Doses maiores

2 de agosto de 2015

Gramsci, conservadorismo e progressismo em São Paulo

Em 01/08, a Revista Fórum publicou a matéria “São Paulo, muito mais que ‘cidade reacionária’” sobre a pesquisa “Conservadorismo e Progressismo na Cidade de São Paulo”, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a ser lançada em agosto.

O levantamento revelaria uma “metrópole complexa: libertária diante de casamento gay, legalização da maconha ou famílias heterodoxas”. Conservadora em relação a temas como as cotas e maioridade penal.

Os resultados verificados mostrariam que a maior cidade do País não tem vocação conservadora tanto quanto não tende para a rebeldia. Mas, talvez, a pesquisa só confirme aquilo que, graças a Gramsci, já sabíamos em relação a qualquer arranjo social complexo da contemporaneidade.

O revolucionário italiano costumava definir o “senso comum” como “uma concepção fragmentária, incoerente, inconsequente, conforme a situação social e cultural da multidão". Estes elementos formariam um “bom senso” que naturaliza as relações sociais vigentes e desencorajam sua mudança. 

No entanto, fazem parte dessa maçaroca ideológica elementos que podem ser utilizados na luta contra a própria ordem social injusta em que vivemos. Na verdade, somente sua existência possibilita mostrar a incoerência da ideologia dominante e a falsidade da visão de mundo que ela defende.

Ser, ao mesmo tempo, favorável ao casamento gay e à redução da maioridade penal, por exemplo, somente é possível quando o horizonte geral que predomina é conservador. Arrancar do domínio desse horizonte os elementos progressistas e articulá-los a uma concepção emancipadora é tarefa dos revolucionários.

A isto Gramsci chamou disputa de hegemonia. E seu ponto de partida é a recusa em aceitar qualquer sociedade como sendo essencialmente conservadora ou inevitavelmente contestadora.

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