Elio Gaspari publicou
o seguinte em sua coluna de 03/01/2018, no Globo:
A
descriminalização da maconha é um tema da agenda do século 21. Já o direito das
mulheres ao aborto foi tema do 20, ainda divide a sociedade americana e
prevaleceu em dezenas de países. E os temas do 19? Estão diante dos olhos de
todos os brasileiros quando leem ou ouvem que a polícia subiu um morro e matou
"dois suspeitos".
(...)
Há
um Brasil que é pouco ouvido e mal-entendido, mas que está aí, não poderá se
mudar para Miami, e em outubro irá às urnas. 53% dos entrevistados com renda
superior a dez salários mínimos defendem a legalização da maconha e 70% querem
a descriminalização do aborto. Na turma que anda de ônibus (até dois salários
mínimos), o quadro inverte-se e só 26% concordam com as duas propostas.
Moralista, essa faixa da população é a mais afetada pelo que resta da agenda do
19.
São contradições como
essas que podem ajudar a entender o que está por trás das divergências entre a
esquerda “tradicional” e os movimentos ditos “identitários”. Um choque entre
pautas de lutas que deveriam convergir.
Mas nada
disso é necessariamente novo ou localizado. Trotsky, por exemplo, trabalhou o conceito de
“desenvolvimento desigual e combinado”, segundo o qual relações e estruturas
ultramodernas não apenas convivem como dependem da permanência do que há de
mais arcaico.
Foi com base nessa compreensão do desenvolvimento capitalista que Trotsky e seus camaradas encontraram
suas saídas. Fizeram uma revolução num país que era a quinta economia da época,
com mais de 90% de analfabetismo.
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