Doses maiores

17 de janeiro de 2018

Os bolcheviques e a liberação sexual

O título acima é de um artigo de Noel Halifax, publicado na revista marxista “Socialismo Internacional”, em 13/10/2017. O autor é membro do Partido Socialista dos Trabalhadores inglês e militante do movimento LGBT.

Ainda sem tradução do inglês, o texto combate a ideia muito corrente de que a política dos líderes da Revolução Russa para a sexualidade era homofóbica.

O artigo diz, por exemplo, que nos anos 1920, os bolcheviques se juntaram à Liga Mundial de Reforma Sexual, sendo seus maiores apoiadores. Em um dos encontros da Liga, o delegado russo Grigorii Bakkis descreveu a legislação soviética sobre homossexualidade desse modo:

...o Estado e a sociedade não devem, em absoluto, interferir em assuntos sexuais, desde que ninguém seja ferido ou tenha seus interesses prejudicados. Sobre homossexualidade, sodomia e várias outras formas de satisfação sexual que a legislação europeia considera ofensas contra a moralidade, as leis soviéticas as trata exatamente da mesma maneira como as relações sexuais ditas "naturais".

Além disso, um dos principais psiquiatras do início da União Soviética, Lev Rozenstein, foi responsável pela criação de cursos e programas de educação sexual que visavam ajudar os “pacientes” a aceitarem seu desejo pelo mesmo sexo. A lei soviética também permitia que mulheres adotassem nomes masculinos e vivessem como homens.

É verdade que as leis russas voltariam a criminalizar a homossexualidade em 1934. Mas, aí, já se tratava de mais uma das muitas derrotas impostas pela contrarrevolução stalinista às conquistas de Outubro. Mais uma traição às preocupações libertárias dos bolcheviques.

Leia também: Os bolcheviques contra a família e por liberdade sexual

4 comentários:

  1. Como gostaria de saber como se daria a continuidade da revolução russa se não existisse a contrarrevolução. Sergio, imagino sua resposta: eu também. Acertei? Mesmo que não fosse tão alvissareira como se apresentou nos seus primórdios, mas imagino que poderia, pelo menos, ser uma possibilidade com mais esperança.

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  2. Sim, o problema é que tanto Lênin como Trotsky disseram várias vezes que sem revoluções na Europa, a Revolução Russa estaria condenada. Mas provavelmente não esperavam que a derrota surgisse de dentro, impulsionada pelo feroz cerco de fora. O que Stálin fez foi transformar um processo que pretendia disparar uma revolução internacional anticapitalista em uma construção nacional, que por força de sua energia original logo se transformou em expansão com peso mundial. O que Stálin fez foi terrível do ponto de vista da luta pelo socialismo e das liberdades mais básicas, mas acabou sendo uma alternativa "realista" do pior tipo.
    Abraço!

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  3. É, entendo. Fico em dúvida sobre esta visão que Lenin e Trotsky tinham de que a revolução só seria possível se fosse internacional. Não sou contra, só que não sei se deveria dar este peso exclusivo, visto que (isso podemos dizer com certeza) não ocorreu. Ou seja, o que estes senhores fariam diante disso. Poderíamos apontar uma falha desta visão. Quanto a Stalin acho que nem se deve comentar.

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  4. Bom, quando se fala em revolução internacional, não se quer dizer que teria que ser um acontecimento único, ou simultâneo. Seria impossível, já que o capitalismo se desenvolve de forma desigual e provoca contradições e respostas desiguais também. O processo é que teria que se internacionalizar, mesmo que em ritmos diferentes. Mas o mais importante era que havendo revoluções na Europa, ou mesmo uma só revolução, dificultaria muito o cerco imperialista à república soviética. Não acontecendo, os imperialistas ficaram liberados pra castigar a Rússia. Mais ou menos isso.

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