Doses maiores

4 de dezembro de 2020

Videogames e socialismo de baixo para cima

Na última pílula sobre o livro “Marx no Fliperama”, de Jamie Woodcok, falávamos sobre o conceito de “socialismo a partir de baixo”. O autor aborda essa ideia ao comentar o game “Civilização”, um sucesso desde que foi lançado, em 1991.

Trata-se de um jogo em que o desafio é criar uma civilização a partir dos primeiros seres humanos, com suas ferramentas primitivas e poucos recursos tecnológicos. Segundo o autor, trata-se de um game particularmente bom para explorar o método materialista de Marx, com suas ligações causais entre produção, repressão, dominação ideológica, etc.

Mas o jogador progride ganhando pontos que são utilizados para dominar seus oponentes. Isso naturaliza o capitalismo, com sua dinâmica de acumulação, imperialismo e conflito, diz ele.

Sistemas alternativos de governo estão disponíveis, mas em vez de uma futura sociedade sem classes, formada por pessoas emancipadas, prevalece um modelo de forte produção, militarização social e planos quinquenais. Tudo muito parecido com o que existia na Rússia stalinista.
 
Nesse momento, nosso autor lembra o conceito de “socialismo de baixo para cima”, criado por Hal Draper, segundo o qual, ao contrário da ideia do "socialismo construído a partir de cima" o "socialismo a partir de baixo" é o único que realmente interessa aos explorados e oprimidos, pois é por eles construído, "em uma luta para assumir o comando de seu próprio destino, como verdadeiros atores no palco da história”.

No entanto, admite Woodcock, introduzir este tipo de sistema em “Civilização” seria muito difícil, pois significaria que o jogador renunciaria ao controle de suas “massas virtuais”. Algo que, admitamos, até muitos dos próprios socialistas relutam em fazer.

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