Doses maiores

24 de setembro de 2010

Cronópios, outra dose

Os famas, para conservar suas recordações as embalsamam da seguinte forma: depois de fixadas as recordações com cabelos e sinais, as envolvem dos pés à cabeça num lençol negro e colocam paradas contra a parede da sala, com um cartãozinho que diz: “Excursão a Quilmes”, ou: “Frank Sinatra”. Os cronópios, ao contrário, esses seres desordenados e mornos, deixam as recordações soltas pela casa, entre alegres gritos, e eles andam pelo meio e quando passa correndo uma, a acariciam com suavidade e lhe dizem: “Não vá machucar-te”, e também: “Cuidado com os degraus”. É por isso que as casas dos famas são organizadas e silenciosas, enquanto que nas dos cronópios há grande algazarra e portas que batem. Os vizinhos se queixam sempre dos cronópios, e os famas movem a cabeça de forma compreensiva e vão ver se as etiquetas todas estão em seu lugar.

(Do livro “História de Cronópios e Famas”, de Júlio Cortázar)

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