Na fundação do Rio de Janeiro, Estácio de Sá levou a população para fora
dos muros da cidade. Dentro, apenas um porteiro. O fundador bateu três vezes.
Toc, toc, toc. Os portões se abriram e a população entrou graças à gentileza do
todo poderoso fundador.
450 anos depois, há muitos muros ainda. Todos espalhados por dentro da cidade.
À entrada de muitos deles, não adianta bater se você tiver a aparência
considerada inadequada. Nos condomínios de luxo, os portões só se abrem para não
brancos que sejam serviçais devidamente identificados.
Nas favelas não há toc, toc, toc quando portas são derrubadas por botas
militares. Sem ordem judicial ou flagrante, as residências são violadas por que
abrigam pobres e pretos. Uma condição suficiente para ser criminoso em
potencial e forte candidato a agressões ou execuções.
As praias não têm cerca ou porteira. Mas para permanecer nelas os que têm cor da
pele e origem social suspeitas têm que fingir ser inocentes mesmo sendo
inocentes.
Dizem que o Rio é uma “cidade partida”. De um lado, a minoria rica e poderosa.
De outro, a imensidão pobre sem poder. Mas não há cidade dividida quando as
ideias que interessam aos ricos do Leblon, Ipanema, Barra e Recreio predominam
por toda parte.
São preconceitos assumidos como verdades também na Rocinha, Maré, Guadalupe, Costa
Barros, Cidade de Deus. São eles que justificam as mortes e torturas em cada um
e muitos outros desses bairros pobres.
Bang, bang, bang! Morrem pedreiros, adolescentes, bandidos, crianças,
militantes, pessoas. E não há gentileza que seja capaz de gerar gentileza na “Cidade
Maravilhosa”.
Leia também: O
Rio de Janeiro de verdade
Muito bom. Bem visceral.
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