Doses maiores

6 de abril de 2023

Os socialistas lutam contra todo tipo de opressão

A consciência da classe trabalhadora não pode ser uma consciência política genuína, a menos que os trabalhadores sejam educados a responder a todos os casos de tirania, opressão, violência e abuso, não importa qual classe seja afetada - a menos que sejam orientados, além disso, a responder de um ponto de vista socialista.

As palavras acima são de Lênin. Foram transcritas por Ahmed Shawki em seu livro “Libertação Negra e Socialismo”. Com essa citação, o autor procura enfatizar que é obrigação de todo militante socialista dar combate a qualquer tipo de opressão.  

Ao mesmo tempo, Shawki considera equivocado priorizar a luta contra as opressões, ignorando a importância fundamental do combate à exploração.

Em primeiro lugar, afirma ele, porque não há unidade necessária ou imediata entre grupos de oprimidos. Em segundo lugar, os movimentos dos oprimidos não têm poder social real para transformar fundamentalmente o sistema, a menos que se transformem em um movimento que também inclua os explorados em geral. Isto é, a menos que sejam aliados ou se tornem parte do movimento dos trabalhadores, único que pode defender as demandas dos todos os explorados e oprimidos.

O marxismo tem dado importante contribuição no sentido de unir as lutas contra a exploração ao combate a opressões como o racismo. No caso dos Estados Unidos, Shawki acredita que as limitações da tradição socialista em relação à libertação negra são, em parte, uma expressão da escassez no país das tradições e políticas do marxismo revolucionário. São essas tradições que ele considera necessário resgatar e fortalecer.

Haverá uma pausa nas doses até maio.

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Panteras Negras, sua bravura e limitações

Nos Estados Unidos, nos anos 1960, a luta negra encontrou uma de suas manifestações mais radicais no Partido dos Panteras Negras, surgido em Oakland, Califórnia.

Adeptos das ideias de Marx, os Panteras foram muito influenciados pelo maoísmo. Na verdade, uma concepção que, segundo afirma Ahmed Shawki em seu livro “Libertação Negra e Socialismo”, é uma forma distorcida de marxismo.  

Exemplo dessa distorção seria o que disse Huey Newton, uma de suas principais lideranças: “As massas buscam constantemente um guia, um Messias, que as liberte das mãos do opressor”. Como lembra Shawki, Marx pensava o contrário. “Os educadores devem ser educados”, disse ele, ao contestar as formas elitistas de socialismo.

O autor lembra outras limitações políticas dos Panteras que contribuíram para seu declínio. Uma das mais importantes teria sido a aceitação de uma noção semi-militarista da política. Tal ênfase teria facilitado o trabalho de repressão violenta à organização.

Além disso, os Panteras atribuíam aos despossuídos e marginalizados o papel de principal força revolucionária no lugar da classe trabalhadora. Tal concepção tornou a organização instável, diz o autor. A precariedade social de grande parte da militância tornava difícil estabelecer rotinas consistentes. Além disso, afastou o partido do operariado, força social fundamental para combater o capitalismo racista estadunidense.

Apesar dessas limitações, os Panteras exerceram grande influência junto à militância negra. Sua bravura e compromisso com o combate antirracista atraiu a ira dos supremacistas estadunidenses. Por isso, o FBI criou um poderoso programa de contra inteligência e sabotagem para destruir a organização. A repressão foi brutal porque era necessário enviar uma mensagem assustadora a todos os militantes da luta negra.

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Malcolm e King, lutadores da libertação negra
O partido das Panteras Negras

4 de abril de 2023

Malcolm e Martin, lutadores da libertação negra

Malcolm X e Martin Luther King Jr. partiram de posições políticas muito diferentes, diz Ahmed Shawki em seu livro “Libertação Negra e Socialismo”. Mas nos meses anteriores ao assassinato de cada um, afirma ele, tiraram conclusões muito semelhantes sobre o caráter do sistema e as limitações das reformas sob o capitalismo estadunidense.

Fundamentalmente, eles entenderam que os Estados Unidos precisavam de uma profunda transformação estrutural para que a opressão racista fosse superada.

King passou a questionar a tática da não-violência diante da enorme truculência racista, tanto estatal como paraestatal. Tanto em seu país como no mundo. No discurso “Por que me oponho à guerra no Vietnã”, proferido em abril de 1967, ele afirmou:

A imprensa nos aplaudiu quando decidimos nos sentar em lanchonetes sem violência. Nos aplaudiu quando aceitávamos a repressão policial sem reagir nas passeatas. (...) Mas nos condenou quando dissemos aos soldados estadunidenses: “Não usem violência contra as crianças vietnamitas”.

Após o massacre de Selma e as mudanças na legislação eleitoral que restringiam o voto da população negra, King afirmou: “Entramos em uma era de revolução. Toda a estrutura da vida americana deve ser mudada”. Também disse que o maior provedor de violência no mundo hoje era “meu próprio governo”.

Em 1968, Martin Luther King Jr. foi assassinado em Memphis, Tennessee, três anos depois do mesmo ter acontecido com Malcolm X. Ambos foram eliminados no momento em que começavam a desafiar as próprias raízes da desigualdade econômica e racial construída na sociedade americana.

Por isso, conclui Shawki, quaisquer que fossem suas diferenças, ambos, de maneiras distintas, se destacam como grandes lutadores pela libertação negra.

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3 de abril de 2023

Malcolm X contra o capitalismo abutre e racista

Um dos personagens mais importantes do livro “Libertação Negra e Socialismo”, de Ahmed Shawki, é Malcolm X.

A militância antirracista de Malcolm começou no islamismo. Mas, em 1964, ele rompeu com a fé islâmica, condenando a política de conciliação com o sistema racista defendida por seus líderes. Ao mesmo tempo, cobrava maior radicalidade do movimento pelos direitos civis.

Segundo ele, para derrotar o racismo seria preciso uma revolução.  E como “não pode haver revolução sem derramamento de sangue, é absurdo descrever o movimento pelos direitos civis como uma revolução”.

Malcolm chegou a defender o nacionalismo negro, em que os afrodescendentes administrariam seus próprios negócios e interesses coletivos, separados dos brancos.

Mas após visitar países da África, também em 1964, começou a argumentar que a luta negra nos Estados Unidos fazia parte de uma luta internacional, conectada ao combate contra o capitalismo e o imperialismo.

O passo seguinte foi argumentar em favor do socialismo:

É impossível um branco acreditar no capitalismo e não acreditar no racismo. Você não pode ter capitalismo sem racismo. E quando você encontra alguém que garanta não ser racista em sua visão de mundo, geralmente essa pessoa é socialista ou sua filosofia política é o socialismo.

Ele passou a defender uma ampla aliança dos explorados e oprimidos sem distinção de cor, filosofia política, econômica ou social, desde que o objetivo fosse “destruir o sistema abutre que tem sugado o sangue dos negros neste país”.

Infelizmente, diz o autor, Malcolm foi assassinado antes que pudesse desenvolver plenamente seus pontos de vista políticos. Na próxima pílula, outro personagem fundamental: Martin Luther King.

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