Doses maiores

14 de dezembro de 2011

A falência da grande fábrica soviética

Em dezembro de 1991 a União Soviética chegava ao fim. Pouco a comemorar. Por um lado, nos livrávamos de um monstrengo que o senso comum aprendeu a identificar com socialismo e comunismo. Por outro, sua desaparição passou a simbolizar a vitória do capitalismo.

E em 1847, um documento da Liga Comunista, organização da qual participavam Marx e Engels, declarava:
Não estamos entre aqueles comunistas que pretendem destruir a liberdade pessoal, transformar o mundo em um imenso quartel ou em uma gigantesca casa de correção (...) não queremos de forma alguma trocar a liberdade pela igualdade.
A definição se adéqua bem ao que acabou se tornando a União Soviética depois que Stalin assumiu o poder. Na verdade, o imenso país passou a ser dirigido como se fosse uma grande fábrica. Sob forte disciplina, sem liberdade, com muita exploração e usando os heróicos atos da revolução de 1917 como ideologia para manter o poder. De socialismo, só o nome.

Tratava-se de um capitalismo fortemente dirigido pelo Estado e de um Estado sob controle de uma classe burocrática. Era o capitalismo burocrático de Estado. Seu fim foi uma espécie de falência da grande fábrica.

É o que defendem autores como o marxista inglês Tony Cliff, que escreveu “Capitalismo de Estado na União Soviética” em 1955. Infelizmente, ainda sem tradução para o português.

Até hoje, esta definição não é consensual na esquerda. Muitos seguidores de Trotsky, por exemplo, consideram que a União Soviética era um Estado operário degenerado. Mas já em 1951, a própria viúva de Trotsky manifestou posição diferente. Em carta à direção da IV Internacional, Natalia Sedova Trotsky afirmou:
Obcecados por fórmulas velhas e ultrapassadas, vocês continuam considerando o Estado stalinista como um Estado operário. Eu não posso e não acompanharei vocês nisto. Praticamente todos os anos depois do começo da luta contra a burocracia stalinista usurpadora, Trotsky repetia que o regime estava se movendo para a direita, sob as condições de uma revolução mundial morosa e a conquista de todas as posições políticas na Rússia pela burocracia. Repetidas vezes ele mostrou como a consolidação do stalinismo na Rússia conduzia ao agravamento das posições econômicas, políticas e sociais do proletariado, e ao triunfo de uma aristocracia tirânica e privilegiada. Se esta tendência continuar, disse, a revolução chegará a um fim e a restauração do capitalismo será alcançada.
Mas o pior mesmo são as viúvas do stalinismo. Cada vez mais numerosas e desavergonhadas. A reforçar uma visão autoritária e estatal do socialismo. É tudo o que a direita precisa.

Leia também: Soviéticos ontem, chineses hoje e a crise capitalista

3 comentários:

  1. Nada em comum Brasil e Russia!

    Ratos e Queijos

    http://conceitosprovocacoes.blogspot.com/2011/12/os-ratos-e-os-queijos.html

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  2. As colocações feitas pelo autor do site são absolutamente fora de contexto e cheias de senso comum. É muito simplismo chegar e dizer que "a URSS não tinha liberdade de expressão". Como não tinha, se havia milhares de periódicos de sindicatos e de organismos da juventude vacinados contra a influência grande capital?
    Liberdade nem sempre é uma coisa necessariamente boa e jamais deve ser absoluta, foi o excesso de liberdade que permitiu que nos EUA surgisse o Ku Klux Klan, foi o excesso de liberdade que permitiu que na Alemanha surgisse o Partido Nazista, foi o excesso de liberdade que permitiu que na África do Sul surgisse o regime do Apartheid.
    Na URSS, país que restringia liberdades, não tivemos nenhum movimento do tipo, pelo contrário, o racismo podia ser punido com fuzilamento ou o envio a campos de trabalho. Não vejo nenhum problema nisso. Ademais, por ser o primeiro país socialista, este sofreu com a interferência de agentes de potências estrangeiras. Será que o autor do site é utópico a ponto de acreditar mesmo que uma potência como a Alemanha ou Inglaterra ficaria assistindo de braços cruzados o socialismo ser construído? Que empresários como os da Bayer ou do complexo militar industrial norte-americano deixariam o socialismo crescer em paz sem usar-se de agentes internos? O autor deste site deveria ler um pouco de Sun Tzu, especialmente no que toca ao "emprego de agentes internos".
    O fim da URSS tem a ver com o abandono de princípios socialistas que se deu desde o XX Congresso do PCUS em 1956, o abandono da luta em vários países, a pressão do imperialismo e a inaptidão dos comunistas para remover a tempo os revisionistas do poder em fins dos anos 80.
    A URSS de Stalin nada tinha a ver com um "grande quartel", tinha a ver com um país que estava prestes a ser invadido e tinha que se defender. Se um criminoso diz que vai te espancar você não fica de braços cruzados esperando, você se prepara, treina uma arte marcial para se defender. Isso foi feito na URSS, além de ter sido garantido aos trabalhadores moradia, saúde e educação gratuitas. O país no mundo que mais produzia livros era a União Soviética, o que acabou mais rapidamente com o analfabetismo também. O primeiro país a criar uma lei que punia a prática de racismo também foi a URSS na era de Stalin, em 1936.
    A queda da União Soviética só trouxe um enorme prejuízo para a vida de milhões de trabalhadores e tornou o mundo unipolar, sob o nefasto domínio do imperialismo.

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  3. Partimos de concepções bastante diferentes sobre socialismo e liberdade. Para a luta revolucionária, liberdade nunca é excessiva, por exemplo. De qualquer maneira, obrigado pelo comentário.

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