Doses maiores

26 de setembro de 2023

Bilionários sem vestígios de humanidade

Nos Estados Unidos, é famosa a história do elevador de comida inventado por Thomas Jefferson para evitar que seus escravizados tivessem que subir as escadas carregando pratos e tigelas. No andar de cima, os comensais tinham apenas que abrir uma portinhola e o jantar estava servido.

Mas a engenhoca não foi criada para poupar as energias dos cativos. O objetivo era preservar os convidados da visão de pessoas bufando e suando. A comida chegava, sem nenhum sofrimento humano visível.

Muitos dos atuais processos tecnológicos são baseados nessa mesma lógica. Na etapa final da montagem dos celulares, por exemplo, os trabalhadores limpam cada unidade com um solvente que remove suas impressões digitais dos aparelhos. O produto pode causar abortos, câncer e reduzir a expectativa de vida de quem os manipula. Mas o que importa é a eliminação de todos os vestígios humanos.

Algumas das grandes inovações da Amazon existem somente para proteger seus clientes da realidade desagradável de seus processos de produção. Os entregadores nem tocam a campainha. Uma foto do pacote na varanda chega automaticamente à sua caixa de mensagens, enquanto Alexa emite um aviso. Não precisamos encarar a pobre alma que dirige o caminhão, muito menos aqueles que correm entre os robôs no galpão.

Robôs não substituem os custos humanos e as condições degradantes de trabalho. Eles os escondem.

As informações acima são do livro “A sobrevivência dos mais ricos”, de Douglas Rushkoff. Convidado a falar para alguns bilionários das big techs, o autor fez esse relato para tentar explicar que tipo de pessoas encontrou pela frente. Gente sem qualquer vestígio de respeito humano.

Leia também: O medo egoísta de bilionários diante do apocalipse

4 comentários:

  1. Não conhecia essa famosa história da invenção do elevador de comida, a minha inocência ia no sentido não de privar o esforço humano, mas de facilitar o transporte. Agora, essa de retirar a digital dos trabalhadores, caso fosse uma dilatação da realidade, muitas vezes usada pelo realismo fantástico, eu ia dizer que exageraram. Eu chego a duvidar pois carece de qualquer sentido lógico, tudo bem não querer ver a cara dos serviçais, agora, quem vai conseguir ver a digital dos trabalhadores nas minúsculas peças de um celular?

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    1. Carece de qual sentido lógico? O nosso. O deles é isso mesmo. E duvido muito que um comprador típico de celular não reclame de encontrar uma impressão digital num celular recém retirado da embalagem.

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    2. Eu não duvidei da informação, mas que é muito louco, isso é. Não sei se rio ou choro, melhor mandar à merda quem pense assim e quem faça por quem pense assim.

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