Em seu livro “The End of Love”, Eva Illouz afirma que aquilo que ela chamou de “capitalismo escópico” muda a ecologia das relações íntimas, recicla a sujeição das mulheres e cria uma vasta quantidade de experiências de rejeição, mágoa, decepção, "desamor"...
A referência maior da autora é a crítica presente em “O mal-estar da civilização”. Neste famoso livro, Freud argumenta que a modernidade se caracterizaria por uma falta de adequação entre a estrutura psíquica individual e as demandas sociais colocadas sobre ela. A crítica de Freud, portanto, não parte de uma visão normativa clara, mas indaga sobre o ajuste entre as estruturas sociais e psíquicas.
Se a introspecção e o "eu" não são fontes confiáveis de compromisso e clareza, liberdade por si só não pode gerar sociabilidade e cobra um preço psíquico muito alto dos atores sociais. A fim de gerar solidariedade social a liberdade precisa de rituais. No entanto, esses rituais praticamente desapareceram e foram substituídos pela incerteza.
Eva afirma que não pede um retorno aos valores familiares, à comunidade nem defende a redução da liberdade. No entanto, leva a sério as críticas feministas e religiosas à “liberdade sexual” e afirma que o poder tentacular do capitalismo escópico a utiliza para dominar nosso campo de ação e imaginação, contando com a “indústria psicológica” para gerenciar as muitas brechas emocionais e psíquicas criadas por ela.
E se muita coisa pode ser polêmica neste livro, a frase que o encerra justifica sua leitura: “Se liberdade deve significar alguma coisa, certamente deve incluir o conhecimento das forças invisíveis que nos prendem e nos cegam”.
Leia também: Liberdade sexual: velhas e novas desigualdades
Sergio, gostei dessa última Pílula. A questão do parágrafo final que fico em dúvida, mas valeu. Grande abraço.
ResponderExcluirValeu!
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