Um último comentário sobre o livro “The End of Love”, de Eva Illouz. Trata-se de destacar que as contradições causadas pela “liberdade sexual” apontadas pela obra não são as mesmas em toda a sociedade.
É o caso daquela parcela que continua a acreditar em relações amorosas estáveis, família nuclear e em valores religiosos e tradicionais. Os valores ideológicos predominantes nesses grupos mostram a "liberdade sexual" como comportamento pecaminoso, desordem familiar ou desorientação moral.
Por outro lado, há um número muito grande de famílias monoparentais nas periferias pobres das grandes cidades do País. Nelas, as mulheres são as únicas responsáveis pela sustentação econômica e educação das crianças. Nesses casos, fica difícil falar em "opções negativas", já que as escolhas emocionais a que se refere o estudo de Eva muitas vezes simplesmente não estão disponíveis para essas pessoas.
Nesse quadro, a relativa liberdade sexual desfrutada por alguns extratos sociais deveria servir de referência para os setores ainda fortemente oprimidos erótica e emocionalmente, tanto pela opressão conservadora e patriarcal quanto por constrangimentos econômicos.
Mas quando mesmo os setores que obtiveram conquistas aparentemente libertárias também mostram-se tomados por ansiedade, angústia e insegurança, o conservadorismo apresenta-se para justificar a opressão sexual como parte de uma ordem natural e sacramentada pelas tradições.
É desse modo que se poderia explicar em parte a vitoriosa ofensiva ultraconservadora de forças como o bolsonarismo. Não se enfrenta esse tipo de ofensiva, abstendo-se de dar combate ao conservadorismo em todos os extratos sociais. Muito menos, contentando-se com algumas pretensas conquistas presentes em nichos sociais cujas aparentes liberdades comportamentais já foram sequestradas e precificadas pelo mercado.
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