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2 de setembro de 2021

Liberdade sexual: velhas e novas desigualdades

As afinidades entre relacionamentos negativos e capitalismo escópico são o principal fio condutor deste livro, diz Eva Illouz, em “The End of Love”.

Mas a título de resumo, podemos afirmar que “relacionamentos negativos” dizem respeito “às maneiras pelas quais as relações íntimas, a sexualidade e a família refletem as características apropriadas do mercado, das práticas de consumo e dos locais de trabalho capitalistas”.

Para Eva, no casamento tradicional homens e mulheres eram (mais ou menos) emparelhados horizontalmente (dentro de seu grupo social) e visavam maximizar a propriedade e a riqueza. Já nos mercados sexuais contemporâneos, homens e mulheres combinam de acordo com o capital sexual, para uma variedade de propósitos (econômicos, hedônicos , emocionais). Muitas vezes vêm de diferentes grupos sociais e origens (culturais, religiosas, étnicas ou sociais) e frequentemente trocam atributos assimétricos (por exemplo, beleza vs. status social).

Também é importante destacar que, segundo ela, o capitalismo escópico gera diferentes formas de valor econômico e social para homens e mulheres. Por meio do mercado de consumo, as mulheres preparam seus corpos para produzir valor, ao mesmo tempo econômico e sexual, enquanto os homens consomem a produção feminina de seu valor sexual como marcadores de status em arenas de competição masculina.

Por ter sido atrelada aos objetivos e interesses do capitalismo escópico, afirma a autora, a liberdade sexual aprofunda as desigualdades, algumas das quais o precederam (desigualdades de gênero), enquanto outras foram criadas por ele. Tanto umas como outras têm efeitos negativos suficientes para fazer da busca da liberdade um objetivo que traz consequências inquietantes, conclui Eva.

Concluiremos na próxima pílula.

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