapas e beijos às custas do justo direito à aposentadoria de milhões de trabalhadores.

15 de junho de 2010

E Mano Brown acabou no Fantástico

Em 13/05, o vocalista e líder do coletivo Racionais MCs apareceu no programa Fantástico. Ao lado de Jorge Ben Jor, Mano Brown cantava a música "Ponta de lança africano (Umbabarauma)". O projeto foi patrocinado pela Nike.

Mano Brown é a maior referência do hip-hop contestador no Brasil. Ou era. Uma das coisas que sempre denunciou em suas músicas era a discriminação com que a grande mídia trata negros e pobres.

Em dezembro de 2009, Brown já havia sido capa da revista Rolling Stone. A publicação é voltada para a indústria da música. Muito distante da realidade da grande maioria dos negros e pobres.

Agora, aparece num dos programas de maior audiência da Rede Globo. A emissora é a principal defensora dos interesses dos brancos e ricos no Brasil.

Mano Brown pode dizer que conquistou a visibilidade que cobrava. Que não mudou seu discurso. Pode ser, mas não há como calçar essa chuteira e vestir essa camisa sem fazer parte do time do inimigo.

É pena. Mas, o hip hop é como qualquer movimento de resistência. Está sujeito às seduções do poder e do dinheiro. Felizmente, muitos de seus lutadores continuarão no lado de cá da trincheira.

Um belo exemplo é o grupo Levante, do coletivo Lutarmada. Ouça Abalando as estruturas globais, que denuncia o poder da Globo.

14 de junho de 2010

O negócio da China é capitalista

Desde janeiro, 11 operários da Foxconn, na China, se mataram. O primeiro deles foi Max Xiangqian, de 19 anos. Operário, ganhava 1 dólar por hora. Durante o horário de trabalho não podia falar. Banheiro, só três vezes por dia. Deixou uma carta em que dizia viver como escravo.

Interessa aos capitalistas chamar a China de comunista. Mas o que acontece lá não passa de capitalismo. Em pleno funcionamento. A Foxconn fornece equipamentos para empresas como Apple, Dell, HP e Nintendo.

A Revolução Chinesa foi um episódio heróico. Mas, de socialista só tinha o nome. Na verdade, foi uma luta de libertação nacional. Influenciado pelo capitalismo de Estado soviético, Mao Tsé-Tung queria um Estado chinês poderoso na competição global.

Mas foi sob comando Deng Xiaoping que a China virou potência mundial. O capitalismo estatal abriu-se ao mercado mundial. Com uma imensa população obrigada a vender sua força-de-trabalho, a super-exploração é o verdadeiro segredo do “milagre chinês”.

Pra ter uma idéia, a onda de suicídios levou a Foxconn a conceder um aumento salarial. Sabe de quanto? Setenta por cento! O tamanho do reajuste denuncia a dimensão da exploração.

Os trabalhadores chineses sempre lutaram. Só que agora a resistência operária começa a ficar do tamanho conquistado pela economia chinesa no cenário mundial. Não há de ficar nos suicídios. Muitas outras lutas ainda devem surgir. Contra a morte voluntária que o capitalismo representa.

11 de junho de 2010

Zinn: um historiador do povo

O historiador estadunidense Howard Zinn morreu em janeiro de 2010. “A people’s history of the United States” é seu livro mais importante. Em português, o título poderia ser “Uma história do povo dos Estados Unidos”.

Neste livro, Zinn diz que a história que pretende narrar é a da “descoberta da América do ponto de vista dos índios Arawaks; da Constituição a partir da situação dos escravos; (...) da Guerra Civil, vista pelos irlandeses pobres de Nova Iorque; da Primeira Guerra, vista pelos socialistas; da Segunda Guerra, vista pelos pacifistas...”.

A obra desmascara a imagem dos Estados Unidos como uma grande democracia. Mostra como republicanos e democratas são apenas duas alas de um só grande partido. O partido do grande capital dominando uma ditadura perfeita.

De um lado, a lavagem cerebral ideológica de jornais, TV, rádio e cinema. De outro, censura e repressão, menos visíveis porque dificilmente partem do governo central. A maior parte do trabalho sujo é feito por governos estaduais, municipais, juízes, xerifes, organizações da “sociedade civil”, milícias.

O livro denuncia inúmeros episódios de perseguições, prisões, torturas, assassinatos, massacres. Suas vítimas: indígenas, negros, sindicalistas, migrantes, mulheres, homossexuais. Sem falar nos povos espalhados pelo planeta.

É uma vergonha que a esquerda brasileira ainda não tenha traduzido pelo menos esta obra do grande historiador libertário. Enquanto isso não acontece, as pílulas trarão alguns dos episódios que o livro narra.

10 de junho de 2010

O PT gangrena

Manoel da Conceição é uma liderança camponesa do Maranhão. Com mais 50 anos de luta, foi um dos fundadores do PT. Em 09/05, divulgou carta ao presidente Lula. Está indignado com a possibilidade de aliança entre seu partido e o PMDB de Roseana Sarney, candidata ao governo maranhense.

Na carta, Conceição conta que já apoiou José Sarney. Foi nas eleições para governador de 1965. Nessa época, ele era presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Pindaré Mirim. Já havia sido preso e torturado pela ditadura militar. O candidato Sarney prometia aliar-se aos trabalhadores na luta contra o governo militar. Conceição acreditou. Sarney se elegeu.

Em 1968, Manoel foi atingido na perna por balas da polícia militar. Jogado na prisão, ficou sem tratamento. A perna gangrenou e teve que ser amputada. Sarney se limitou a oferecer uma perna mecânica em troca de apoio a seu governo. O camponês recusou. Respondeu que sua perna tinha sido arrancada pela polícia militar do seu governo. “Portanto, diz ele na carta, minha perna era responsabilidade da classe que eu representava, minha perna era a minha classe”.

Lula, seu governo, a direção de seu partido, andam ferindo gravemente a história que construíram ao lado de milhares de lutadores dignos como Manoel da Conceição. Na companhia de gente como Sarney começam a gangrenar. É doloroso, mas a classe trabalhadora saberá sacrificar seus membros arruinados.

9 de junho de 2010

Aldo Rebelo de moto-serra em punho

Está em debate no Congresso relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que defende mudanças no Código Florestal. Para o deputado, a lei prejudica o agronegócio brasileiro. Se é que pode ser chamado assim um setor dominado por ADM, Bunge, Cargill, Dreyfus e Monsanto.

No entanto, não falta lugar pra plantar. É o que mostra pesquisa recente da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da USP. O estudo diz que o volume de terras boas para a agricultura é de 61 milhões de hectares (Mha). Metade disso está ocupada por pastagens.

O fato é que a criação de bois no Brasil ocupa muito espaço. No total, são 211 Mha para a produção de carne. A média de cerca de 1 boi por hectare é muito alta. Pode ser baixada, prejudicando menos o ambiente e abrindo espaço para o plantio. Principalmente, para a agricultura familiar.

Desse modo, esses 61 milhões de hectares poderiam ser utilizados para dobrar a área de plantio sem mexer no Código Florestal.

Para concluir, o estudo da ESALQ diz que o Código Florestal permite 104 Mha de desmatamento legalizado. Ou seja, é preciso mudá-lo, sim. Mas, para torná-lo mais rigoroso.

Rebelo contou com assessoria de uma consultora jurídica que presta serviços ao agronegócio. É da base de apoio do governo federal, que acaba de dar R$ 116 bilhões aos ruralistas. A turma da moto-serra agradece.

8 de junho de 2010

Ensaboa, negra, ensaboa...

Na edição do jornal O Globo de 06/05, Ancelmo Gois publicou uma nota com o título “Ensaboa, Mulata”. Referência a uma bela música de Cartola. Diz a matéria que em 1872, mais de 24% das escravas faziam trabalho doméstico. E que em 2010, cerca de 23% das mulheres negras ainda trabalham em serviços domésticos. São dados do Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, do Instituto de Economia da UFRJ.

Marcio Pochmann, presidente do Ipea, já disse que uma das formas de medir o nível de desigualdade de uma sociedade é a proporção de trabalho doméstico empregado. Quanto mais gente lavando carros, empurrando carrinhos de bebê, abrindo portões, cozinhando e passando, menor a distribuição de renda. Uma espécie de reciclagem da escravidão, já que os encarregados de tais funções são quase sempre negros.

Na capa da mesma edição de O Globo há uma foto que remete a uma matéria sobre cabeleireiros de luxo. Lugares em que o corte de cabelo pode chegar a R$ 250,00. A imagem mostra um salão de beleza da zona sul do Rio. Uma cliente branca é atendida por meia dúzia de mulheres. Todas negras.

7 de junho de 2010

Copa do Mundo: pra torcer e distorcer

A Copa do Mundo vem aí. Muito “oba, oba” nos meios de comunicação. Pouca informação, debate, contextualização. Uma exceção foi o programa “Ver TV”, do Canal Brasil, do dia 06/05. Os convidados eram Sócrates, ex-jogador, e o jornalista José Cruz, do portal UOL.

O apresentador do programa, Laurindo Leal Filho, chamou a atenção para o tipo de cobertura da TV: “Acompanha até o café da manhã dos jogadores, mas nada de debater a situação do esporte no país”. Sócrates afirmou que a TV vende atitude, aparência, comportamento, moda. Mas, é incapaz de vender educação. E vender esporte sem educação é um crime, disse ele.

Segundo o ex-jogador, tudo se resume a construir estádios e ginásios caríssimos, que viram elefantes brancos. Enquanto isso, está no Congresso uma proposta de revisão da Lei Pelé. Sócrates disse que a lei ainda pode ficar ainda mais suave para os administradores irresponsáveis ou corruptos dos clubes. Além disso, já foi dado sinal verde para obras para a Copa de 2014, sem necessidade de licitações.

José Cruz lembrou que o tal “legado” do PAN 2007 continua revelando prejuízos aos cofres públicos. Como exemplo, citou 880 aparelhos de ar-condicionado novinhos, ainda na caixa. Seriam usados no evento, mas foram encontrados num galpão após seu encerramento.

Nada disso aparece na voz irritante de um Galvão Bueno. Enquanto a multidão torce, a grande mídia faz sua parte. Distorce uma paixão popular para favorecer os cartolas do esporte, da política e do capital.

4 de junho de 2010

Pacote de maldades: homofobia racista

Em 2009, a Fundação Perseu Abramo realizou uma pesquisa sobre preconceito contra gays. O estudo mostrou que 26% dos brasileiros admitem discriminar homossexuais.

Em 2003, a pesquisa “Discriminação Racial e Preconceito de Cor no Brasil”, do Datafolha, revelou que somente 4% dos pesquisados disseram ter preconceito de cor.

Pesquisas são recortes da realidade. Dizer que não tem preconceito é bem diferente de realmente não tê-lo.

Mas é relativamente fácil notar que o racismo é bem menos aceito socialmente que a homofobia. É muito comum o uso de termos como “viadinho”, “bichinha”, “bicha louca”. Já chamar alguém de “negro safado” ou “preto vagabundo” pega muito mal.

Por outro lado, as vítimas do racismo costumam receber o apoio da família. As vítimas da homofobia não têm a mesma garantia. Ser homossexual, branco e com dinheiro não traz imunidade contra discriminação. Mas o tratamento costuma ser menos violento.

Duro mesmo é ser gay, negro e pobre. O problema maior é que a resistência à perseguição sofrida em cada uma dessas condições acontece de forma isolada. Cada setor tenta reagir sozinho à parte que lhe cabe nesse pacote de maldades. Os poderosos, que fizeram o embrulho, agradecem.

2 de junho de 2010

Seguros não cobrem revoluções

Leia baixo uma cláusula sobre riscos não cobertos por uma apólice-padrão para seguro residencial:

“Atos de hostilidade ou de guerra, rebelião, insurreição, revolução, motim, confisco, greve, nacionalização, destruição ou requisição decorrentes de qualquer ato de autoridade de fato ou de direito, civil ou militar, e, em geral, todo ou qualquer ato ou conseqüência dessas ocorrências, bem como atos praticados por qualquer pessoa agindo por parte de, ou em ligação com qualquer organização cujas atividades visem a derrubar pela força o governo ou instigar a sua queda, pela perturbação de ordem política e social do país, por meio de atos de terrorismo, guerra revolucionária, subversão e guerrilhas.”

Se o mercado segurador está preocupado com esse tipo de “sinistro”, podemos ficar mais otimistas.

1 de junho de 2010

Duas Conclats, dois caminhos

Acontece hoje a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, no Pacaembu. Em 6 e 7 de junho será realizado o I Congresso das Classes Trabalhadoras, em Santos. Ambos adotaram o nome Conclat.

Conclat é como ficou conhecido o histórico encontro sindical realizado, em 1981. Nele, decidiu-se pela criação de uma central que unificasse o movimento. Rompesse com a ditadura e sua estrutura sindical. Por isso, a parte pelega do movimento se retirou do evento.

Em 1983, nascia a CUT. Os pelegos preferiram fundar a CGT, com apoio do governo Sarney. Depois, alguns deles se juntaram a Collor e criaram a Força Sindical.

O evento de São Paulo é promovido pelas centrais oficiais, incluindo a CUT. Conta com dinheiro do imposto sindical, apoio do governo, patrocínio de empresas. Em Santos, estarão presentes entidades contrárias ao governo federal e sua política de conciliação com os patrões.

A Conclat do Pacaembu junta novamente alguns fundadores da CUT e os antigos pelegos. Unidos na defesa da dependência do Estado, suas contribuições obrigatórias e oferta de cargos. Favoráveis a um governo apoiado em figuras como Sarney e Collor. Caminho fácil da rendição.

O Conclat de Santos quer fundar uma nova central para retomar a luta abandonada pela CUT. Não será nada fácil. Caminho duro da resistência.