Doses maiores

14 de setembro de 2022

O único deus que ainda não conheceu um ateu

Paul Lafargue era casado com Laura Marx, filha de Karl e Jenny. Sua obra mais conhecida é “O Direito à Preguiça”. 

Mas está sendo lançado no Brasil o livro “A Religião do Capital”. Publicada em 1886, a obra faz uma paródia satírica do sistema capitalista. Principalmente, de sua dominação impiedosa sobre os explorados e oprimidos.

Lafargue imagina a realização de um Congresso em Londres, no final do século 19, reunindo os mais poderosos homens do mundo a serviço do capital. O objetivo do encontro seria buscar os meios mais eficazes para deter a perigosa invasão das ideias socialistas.

Estão presentes governantes como Salisbury, Chamberlain e Randolph Churchill. Bismarck teria faltado por causa de uma crise alcoólica.

Também compareceram grandes industriais e banqueiros como Vanderbilt, Rothschild, Gould, Soubeyran, Krupp, Dietz-Monin, Schneider...

Em certo momento, um dos participantes declara com ênfase:

A única religião que pode atender às necessidades do momento é a religião do Capital. O Capital é o verdadeiro Deus, presente em todos os lugares, manifesta-se em todas as formas – é ouro deslumbrante e migalha fedorenta, rebanho de ovelhas e carregamento de café, estoque de Bíblias sagradas e fardos de gravuras pornográficas, gigantescas máquinas com grandes chassis ingleses. O capital é o Deus que todos conhecem, veem, tocam, cheiram, provam. Ele existe para todos os nossos sentidos. Ele é o único Deus que ainda não conheceu um ateu.

Cristãos, judeus e adeptos de outras religiões bateram palmas e gritaram: "Tem razão. O capital é Deus, o único Deus vivo!"

Há uma versão integral, em francês, aqui. Em breve, mais trechos desse texto instigante.

Leia também: Queremos a preguiça de Deus

2 comentários:

  1. Esse Paul Lafargue era um grande debochado. O Marx não gostava dele, né?

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    1. Não gostava dele e dos outros genros porque tinham um estilo de vida muito parecido com o dele. Muita dedicação à militância e dificuldades com as questões mais básicas de sobrevivência, principalmente. Não queria ver suas filhas sofrendo mais privações do que já vinham sofrendo com ele. Sobre o Lafargue, chegou a fazer comentários racistas em cartas devido à origem "mestiça" dele, que era cubano de nascimento. Coisa feia, mas muito pontual, já que em seus escritos teóricos não há qualquer sinal de racismo.

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