A menina Júlia,
de oito anos de idade, certa vez foi surpreendida pela mãe diante do espelho do
banheiro, penteando os próprios cabelos, extremamente crespos, com tanta força
que fez com que o seu próprio couro cabeludo sangrasse.
O trecho acima refere-se a uma menina
negra e pertence ao livro “A ralé brasileira”, organizado por Jessé Souza.
Outra passagem refere-se ao suposto “embranquecimento”
de negros bem sucedidos:
Os negros que
ascendem de posição de classe, quanto menos mulatos e mais negroides, mais
vivem “o corpo em desgraça”, o drama existencial de serem em si um paradoxo,
uma disfunção naquilo que nos parece a ordem natural das coisas. Esse é o drama
que a noção de “embranquecimento” nos faz esquecer. O negro que enriquece não
se torna um branco, mas rico como um branco. Seu corpo lhe deixa sob tensão;
sua alma é branca, como diz o ditado popular, mas o corpo não.
Mulher sozinha aqui é como “toco de cachorro mijar”, diz uma moradora de favela, em outro trecho. Para essas mulheres, marido bom seria aquele que cede poucas vezes a seus próprios instintos violentos. Pode protegê-las de “altos riscos de violência, inclusive aqueles oferecidos por ele mesmo”.
Estes são apenas alguns exemplos da
crueldade social que reina entre os mais pobres. Claro que racismo e machismo também
se manifestam em outros setores da sociedade. Mas não com toda essa truculência
crua.
São situações terríveis e humilhantes
não apenas para suas vítimas. Mostram como funciona uma sociedade que afirma
oferecer oportunidades para todos, quando apenas multiplica as chances de
causar dor e injustiça.
Leia também: A miséria do amor dos pobres
Nenhum comentário:
Postar um comentário