Doses maiores

8 de março de 2025

O que deixamos de aprender com Trotsky

Trotsky dizia que aprendeu tudo o que precisava saber sobre uma organização revolucionária com cinco trabalhadores. Um deles sempre foi um militante socialista, defensor intransigente dos oprimidos, à frente de qualquer luta dos explorados. Outro deles era um reacionário nato. Havia nascido e morreria sendo um fura-greve. Mas, os outros três trabalhadores não eram nem revolucionários nem reacionários. Às vezes, eram influenciados pelo reacionário, às vezes, pelo revolucionário. Ficavam no meio dos dois, sempre em disputa.

Segundo Trotsky, o objetivo de uma organização revolucionária é empurrar os trabalhadores que ficam no meio para perto do militante revolucionário. E oferecer a este organização, consciência e conhecimento sobre as tradições de luta. Elementos que lhe permitam conquistar os trabalhadores em disputa e isolar a direita.

O fascismo, especialista em espelhar e distorcer os métodos socialistas a favor de seus objetivos, faz o mesmo trabalho de isolar a militância de esquerda e empurrar as pessoas que vacilam para perto de suas organizações. Mas com uma grande diferença. O fascismo conta com um ecossistema social e político extremamente favorável. Esse ambiente propício surgiu de décadas de domínio ideológico do neoliberalismo e de um Estado omisso ou cúmplice em relação aos crimes do fascismo. Mas também, e principalmente, das contradições internas dos setores explorados e oprimidos, que os levaram a abandonar o terreno de combate e a ser derrotados em várias frentes de luta.

O que Trotsky defendia não era mais do que a necessidade de travar uma disputa de hegemonia com as classes dominantes que vá muito além das disputas eleitorais e da ocupação de postos governamentais.  

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6 de março de 2025

Combate às drogas espalha criminalidade e violência social

Em editorial publicado em 24/02/2025, o Globo afirma ser “alarmante a diversificação das atividades do crime organizado, constatada em relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Embora o tráfico de armas e drogas continue sendo um negócio central para os criminosos, continua o texto, a receita obtida com a venda ilegal de diversos outros produtos é muito superior”.

Em seguida, afirma que:

A atuação nos mercados ilegais de ouro, combustível, bebidas, tabaco e cigarros - à margem do Fisco e sem qualquer controle de qualidade rendeu R$ 147 bilhões às organizações criminosas em 2022, ante R$ 15 bilhões faturados no tráfico de cocaína. Entre julho de 2023 e julho de 2024, (...) elas ganharam ainda mais dinheiro com outra atividade que anda em alta: faturaram R$ 186 bilhões em golpes digitais, furtos e roubos de celulares crimes que se complementam.

Agora, que a venda ilegal de drogas já os alavancou financeiramente, traficantes e milicianos podem se dedicar a muitas outras atividades. O combate à legalização das drogas não só não as eliminou, como ampliou a presença da criminalidade em diversas atividades legalizadas.

Parabéns a todos os envolvidos, incluindo o jornalão carioca. Ironias à parte, o objetivo das políticas de combate às drogas nunca foi diminuir seu comércio, mas reforçar a repressão policial-militar contra pobres e não brancos e encher os cárceres com pessoas dessa parcela da população.

Os conservadores gostam de dizer que os entorpecentes leves são a porta de entrada para os mais pesados. Mas é a brutalidade do combate às drogas que escancarou o caminho para a brutalização da vida social.

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